Organizações e movimentos sociais venezuelanos manifestam-se por todo o país esta quarta-feira numa grande marcha em apoio ao presidente Nicolás Maduro e para comemorar um mês desde a vitória eleitoral nas eleições de 28 de julho passado. Foto: teleSUR

Nesta terça-feira (27), o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou uma significativa reforma ministerial, trocando oito ministros, incluindo nomes cruciais nas pastas de Petróleo, Finanças e Interior. A mudança ocorre em um contexto de transição política e econômica, apenas um mês após as eleições no país, cujos resultados foram contestados pela oposição.

O jornalista Wevergton Brito, vice-presidente do Cebrapaz (Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz), comentou sobre o clima no país em meio às decisões estratégicas de governo, que avançam apesar da crise com a oposição. Brito, que estava em Caracas como observador das eleições, afirmou que, apesar das contestações da oposição, a base de apoio a Maduro permanece sólida e majoritária. “O apoio social, a base social do governo Maduro é muito consolidada e é majoritária. Claro que a oposição tem força, mas a base social e eleitoral do Maduro é muito consolidada”, afirmou.

Com o início de seu novo mandato em 2025, Nicolás Maduro enfrenta o desafio de responder às demandas tanto de seus apoiadores quanto dos setores da oposição, que ainda mobilizam uma parcela considerável da população. Wevergton Brito acredita que, apesar das dificuldades, Maduro está se preparando para enfrentar esses desafios com o apoio de uma base social sólida e consciente.

O jornalista observou que, apesar da presença de uma oposição forte, a legitimidade do governo Maduro é amplamente reconhecida pela maioria da população, exceto por setores mais radicais da extrema-direita. “Fora do circuito da extrema-direita, não avança essa discussão sobre a legitimidade da eleição do Maduro. Ele ganha a eleição, e tudo indica que as coisas vão se estabilizar”, afirmou Brito.

Ele também ressaltou que, ao contrário dos protestos violentos de anos anteriores, os distúrbios recentes após as eleições foram menos significativos e contaram com a participação de indivíduos em grande parte não eleitores, possivelmente pagos para causar tumulto. “A situação na Venezuela tende a se normalizar. Andei pelo centro do país e vi um clima de total paz, tranquilidade e normalidade”, relatou Brito.

Mudanças estratégicas

Entre as mudanças ministeriais, uma das mais notáveis foi a transferência de Delcy Rodríguez, que deixa o Ministério da Economia e Finanças para assumir o Ministério do Petróleo. Rodríguez, que foi responsável por políticas que conseguiram estabilizar a economia em meio à grave crise e às sanções dos Estados Unidos, agora enfrenta o desafio de aumentar a produção de petróleo do país, com a meta de atingir 3 milhões de barris por dia. Anabel Pereira Fernández, ex-presidente do Fundo de Proteção Social de Depósitos Bancários (Fogade), assume a pasta de Finanças.

O Ministério do Interior, Justiça e Paz será comandado por Diosdado Cabello, figura histórica do chavismo. Cabello, que já ocupou o cargo em 2002, volta ao ministério em um momento de contestação eleitoral e protestos violentos, que resultaram em mortes e prisões. A oposição, que questiona os resultados das eleições, tem organizado manifestações, algumas das quais têm sido dispersadas pelas forças de segurança.

A reforma ministerial também trouxe mudanças em outras áreas, como Educação, que será liderada por Hector Rodriguez, e Educação Universitária, sob o comando de Ricardo Sánchez. Essas mudanças refletem a estratégia de Maduro para fortalecer seu governo em um contexto de desafios internos e externos, preparando-se para seu novo mandato, que começa em 2025.

Com o fim do mandato atual, o presidente venezuelano já se prepara para iniciar um novo período, enfrentando o desafio de responder às demandas de uma oposição que, embora minoritária, ainda mobiliza uma parcela significativa da população. “Maduro está construindo o novo mandato com os desafios que tem pela frente, que é diminuir essa margem”, concluiu Brito, destacando a importância de consolidar a paz e a unidade na Venezuela nos próximos anos.

Apoio interno e externo

Em meio a uma viagem cansativa, que incluiu múltiplas conexões internacionais (passando por Lisboa!) devido ao fechamento de rotas aéreas, Wevergton compartilhou suas impressões sobre a realidade venezuelana. Durante sua estada, ele acompanhou a segunda edição da consulta popular nas comunas, uma iniciativa de democracia direta promovida pelo governo de Nicolás Maduro. Nessa consulta, as comunidades locais têm a oportunidade de escolher prioridades e receber, diretamente do governo central, os recursos necessários para a implementação dos projetos selecionados. “Passei por quatro comunas onde estava havendo votação, e o que eu pude sentir é que o apoio social”, destacou o jornalista.

Apesar dos desafios, Brito destacou a alta conscientização política do povo venezuelano, especialmente entre as camadas mais pobres da população. “É impressionante você constatar o nível de conscientização política do povo, o povo se empoderando mesmo da política. Em uma das comunas que visitei, os moradores, que haviam sido atacados pela extrema-direita, demonstraram uma resiliência incrível.”

Além da consulta nas comunas, Brito participou do ato de encerramento da 11ª Cúpula da Alba, um encontro que reuniu líderes da América Latina e do Caribe em defesa da unidade regional e contra a ingerência estrangeira nos assuntos internos da Venezuela. “Líderes como Miguel Díaz-Canel, de Cuba, e Luis Arce, da Bolívia, foram enfáticos em seu apoio à soberania venezuelana e na rejeição à interferência externa”, comentou.

(por Cezar Xavier)