Representante da Rússia na ONU, Nebenzya, dá elementos sobre míssil de defesa de Kiev que atingiu hospital | Foto: Reprodução

O embaixador permanente da Rússia na ONU, Vasily Nebenzya, responsabilizou a defesa aérea ucraniana por atingir com seu próprio míssil um hospital infantil em Kiev, declarando que, se um míssil de cruzeiro russo tivesse atingido o edifício, “não restaria mais nada”.

Em um discurso ao Conselho de Segurança da ONU na terça-feira (9), o médico Vladimir “Zhovnir, diretor do hospital infantil Okhmatdyt de Kiev, acusou a Rússia de atacar deliberadamente a instalação no dia anterior.

Duas pessoas morreram e dezenas ficaram feridas na explosão, afirmou Zhovnir, chamando o incidente de “não apenas um crime de guerra, [mas] muito além do limite da humanidade”. A acusação foi repercutida pela mídia imperial.

Em sua resposta, Nebenzya perguntou se Zhovnir entendia que, “se fosse um míssil russo, não haveria mais nada do prédio?” “Crianças e adultos teriam morrido em vez de ter sido feridos.”

A observação de Nebenzya tem como fundamento que o míssil de cruzeiro russo Kh-101, usado de acordo com a mídia de Kiev no ataque contra o hospital, tem uma carga explosiva de 850 kg, o que não se coaduna com vídeos e fotos do hospital atingido, e a inexistência de uma cratera.

Nebenzya afirmou que as forças russas atacaram a fábrica de mísseis Artyom em Kiev na segunda-feira e que “esse alvo foi atingido”. Segundo a imprensa russa, a fábrica foi atingida por três a seis mísseis e ardeu por cinco horas.

“Uma vez que a fábrica de armas está localizada a cerca de 2 km do hospital infantil, há todas as razões para acreditar que o míssil de defesa aérea ucraniano que o atingiu foi destinado a um míssil russo que atingiu a usina”, frisou o embaixador russo na ONU.

“Tragédias como a do Hospital Infantil Okhmatdet, em Kiev, poderiam ter sido evitadas se a Ucrânia não tivesse implantado defesas aéreas em bairros residenciais, em violação do direito humanitário internacional, acrescentou Nebenzya. “No entanto, os seus patrocinadores ocidentais preferem desviar o olhar relativamente a esse fato”.

Um vídeo filmado à distância por uma testemunha, não mostra um Kh-101 de acordo com os russos, mas um míssil de sistema antiaéreo, possivelmente um NASAM fornecido pela Noruega, embora não se descarte um míssil de interceptação norte-americano. O embaixador russo na ONU acrescentou que Moscou espera um esclarecimento do governo norueguês sobre o caso.

Na realidade, o vídeo amador feito sobre o ataque russo à fábrica de armas a 2 quilômetros da clínica, em que são vistos os mísseis caindo verticalmente sobre a Artyom, acaba registrando a aparição de outro míssil, vindo do oeste, menor e mais estreito, que atinge o hospital infantil.

Além das proporções e comprimento, outras características dos dois tipos de míssil também diferem, como a trajetória, força das explosões e danos dos estilhaços.

O que explica um meme, que está circulando na internet russa que, em uma homenagem aos irritantes testes CAPTCHA, mostra claramente como os dois mísseis parecem diferentes – “Escolha o certo!”

Um comentarista do Donbass, Roman Donetsky, destacou que a hipótese do míssil antiaéreo é a mais provável “devido à natureza visível dos danos à estrutura. Eles são relativamente pequenos; um impacto do Kh-101 russo teria destruído completamente todo o edifício e deixado uma cratera. Os estilhaços claramente visíveis nas fotos também apontam para um míssil antiaéreo”.

Não é a primeira vez que um míssil antiaéreo ucraniano falha em abater o míssil russo e cai aleatoriamente. Em novembro de 2022, um míssil ucraniano caiu na vizinha Polônia, matando dois agricultores.

Anteriormente, o Ministério da Defesa russo já negara explicitamente ter atacado o hospital. Em um comunicado oficial disse que “fotos e imagens de vídeo de Kiev confirmam claramente” que o prédio foi atingido por um “míssil de defesa aérea ucraniano lançado de um sistema de mísseis antiaéreos dentro da cidade”.

O ataque à fábrica Artyom foi parte de um ataque em grande escala a instalações da indústria militar ucraniana e bases de aviação, acrescentou o ministério russo, e em resposta às continuadas tentativas da Ucrânia de danificar a infraestrutura energética e econômica russa.

A coincidência do míssil no hospital infantil nas vésperas da cúpula da Otan, cujo ponto central é a guerra de procuração para expansão da aliança imperialista até as fronteiras russas, que anda notoriamente indo mal, também despertou alertas sobre uma provocação, dado o precedente de Bucha, quando estavam em curso negociações Rússia-Ucrânia em Istambul em 2022.

Comentando a tragédia, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse na terça-feira acreditar que “não há coincidências a esse respeito. Claro, tudo isso são manobras de relações públicas e manobras de relações públicas com sangue.”

“Obviamente, um míssil de defesa aérea [ucraniano] foi usado indevidamente e atingiu este hospital infantil. É realmente uma tragédia, mas está sendo deliberadamente usado para criar uma imagem que provavelmente combinaria com a participação de Zelensky na cúpula da Otan”, disse Peskov a um repórter russo.

Também o embaixador russo nos EUA, Anatoly Antonov, advertiu que o Ocidente usará a tragédia para escalar a guerra. “A tragédia com o hospital, na véspera da cúpula da Otan, aparentemente foi tomada pelos patrocinadores de Kiev como um ‘presente perfeito’ para justificar uma nova escalada do conflito e a continuação das hostilidades até o último ucraniano”.

Fonte: Papiro