A festa tomou conta de Praça da República durante a apuração e a vitória da NFP | Foto: Olympia De Maismont/AFP

A Nova Frente Popular, que venceu as eleições legislativas na França no domingo passado, repeliu na quinta-feira (11) a recusa do presidente Emmanuel Macron de nomear um primeiro-ministro procedente das fileiras da coligação que elegeu maior número de deputados.

Em uma carta publicada na imprensa francesa na quarta-feira (10), desde Washington, para onde foi para participar da cúpula de guerra da Otan, Macron fez a acintosa declaração de que “ninguém venceu” as eleições de domingo, instando as “forças republicanas” a construírem “uma maioria sólida para o país”, enquanto recusava a demissão do primeiro-ministro macronista, Gabriel Attal.

Macron exigiu implicitamente que a maior força da NFP, a França Insubmissa, fosse excluída do governo a ser formado.

Uma manobra cínica, tentando virar a mesa e dividir a NFP, que além de ter ficado em primeiro lugar, foi também quem teve a iniciativa política e amplitude capaz de deter o ascenso da extrema-direita, aliás, inflado pelo neoliberalismo de Macron, com medidas como a elevação da idade mínima de aposentadoria, e por sua sabujice aos EUA, à guerra e às sanções.

Aliás, foi manobra anterior de Macron, ao ser fragorosamente derrotado nas eleições para o Parlamento Europeu, de antecipação das eleições legislativas que ocorreriam naturalmente em 2027, que colocou a França à beira de ser governada por Marine Le Pen e seus partidários xenófobos e racistas.

O líder socialista Olivier Faure acusou o presidente de não “respeitar o voto dos franceses”, enquanto Jean-Luc Mélenchon, da França Insubmissa, denunciou que Macron “se recusa a reconhecer o resultado das urnas, que coloca a Nova Frente Popular na liderança em número de votos e mandatos (…) É o retorno do veto real ao sufrágio universal”.

A principal central sindical francesa, a CGT, convocou os franceses a irem às ruas em 18 de julho, dia da primeira sessão da Assembleia Nacional, “para que o resultado da eleição seja respeitado”.

“Temos a impressão de ver Luís XVI preso em Versalhes”, disse sua líder, Sophie Binet, referindo-se ao monarca guilhotinado em 1793 durante a Revolução.

“Não se pode ganhar e perder ao mesmo tempo”, disse a líder dos ambientalistas, Marine Tondelier, acusando Macron de ignorar os resultados das eleições, em prejuízo da democracia e do país.

Até mesmo madame Le Pen chamou a carta de Macron de “circo vergonhoso”.

A manobra de Macron também foi desancada pelos jornais franceses, que o chamaram de “mau perdedor” e “arrogante” ao pretender “ignorar” o resultado das urnas.

“Emmanuel Macron é um mau perdedor” é a manchete do jornal progressista Libération, que afirma que o presidente “tenta se manter no centro do jogo, apesar da derrota de seu time”.

Em editorial, Libé afirma que no último domingo os eleitores da França passaram uma clara mensagem que não aguentam mais o macronismo, que temem a extrema direita e que há uma “tímida” vontade de ver a esquerda de volta ao poder, registrou a RFI.

Segundo o texto, ao invés de acalmar a crise política, o presidente lançou “uma nova granada” em forma de carta apelando pela formação de uma maioria que, diante das divisões entre os grupos parlamentares, é impossível de ser alcançada.

Para o jornal conservador Le Figaro, “Macron tentou, mais uma vez, virar a mesa”. Em editorial, o diário reitera que, desde as eleições europeias, em 9 de junho, a França demonstra uma “poderosa rejeição” da postura do chefe de Estado, considerado “muito arrogante”.

Segundo Le Figaro, a resposta de Macron não é a de um árbitro que se coloca acima da confusão, mas de “um chefe jupiteriano ditando suas condições e a conduta a ser respeitada pelas forças políticas, esperando governar sob autoridade”.

Nenhum partido ou coligação obteve maioria absoluta, de 289 deputados, na nova Assembleia Nacional. A aliança de esquerda NFP ficou em primeiro lugar com entre 190 e 195 assentos, a aliança centrista de Macron com cerca de 160 e a extrema-direita com mais de 140.

Mas, como já observara Mélenchon, na tradição política francesa os governos de coabitação – quando o presidente é de um partido e o primeiro-ministro é da oposição – cabe à coalizão vencedora indicar o nome para encabeçar a formação de governo, não ao presidente derrotado.

A NFP anunciou que irá definir seu nome para primeiro-ministro até o final de semana. A França e seu povo têm pressa em que seu programa antineoliberal e antifascista tire o país da crise e da ameaça de guerra e de fascismo.

Essa empreitada de Macron inclui ainda o presidente do Senado, Gérard Larcher, que diz que a formação do novo governo pode ser adiada até o “início de setembro”. O ministro do Interior, Gérald Darmanin, que também foi reeleito, disse à CNews que poderia apoiar um “primeiro-ministro de direita”.

Pelas redes sociais, a jovem deputada Clémence Guetté, considerada uma aposta de Mélenchon para o cargo de primeiro-ministro, assinalou que “mais sozinho do que nunca, Emmanuel Macron maltrata. Jogou a França nos braços da extrema direita, nós evitamos isso. Agora a Nova Frente Popular deve governar”.

Fonte: Papiro