Guerra na Ucrânia torna melancólica a cúpula dos 75 anos da Otan
A cúpula dos 75 anos da Otan se concluiu tão melancolicamente como começou, com os tropeços do senil Biden ganhando manchetes no mundo inteiro, a guerra pela anexação na Ucrânia indo de mal a pior, o fracasso das sanções contra a Rússia, as provocações contra a China rebatidas na lata, a cumplicidade com o genocídio em Gaza desmascarada e os principais ‘líderes’ da aliança amargando crises domésticas, em meio à estagnação econômica.
E em paralelo com aquela sensação de que, em época de mudanças tectônicas no mundo, rumo à multipolaridade e ao futuro compartilhado da humanidade, não vão ser nulidades como Biden, Macron, Scholz e assemelhados que irão prevalecer.
Realmente, as coisas estão muito mal paradas para o imperialismo, quando sua cúpula com duração de três dias, de 9 a 11 de julho, tem como auge a atormentada questão se a candidatura de Biden vai ou não sobreviver a uma entrevista coletiva ou ao desassossego com a vergonha de Biden confundindo Zelensky com Putin e a vice Kamala com Trump.
Sobre a guerra contra a Rússia na Ucrânia, em sua Declaração de Washington a Otan anunciou a oficialização de um escritório em Kiev e o estabelecimento de um comando na Alemanha para supervisionar a guerra por procuração, que será liderado por um general de três estrelas.
A declaração também insiste em isolar a Rússia e ampliar o cerco ao país, o que descreve como “reforçar a segurança do bloco no seu flanco oriental” e aumentar a “assistência” ao regime de Kiev.
Como reza a lenda, a Otan foi criada para manter os norte-americanos dentro da Europa; os russos, fora; e os alemães, por baixo. Quando da reunificação alemã, foi prometido ao então presidente soviético Gorbachev que a Otan não se moveria “um centímetro a leste”. Mas a expansão começou a seguir à guerra de esquartejamento da Iugoslávia e, em 2008, o governo de W. Bush declarou a Ucrânia seu alvo.
Como prêmio de consolação para o regime de Zelensky, a Otan também anunciou um “caminho irreversível” para a anexação do Donbass, assim que a “guerra acabar”.
A esse respeito, a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, comentou que “falando francamente, não sei como é esse caminho irreversível para a aliança, mas acho que a única associação que emerge é ‘o caminho para a beira do precipício’”.
Antes, quando da conferência-farsa sobre a Ucrânia na Suíça, o presidente Vladimir Putin já havia explicitado que a solução da questão poderia ter como base os fundamentos estabelecidos na negociação de Istambul – neutralidade, desmilitarização e desnazificação -, que chegaram a ser concordados pela delegação de Kiev, e rasgados após ordem de Washington, transmitida em pessoa pelo então primeiro-ministro britânico Boris Johnson, desde que com o reconhecimento das realidades no terreno.
Putin também anunciou a determinação de trabalhar pelo estabelecimento de um sistema de segurança coletiva na Eurásia. Enquanto a cúpula estava ocorrendo em Washington, o primeiro-ministro indiano Narendra Modi visitou o presidente Putin em Moscou, ampliando os laços estratégicos e comerciais, em sua primeira viagem internacional após sua reeleição.
O comunicado da Otan também acusou a China de ser “facilitadora decisiva” do esforço de guerra da Rússia contra a Ucrânia”, além de insinuar uma “ameaça nuclear chinesa” e na Ásia-Pacífico.
A presença na cúpula, a convite, do Japão, Coreia do Sul, Nova Zelândia e Austrália evidenciou a ação de Washington para “globalizar a Otan”, processo em curso através de articulação militar entre EUA-Japão-Coreia do Sul e da constituição do bloco Aukus (Austrália, Reino Unido, EUA).
O porta-voz da diplomacia chinesa Lin Jian frisou que o comunicado da Otan “está repleto de preconceitos, calúnias e provocações” em relação à China e chamou aliança imperial de “relíquia da Guerra Fria, um produto do confronto e da política de bloco”.
Ele lembrou que as forças da Otan bombardearam a Iugoslávia durante 78 dias em nome de “prevenir novas catástrofes humanitárias”, e as tragédias do Afeganistão e da Líbia mostraram claramente que onde quer que a Otan apareça, segue-se a agitação e o caos. A chamada segurança da Otan ocorre muitas vezes à custa da insegurança dos outros.
“Criar inimigos imaginários para justificar a sua existência e operar fora das suas fronteiras é a tática favorita da Otan”, destacou o porta-voz.
Ele sublinhou que, sobre a questão da Ucrânia, a Otan continua alardeando a chamada “responsabilidade da China”, que é desprovida de qualquer significado. “A crise ucraniana continua até hoje. Quem está colocando lenha na fogueira e espalhando a onda é óbvio para a comunidade internacional”.
“A China urge a Otan a (…) parar de interferir na política interna da China e de manchar a imagem da China, e a não criar o caos na Ásia-Pacífico depois de gerar turbulência na Europa”, disse Lin.
A região do Nordeste Asiático, tendo sofrido com os estragos da guerra, do impasse militar e do confronto de blocos, compreende profundamente o valor da coexistência pacífica, da solidariedade, da cooperação e do benefício mútuo.
O porta-voz enfatizou que o atual estado de paz, cooperação, estabilidade e prosperidade na região da Ásia-Pacífico, incluindo o Nordeste Asiático, é o resultado dos esforços conjuntos dos países da região. A Ásia-Pacífico não precisa de alianças militares, nem de “pequenos círculos” que provoquem confrontos de grandes potências e instiguem uma nova Guerra Fria, acrescentou.
A China – ele acrescentou – seguirá firmemente o caminho do desenvolvimento pacífico, injetando estabilidade e energia positiva na paz e estabilidade mundiais através do seu próprio desenvolvimento e cooperação internacional. Ao mesmo tempo, salvaguardará firmemente a sua própria soberania, desenvolvimento e interesses de segurança.
Durante a cúpula, Biden e Scholz anunciaram que, pela primeira vez desde o fim da Guerra Fria, mísseis terrestres de longo alcance dos EUA serão implantados na Alemanha, o que significa que Washington optou por ignorar a proposta de Putin de uma moratória nos mísseis de longo alcance, cuja proibição vigorou de 1988 até 2019, quando Trump retirou os EUA do Tratado INF, que proibia mísseis entre 500-5000 km.
O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, afirmou que Moscou reagirá com uma “resposta militar à nova ameaça”. “Este é apenas um elo na cadeia de escalada”, ele acrescentou.
Enquanto nos países imperialistas centrais direitos conquistados há gerações vêm sendo subtraídos em nome da austeridade, os gastos militares não param de crescer e, de acordo com Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, os gastos com a Otan cresceram 8% em 2023 e devem crescer 18% em 2024.
Ele dimensionou a sanha por lucros e sangue do complexo industrial-militar norte-americano: “nos próximos cinco anos, nossos aliados da OTAN adicionarão mais de 650 aeronaves F-35 de quinta geração, mais de 1.000 sistemas de defesa aérea, quase 50 navios de guerra e submarinos, 1.200 tanques de batalha, 11.300 veículos de combate e quase 2.000 sistemas de artilharia”.
Fonte: Papiro