"Entre os atletas israelenses, há pelo menos 30 que atuam nas forças que praticam o genocídio contra o povo palestino", denuncia o neto de Mandela | Foto: Arquivo

Manifestação contra a presença do usurpador israelense está convocada para a abertura dos jogos. Há 60 anos, a então África do Sul sob apartheid foi banida dos esportes olímpicos, o que continuou até 1992. O banimento da África do Sul só foi levantado com o fim do regime de apartheid

Nkosi Zwelivelile Mandela, neto de Nelson Mandela, pediu em entrevista à RT que Israel seja banido dos Jogos Olímpicos deste ano, que terão início na próxima sexta-feira (26). Falando em Paris, Mandela instou a comunidade internacional, movimentos de solidariedade e organizações de base a se unirem contra o que chamou de “Israel do apartheid”.

“Nós [manifestantes pró-palestinos] estamos aqui em Paris hoje para fazer um apelo a toda a comunidade global, ao movimento de solidariedade internacional e a todos os movimentos de base para pedir a proibição de Israel do Apartheid dos Jogos Olímpicos de Paris”, disse ele em ato no centro da capital francesa.

“Estamos nos preparando para os maiores protestos em frente à cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos”, acrescentou.

O neto de Mandela denunciou que mais de 400 atletas palestinos que poderiam participar das Olimpíadas foram mortos, juntamente com sua equipe de treinamento e treinadores, na invasão de Gaza pelas tropas coloniais israelenses. Ele também apontou a destruição de instalações esportivas na Palestina.

“Portanto, pedimos ao COI que proíba os usurpadores de participar, particularmente à luz do fato de que mais de 30 de seus atletas servem nas IDF e têm participado do genocídio, limpeza étnica, crimes de guerra e crimes contra a humanidade”, sublinhou.

Em 1964 – há 60 anos – a África do Sul sob apartheid foi banida dos Jogos Olímpicos, pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), o que se manteve até o final do regime segregacionista e racista, em 1992.

Enquanto isso, em 2024, e com Israel sob investigação por genocídio em Gaza por parte da Corte Internacional de Justiça da ONU – exatamente por iniciativa do país que derrotou o fascismo e o apartheid, a África do Sul -, o COI até aqui manteve a participação israelense.

Registre-se que o não banimento é ainda mais incompreensível dado que o mundo inteiro está presenciando ao vivo um genocídio que, segundo a mais respeitada revista médica do planeta, The Lancet, já matou quase 200 mil palestinos, direta ou indiretamente. E com as bombas de Israel tendo destruído praticamente toda a infraestrutura civil, de abrigos a escolas, instalações de tratamento de água, hospitais e mesquitas; 90% da população deslocada sob a mira de arma e sob ameaça de fome catastrófica; e mais de duas centenas de jornalistas e funcionários da ONU assassinados.

Na semana passada, a CIJ condenou o roubo de terras palestinas por Israel, que equiparou a “anexação”, proibida pela lei internacional.

Está prevista a presença do presidente de Israel, Isaac Herzog, em Paris, para participar da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, na sexta-feira, 26 de julho. “Durante a sua visita, o presidente representará o Estado de Israel na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2024 e cumprimentará a delegação israelense no início da competição”, informam jornais franceses.

Em janeiro passado, o Presidente Isaac Herzog dirigiu-se aos soldados israelenses que devastam Gaza, diante das câmaras, para assinar um projétil de artilharia que trazia a frase “Conto convosco”. Pouco depois, o dispositivo explosivo foi disparado em direção às residências palestinas.

Como denuncia a professora Amyra El Khalili, “o mundo deve saber que um líder político fascista que gosta de assinar dispositivos mortais disparados contra civis estará sentado na arquibancada dos Jogos Olímpicos, entre Macron e a prefeita Anne Hidalgo, durante a cerimónia de abertura. Nenhuma ofensiva militar matou tantas crianças, jornalistas ou cuidadores em tão pouco tempo no século XXI.”

Em entrevista anterior à RT, Nkosi comparou o apoio de governos ocidentais a Netanyahu e seu genocídio em Gaza, ao da ex-primeira-ministra do Reino Unido Margaret Thatcher e do ex-presidente dos EUA Ronald Reagan ao regime do Apartheid na África do Sul na década de 1980.

O próprio Mandela afirmou, durante uma visita em 1997 a Gaza, que a liberdade dos africanos era “incompleta sem a liberdade dos palestinos”.

Também a vitória dos sul-africanos sobre o apartheid e a criação de um país onde todos eram iguais em direitos, serviu de importante estímulo para que se tentasse os processos de paz de Oslo, inviabilizados na prática com o assassinato do então premiê israelense Yitzhak Rabin em 1995.

O neto de Mandela também expressou apoio aos houthis, que vêm mantendo um bloqueio no Mar Vermelho a embarcações israelenses, norte-americanas e inglesas, até que o genocídio em Gaza seja interrompido.

“Diríamos nos movimentos internacionais de solidariedade e no movimento de base que os houthis devem permanecer firmes e intensificar a luta pela libertação de nossos irmãos e irmãs em Gaza e em toda a Palestina ocupada”, acrescentou.

Fonte: Papiro