Pobreza agravada por Milei transparece cada vez mais nas ruas de Buenos Aires | Foto: Bernardino Avila/Página 12

“Nos últimos oito meses, a quantidade de famílias em situação de indigência duplicou, e isso impacta as crianças mais novas, pois em muitos desses lares há mais de uma criança pequena”, afirmou Isaac Rudnik, diretor da organização argentina Instituto de Investigação Social, Econômica e Política Cidadã (ISEPC).

De acordo com o pesquisador do ISEPC, “a indigência — pobreza extrema caracterizada pela desnutrição — passou de 9,5% no final do ano passado para 20% no último mês. Esses números refletem a situação cada vez mais complexa que se vive nos bairros populares”.

A queda do poder aquisitivo dos rendimentos, em meio à recessão que impacta indicadores sensíveis como o nível de emprego, educação e saúde convive com o aumento dos preços devido à inflação.

O dado mais preocupante do cenário socioeconômico, assinalou Rudnik, é o fato de a inflação da Argentina acumular 263,4% nos últimos 12 meses, enquanto os preços dos alimentos subiram ainda mais, chegando a 275,8%, limitando excessivamente o poder de compra de alimentos das famílias argentinas.

Com o agravamento das condições de vida desde que Milei assumiu o governo, hoje mais de 7 milhões de crianças argentinas vivem em situação de pobreza, cerca de 10 milhões consomem menos carne e laticínios em comparação com 2023 e mais de um milhão de menores não jantam, denuncia um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF, na sigla em inglês), divulgado na quarta-feira (14).

Os dados da organização, publicados no contexto da campanha “A fome não tem final feliz”, revelam que quase 5 milhões de adultos cedem sua porção de comida para priorizar seus filhos e que, apesar disso, mais de um milhão de crianças vão dormir sem ter jantado e um milhão e meio de menores pulam algumas refeições durante o dia porque os seus pais não têm dinheiro para comprá-las.

Os números apresentados pela UNICEF coincidem com os dados do Observatório da Dívida Social da Universidade Católica Argentina, que revelou, com base em informações oficiais, que a pobreza entre os 46,5 milhões de argentinos já atinge 55% deles, enquanto a indigência afeta 20,3%. Segundo o organismo, 70% das crianças vivem na pobreza, o que equivale a cerca de sete milhões de meninos e meninas.

“A forte alta dos produtos básicos não teve um correspondente aumento nas remunerações dos chefes de família. Isso repercute diretamente na redução do consumo de alguns produtos essenciais, como laticínios e carnes”, destacou.

Para o pesquisador do Observatório da Dívida Social da Universidade Católica Argentina, Eduardo Donza, o dado sobre a situação das crianças é gravíssimo, “porque se trata de pessoas em estágios de desenvolvimento físico e cognitivo”.

“Isso constitui uma hipoteca para o país: essas crianças são as que, em alguns anos, talvez não consigam se inserir no mercado de trabalho, sofrendo um prejuízo que afetará toda a economia”, afirmou o especialista.

O aumento do preço dos alimentos está atrelado à perda de empregos, considerando que os chefes das famílias vulneráveis costumam ter trabalhos sem carteira assinada, ponderou ele. “Esses segmentos são os mais afetados pela liquidação dos rendimentos”, concluiu.

Fonte: Papiro