Ao centro, o presidente eleito do Irã, Masud Pezeshkian, celebra a vitória | Foto: Atta Kenare/AFP

O deputado Masud Pezeshkian venceu as eleições para presidente no Irã, realizadas na sexta-feira (5), com 16,4 milhões de votos (53,66%), enquanto o diplomata Said Jalili recebeu 13, 5 milhões de votos. No segundo turno, o comparecimento às urnas foi de 49,8%, quase 10 pontos percentuais mais que o primeiro turno. As eleições foram convocadas em razão da morte inesperada do presidente Ebrahim Rasi em um acidente de helicóptero em maio, um ano antes do fim de seu mandato.

Pezeshhkian, de 69 anos, é cirurgião-cardíaco, ex-ministro da Saúde e deputado há cinco mandatos, e já havia sido candidato a presidente em duas outras vezes. Dentro do espectro político iraniano, ele é visto como um “reformista”, como o antecessor de Raisi, Hassan Rohani.

Jalili foi o principal negociador iraniano do acordo JCPOA, que aceitou a mais intrusiva fiscalização de programa nuclear pela AIEA já feita, em troca do fim das sanções norte-americanas e europeias contra Teerã, e era considerado nessa eleição o mais identificado com Raisi. Assinado em 2015 por Obama, o JCPOA foi rompido unilateralmente por Trump, mas não restaurado por Biden.

Na campanha, Pezeshkian se disse “um ‘principista’ (pessoa que defende os conceitos que sustentam a República Islâmica) e a partir destes princípios é que buscamos reformas”. Quando ele se candidatou em 2021, seu nome não passou no crivo do Conselho dos Guardiães, que é a estrutural estatal iraniana que define a elegibilidade de um cidadão a cada eleição presidencial.

“Embora seja visto como um homem de mentalidade moderna e altamente educado, ele também é profundamente religioso. Seu uso frequente do jargão empresarial inglês em debates televisionados foi equilibrado por recitações do Alcorão, ganhando apoio de eleitores mais conservadores”, observou a Bloomberg.

O líder supremo do Irã, Aiatolá Ali Khamenei, saudou o resultado, assinalando que “com a graça de Deus, a grande nação do Irã realizou eleições livres e transparentes, elegendo um presidente com uma clara maioria de votos”. Ele exortou Pezeshskian a “seguir o caminho do mártir presidente Raisi”.

Jalili cumprimentou Pezeshkian pela vitória, enquanto o presidente do parlamento, Mohamad Baqer Qalibaf, que no primeiro turno obtivera 3 milhões de votos e ficara de fora da segunda volta, disse que o legislativo “irá cooperar e apoiar plenamente o 14.º Governo iraniano para ajudar o país a progredir”.

Líderes do mundo inteiro saudaram o novo presidente, como o presidente russo Vladimir Putin, o presidente chinês Xi Jinping, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e o presidente sírio, Bashar Al Assad.

Entre os nomes aventados para o governo Pezeshkian estão o ex-ministro da economia de Rohani, Ali Tayebnia, e o ex-ministro das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif.

O presidente eleito se comprometeu com o levantamento das sanções ocidentais contra o Irã e restauração do JCPOA por “negociações construtivas” – apesar do risco do ex-presidente Trump, que rasgou o acordo, voltar à Casa Branca, e do fato de seu sucessor, Biden, não o haver retomado. Também a presença ativa do Irã no BRICS e na Organização para Cooperação de Xangai (OCX), de que é membro pleno.

 “O Irã cumpriu suas obrigações, e consideramos que nossa tarefa é trazer as outras partes de volta a esse acordo o mais rápido possível e conseguir o levantamento das sanções. Estou confiante de que os governos amigos da Rússia e da China apoiarão e ajudarão o Irã a resolver essa questão”, disse o recém-eleito ao portal russo Sputnik.

Pezeshkian também prometeu que buscará implementar “reformas estruturais” que permitam ao Irã atingir um desenvolvimento mais justo e equilibrado e se manifestou, ainda, por menos rigor quanto ao uso do hijab, o véu feminino. A inflação no Irã é uma das consequências da volta das sanções contra o país.

“A primeira coisa que fiz depois de anunciados os resultados foi agradecer ao Líder da Revolução Islâmica, porque sem a sabedoria deste líder não teríamos chegado a este lugar”, disse este sábado o presidente eleito iraniano a partir do mausoléu do Imã Khomeini, onde foi reiterar a sua lealdade aos ideais do fundador da República Islâmica, registrou o portal iraniano HispanTV.

Pezeshkian sublinhou que irá procurar promover o diálogo, a convergência e a unidade nacional no seu governo para prestar atenção aos problemas da sociedade em todos os domínios econômicos, sociais, políticos e culturais. “Aqui, no santuário do Imam Khomeini (AS), faço um pacto com o Imã dos mártires para continuar o seu caminho e o caminho dos mártires”, destacou.

Ele descreveu os votos que o elegeram no segundo turno como um “fardo pesado” em seu pescoço, comprometendo-se a “continuar a ouvir as palavras e vozes dos sem voz e dos rejeitados”.

“Temos uma prova difícil pela frente porque temos muitos desafios e crises que devemos enfrentar”, ele acrescentou, anunciando que irá se “concentrar no diálogo e na unidade nacional”.

Fonte: Papiro