Boulos é maior beneficiário de empate triplo mantido em São Paulo
A nova pesquisa Datafolha sobre a corrida eleitoral em São Paulo, divulgada nesta quinta-feira (5), aponta para a manutenção de um empate triplo na liderança. O deputado Guilherme Boulos (PSOL) tem 23%, um ponto percentual a mais que o prefeito Ricardo Nunes (MDB, 22%) e o ex-coach Pablo Marçal (PRTB, 22%).
Como a margem de erro é de três pontos, os três candidatos seguem tecnicamente empatados. A pouco mais de um mês da eleição, esse resultado parece ser mais favorável a Boulos, ainda que seus principais rivais tenham oscilado positivamente. Para chegar a essa conclusão, é preciso comparar a nova sondagem com as duas anteriores do Datafolha.
A primeira boa notícia para Boulos é que a “onda Marçal” perdeu força. O influenciador de extrema direita, responsável por uma das campanhas mais sujas à prefeitura paulistana, havia saltado de 14% na pesquisa de 6-7 de agosto para 21% no levantamento de 20-21 de agosto.
O crescimento levou Marçal a sair do segundo pelotão e ir para o primeiro, distanciando-se do apresentador José Luiz Datena (PSDB) e da deputada Tabata Amaral (PSB). Usando estratégias digitais proibidas pela legislação eleitoral e conquistando cada vez mais o apoio (declarado ou explícito) de expoentes bolsonaristas, Marçal cresceu à custa das intenções de voto em Ricardo Nunes – que caiu de 23% para 19%.
No novo levantamento, Marçal apenas oscilou um ponto. O intervalo entre cada pesquisa é, em média, de duas semanas. Como o candidato do PRTB passou a ser mais atacado em debates e está fora da propaganda eleitoral em rádio e TV, seu protagonismo na cena eleitoral começa a esvaziar. Além disso, ele já detém a maior rejeição entre os pleiteantes à prefeitura.
Nunes recuperou parte da pontuação perdida. Sua campanha à reeleição tem o maior tempo de TV, um apoio recorde de candidatos a vereadores e o uso despudorado da máquina pública. No entanto, as primeiras debandadas – e, em especial, a traição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – ameaçam sua ida ao segundo turno. Entre os paulistanos que votaram em Bolsonaro no segundo turno da eleição presidencial de 2022, 48% preferem Marçal.
O prefeito tem marcas de governo genéricas, mas nenhuma vitrine que, até o momento, lhe crie um trunfo eleitoral incontestável. Em debates e sabatinas, abusa de números, sem conseguir encaixar um golpe vencedor. Quem começou agosto com 23% e chega a setembro com 22%, a despeito de tantas vantagens iniciais, precisa reconhecer as limitações de sua tática eleitoral.
Para Boulos, agosto foi um mês atípico – um tempo de “atravessar o deserto”. Ele enfrentou duas séries de blitzkrieg – uma nas redes sociais, liderada por Pablo Marçal, e outra nas ruas, comandada sobretudo por Ricardo Nunes. Sobraram fake news com toda sorte de acusações, envolvendo drogas, Hamas, crimes e outras inverdades.
Ainda assim, sua candidatura demonstrou resiliência e manteve o patamar de liderança. É como se Boulos tivesse, agora, uma noção mais clara de seu piso eleitoral – algo em torno de 20% – e precisasse organizar os próximos passos da campanha numa direção mais assertiva. Suas intenções de votos não desidrataram. Agora, o desafio é crescer.
A pesquisa espontânea também mostra que o cenário aberto é interessante para Boulos, que, em duas semanas, passou de 17% para 19%. Hoje, Marçal tem 15%, e Nunes, apenas 10% (embora outros 4% afirmem que votarão no atual prefeito, sem saber citar seu nome – quem dera o número). Este é o voto que tende a ser mais cristalizado.
Por tudo isso, Boulos é o maior beneficiário da pesquisa Datafolha. Desmascarar Nunes e Marçal é fundamental para um segundo turno contra qualquer um deles. A campanha, notadamente na TV, terá de conciliar propostas e denúncias, oferecendo ao eleitor de São Paulo um diagnóstico mais confiável sobre as candidaturas em jogo.
Ainda sobre o Datafolha, vale citar que Tabata foi a 9% e, agora, está numericamente à frente de Datena, que marcou 7%. O desânimo da campanha Datena pode levá-lo a “tirar o pé” ou até abandonar a candidatura. Tabata, por sua vez, vê dificuldades para encontrar um posicionamento diante do empate triplo na ponta.
O Datafolha ouviu 1.204 eleitores de terça (3) a quarta (4). A pesquisa foi contratada pela Folha de S.Paulo e pela TV Globo.