Boeing Starliner, antes do chabu, pronta para partir rumo à estação espacial | Foto: Miguel J. Rodriguez Carrillo/AFP

Os astronautas da NASA, Barry Wilmore e Sunita Williams, membros de uma missão prevista para durar oito dias na Estação Espacial Internacional (ISS), podem ficar retidos no espaço até 2025 devido a problemas com o sistema de propulsão da espaçonave Boeing Starliner, a bordo da qual foram levados até a estação.

Desta forma a crise da Boeing, bastante visível na fabricação de aeronaves civis, alcança o espaço e apresenta novos problemas, como são obrigados a assumir seus projetistas e diretores.

São problemas de engenharia do projeto e dos processos de controle de fabricação e da qualidade, vistos na área civil da gigante aeronáutica norte-americana, que acabaram por se repetir no desenvolvimento da Starliner e seus subsequentes transtornos no transporte dos astronautas.

A espaçonave já havia apresentado problemas de propulsão ao voar para a plataforma orbital, como vazamentos de hélio, gás inerte usado para pressurizar o sistema, e perda de potência de propulsores do sistema de controle de reação, que são necessários para direcionar a nave durante sua partida da estação e de volta à Terra e ainda prepará-la para a reentrada na atmosfera.

Isso significa que, apesar de terem chegado em segurança à ISS, os astronautas podem precisar de uma espaçonave alternativa para retornar.

Em entrevista coletiva, na quarta-feira, 7 de agosto, a agência realizou uma atualização da situação dos dois astronautas que estão no espaço sideral há 63 dias — aproximadamente sete semanas a mais do que o esperado — após o lançamento em 5 de junho. 

Os membros da NASA mencionaram que será decidido, até meados de agosto, se há riscos de Wilmore e Williams retornarem na mesma nave que os transportou para a ISS. Isso exigirá que os astronautas permaneçam mais tempo na estação até que a Starliner possa realizar o desacoplamento.

O gerente do programa de tripulação comercial da Agência, Steve Stich, indicou que a nave atualmente não tem a capacidade de desacoplar automaticamente da ISS, por isso será necessário atualizar o seu software, além do que a equipe de controle do voo da Boeing teria que receber “informações adicionais”.

Stich assinalou que se considera a possibilidade de que Wilmore e Williams retornem a bordo de uma espaçonave Crew Dragon da empresa SpaceX, que será lançada à ISS no próximo mês, com apenas dois dos quatro tripulantes designados para ela. Essa nave transportaria trajes espaciais adicionais para os dois astronautas.

Porém, estes teriam que permanecer na estação até fevereiro do próximo ano, quando a tripulação da Crew Dragon retorna à Terra. Stich observou que esse plano alternativo ainda não foi formalmente aprovado. Ele também se recusou a dizer quais dos dois astronautas programados para voar naquela missão, chamada Crew-9, ficariam de fora.

Os problemas técnicos têm sido recorrentes na Boeing, que relatou US$ 883 milhões em perdas na produção da Starliner até outubro de 2022. “Há dores de crescimento no desenvolvimento e voo de uma aeronave, estamos muito próximos”, tentou justificar Mark Nappi, vice-presidente e gerente do programa da Boeing para a cápsula. “Isso faz parte do negócio ter esse tipo de problemas”, acrescentou, no esforço de minimizar o desastre.

Após a conclusão da missão, a Boeing passará por um rigoroso processo de certificação até que a Starliner seja autorizada a realizar missões regulares de transporte de tripulação para a NASA, como determina o contrato.

A empresa precisa iniciar as missões regulares de transporte de tripulação para começar a ser remunerada por esse serviço. É que nessa nova relação da NASA com as gigantes aeroespaciais, elas recebem um valor determinado para desenvolver as espaçonaves. E a NASA, ao invés de possuir as espaçonaves diretamente como os ônibus espaciais, passa a pagar pelas viagens de rotação de tripulação da ISS.

Em relação aos problemas com a aviação civil, no início do mês de julho a Boeing concordou em se declarar culpada e pagar uma multa na casa das centenas de milhões de dólares em um caso envolvendo os acidentes fatais ocorridos com o modelo 737 MAX.

Segundo o Departamento de Justiça dos EUA, a empresa violou um acordo que a protegeria de processos judiciais envolvendo as tragédias que ocorreram na Indonésia e na Etiópia em 2018 e 2019 e mataram, no total, 346 pessoas.

Os promotores acusaram a gigante aeroespacial americana de enganar as agências reguladoras, que aprovaram o 737 MAX e os requisitos de treinamento de pilotos necessários para que eles voassem com o modelo.

Fonte: Papiro