Mélenchon, líder da França Insubmissa acompanha com apoiadores a contagem dos votos | Foto: Reprodução

A ida às urnas abrangeu 67,1% dos eleitores no maior comparecimento desde 1997, significando que os cidadãos franceses atenderam ao chamado da Nova Frente Popular e votaram para impedir a chegada da extrema-direita ao poder, com seus riscos à democracia. A política de arrocho de Macron, que incluiu ataque a direitos de aposentadoria, o que foi agravado com a inflação devido a sanções à Rússia e envolvimento no conflito da Ucrânia, também foram rejeitadas pela maioria dos franceses, dizem as pesquisas de boca-de-urna.

Segundo o instituto francês de pesquisa, Ipsos Talan, as pesquisas de boca-de-urna trazem a coalizão Nova Frente Popular (NFP) em primeiro lugar nas eleições do segundo turno deste domingo, com 172-192 assentos. 

A NFP é uma coligação formada pela França Insubmissa, Partido Socialista, Partido Comunista e Ecologistas, que se reuniu antes das eleições francesas para superar o crescimento dos setores mais reacionários do país.

A seguir viria a bancada que apoia Macron, Ensemble (Juntos), com até 170 assentos. A candidata direitista Marine Le Pen e seu grupo, a Reunião Nacional (RN), que saiu na frente no primeiro turno, ficaria agora em terceiro com 132-152 assentos na Assembleia Nacional.

Hoje, os franceses tiveram de eleger 501 dos 577 assentos da legislatura. 76 já haviam conquistado cadeiras no primeiro turno. Esta segunda volta da votação foi caracterizada por tentativas de outras forças políticas para manter a extrema direita longe da vitória.

Tanto a Nova Frente Popular como a coligação Juntos – liderada pelo presidente Emmanuel Macron – retiraram os respectivos candidatos nos círculos eleitorais em que ficaram em terceiro lugar, para unir votos e formar uma frente comum não formalizada contra o crescimento da Reunião Nacional (RN). Mais de 200 candidatos aderiram a esta percepção e abandonaram a corrida para evitar a divisão de votos e ganhos para os direitistas de Le Pen.

Depois de conhecer as primeiras projeções, Jean-Luc Mélenchon, líder da França Insubmissa, destacou que “a derrota do Presidente da República e da sua coligação está inequivocamente confirmada. Os franceses rejeitaram o pior cenário possível” e Macron “deve admitir a derrota”. “O primeiro-ministro deve sair. O presidente deve convocar a Nova Frente Popular para governar”, acrescentou.

O chefe do Partido Socialista, Olivier Faure, falou pouco depois das primeiras projeções, saudando os bons resultados da Nova Frente Popular, nesta segunda volta das eleições legislativas antecipadas. “Esta noite, a França disse não à chegada da RN ao poder!”, declarou, dando um “suspiro de alívio”, sob aplausos dos ativistas socialistas, reunidos em La Bellevilloise, em Paris.

Os resultados finais só são esperados no final da noite deste domingo ou na manhã de segunda-feira, numa volátil eleição antecipada convocada há apenas quatro semanas, numa aposta de Macron para conseguir mais vagas no Parlamento. 

Segundo o mesmo instituto, o comparecimento estaria em 67,1%, o maior desde 1997.

No chamado à concentração recente da NFP na Place de la République, o líder da coalizão, Mélenchon, apoiado pelas centrais sindicais, conclamara os franceses a comparecerem em massa às urnas e derrotarem a extrema-direita, convocando “cada um e todos a tomarem uma posição, envolver-se e convencer aqueles que os rodeiam. A República está em jogo. É sobre a ideia que temos de viver juntos”.

Durante a campanha eleitoral, candidatos da NFP se comprometeram a reverter a legislação que posterga a idade de aposentadoria na França. Irão apresentar um projeto de lei para cancelar a reforma previdenciária de Macron e, assim, reduzir a idade da aposentadoria para 60 anos se vencerem as eleições parlamentares.

“Se vencermos, a reforma de Macron será cancelada. Apresentaremos um grande projeto de lei sobre a pensão aos 60 anos já em 2024. Contaremos com o trabalho conjunto dos nossos parceiros sociais”, disse Éric Coquerel, legislador do partido França Insubmissa, em entrevista coletiva, condenando a reforma que aumenta gradualmente a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos, que entrou em vigor em setembro de 2023.

A palavra de ordem de “Pensão aos 60” foi uma das principais mobilizadoras dos protestos contra a “reforma previdenciária” de Macron. As manifestações que ocorreram na França, de janeiro a junho de 2024, contaram com mais de 1 milhão de pessoas em atos públicos por toda a França.

Fonte: Papiro