Quando EUA não pode competir pela economia vai ao confronto militar, diz Scott Ritter
Em entrevista ao Global Times, o ex-oficial de inteligência dos EUA e ex-inspetor de armas da ONU no Iraque, Scott Ritter, afirmou que a China “está derrotando economicamente os EUA”, o modelo chinês de desenvolvimento global “é mais eficiente do que sua contraparte americana” e que “como EUA não pode competir economicamente com a China, procura se mover para onde sente que tem a vantagem, que é o confronto militar.”
Sobre as provocações norte-americanas no Mar do Sul da China/Taiwan e as manobras para expansão da Otan para o chamado IndoPacífico, ele assinalou que os EUA “estão tentando usar a Otan para reforçar sua posição enfraquecida no Pacífico e construindo alianças militares para conter militarmente a China”.
Segundo Ritter, os EUA são “um império em declínio” e o mundo nunca esteve tão próximo de uma guerra nuclear, devido à postura de Washington e anúncios de implantação de mais armas nucleares. “Estamos mais perto da guerra nuclear hoje do que estivemos em qualquer momento”, ele registrou.
Os EUA “continuam a ver as armas nucleares como uma expressão da supremacia americana, acreditando que devemos ser a potência nuclear suprema”, ele ressaltou.
Ritter registrou que a China tem, historicamente falando, uma abordagem “muito pragmática e responsável em relação às armas nucleares”. Nunca usou a bomba nuclear, mas desenvolveu capacidades nucleares para fornecer um impedimento contra o sistema nuclear americano.
No entanto – ele acrescentou -, os EUA se posicionaram para ter potencial para “um ataque preventivo que poderia neutralizar a dissuasão nuclear da China”. O que “nos afasta da teoria da dissuasão e nos leva à teoria da guerra [nuclear].”
“Quando se olha para a expressão irresponsável da política nuclear americana, que agora se estende à Otan, fala-se em colocar um certo número de armas nucleares em modo operacional para que possam ser utilizadas rapidamente. Quando falamos em travar uma guerra com a suposição de que armas nucleares serão usadas, isso significa que, se houver uma guerra, há uma alta probabilidade de que as armas nucleares se tornem parte dela. E isso é um desastre para a humanidade.”
Para piorar, de acordo com Ritter os EUA são muito agressivos e incapazes de negociar de boa fé.
Os EUA – ele assinala – têm de mudar sua abordagem às armas nucleares e como lidamos com o mundo, lembrando ainda que “somos um império em declínio”.
“No momento, os EUA são muito fortes em armas nucleares, então estamos recorrendo ao escudo nuclear, o que torna tudo ainda mais perigoso. Se a opção nuclear se tornar nossa única opção, existe um potencial real para uma guerra nuclear.”
Instado pelo GT a comparar as contribuições e conceitos da China e dos EUA/Otan em relação à paz mundial, o ex-agente de inteligência considerou que Pequim “está fazendo um trabalho muito bom, comportando-se com muita responsabilidade e procurando alternativas para o conflito”.
“Por que a SCO [Organização de Cooperação de Xangai] está tendo sucesso? Por que tantas pessoas querem se juntar ao BRICS? Porque essas são alternativas viáveis para o resto do mundo.”
Ele enfatizou que a China é “um líder global muito responsável, sentando-se com o mundo e tentando articular uma posição comum sobre a resolução pacífica dos problemas globais. A China quer boas relações com o Ocidente”. A Otan, por outro lado, “só fala sobre guerra e confronto, é uma ferramenta dos EUA”, ele contrapôs.
Para Ritter, Gaza está “expondo a feiura dos EUA”, os EUA “perderam toda a credibilidade quando se trata das mesmas coisas que deveriam nos definir, os valores humanos universais”. “Quando você olha para Gaza, é uma contradição entre o que EUA afirma defender e o que faz. É tão nojento que permite que as pessoas digam legitimamente que os EUA são uma fraude.”
Sobre o conflito Rússia-Ucrânia, considerada por muitos como uma guerra dos EUA por procuração na Ucrânia, contra a Rússia, para expansão da Otan, Ritter enfatizou que trata-se de uma guerra que “não precisava ser travada e não deveria ter sido travada”.
A Rússia “não queria invadir a Ucrânia”, mas foi obrigada por causa do “comportamento irresponsável dos EUA, da Otan e da União Europeia”, ele sublinhou. “O plano inicial da Rússia baseava-se em pressionar a Ucrânia a aceitar um acordo de paz rápido, mas essa paz foi rejeitada pelo Ocidente.”
Para Ritter, é “improvável” que seja revertida a atual vantagem da Rússia na guerra. O montante de investimento que teria de ser feito na Ucrânia – ele destacou – “excede as capacidades da Otan e dos EUA”. O revidoramente da indústria militar está além da capacidade da Europa neste momento, “o tiro saiu pela culatra para a Europa e os EUA”.
O ex-inspetor de armas destacou que agora estamos chegando ao desfecho político desse conflito e alertou que é aí que “a China tem que prestar atenção”. Como essa guerra termina também afetará a postura do Ocidente em relação a Taiwan.
“A Ucrânia é uma ferramenta. Taiwan também é uma ferramenta do Ocidente. Se essa ferramenta surgir ainda utilizável, ainda viável, então o Ocidente dirá que podemos usar a região de Taiwan como uma ferramenta contra a China.”
Sobre a perseguição ao fundador do WikiLeaks, Julian Assange, e sua própria experiência de ter passaporte confiscado nos EUA quando estava a caminho da Rússia para participar de uma conferência, o ex-agente disse que “é um dia sombrio para os EUA, quando você descobre que não há liberdade de expressão, que não há liberdade de associação, que é tudo mentira – que o governo controla você em vez de você controlar o governo.”
“Julian Assange foi preso por exercer a liberdade de expressão como parte de uma imprensa livre. Ele não cometeu nenhum crime. Ao fazer isso, os EUA enviaram o sinal a todos os americanos: se você nos desafiar, vamos quebrá-lo, vamos prendê-lo, vamos destruí-lo. Eles me enviaram essa mensagem muitas vezes e tentaram enviá-la novamente pegando meu passaporte. Mas vou recuperar meu passaporte e continuarei viajando. Continuarei a falar para defender a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa e a liberdade de associação nos EUA”.
Fonte: Papiro