Foco na ciência torna Brasil mais ágil para enfrentar uma nova pandemia
Brasil tem capacidade para enfrentar futuras pandemias, diz ministra Nísia Trindade. OMS defende cooperação entre países. foto: Tomaz Silva ABr
A Cúpula Global de Preparação para Pandemias, realizada no Rio de Janeiro nesta segunda-feira (29), trouxe um alerta contundente: “A próxima pandemia pode vir de qualquer lugar”. O evento reuniu especialistas internacionais para compartilhar experiências e estratégias de enfrentamento a doenças que podem se espalhar rapidamente, como a covid-19, que resultou em mais de 7 milhões de mortes em todo o mundo.
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, garantiu que o Brasil está capacitado para participar da Missão 100 Dias, uma iniciativa global que visa desenvolver, produzir e distribuir vacinas e tratamentos em pouco mais de três meses. Esse prazo representa um terço do tempo necessário para a criação da vacina contra a covid-19 e tem o potencial de interromper uma nova pandemia ainda em seus estágios iniciais, salvando vidas.
“Sem dúvida o Brasil tem condições de adotar esse objetivo. O Brasil é parte desse esforço e nós retomamos uma agenda que as instituições de pesquisas científicas levantaram com muita força”, afirmou a ministra.
Nísia destacou que o Brasil, que enfrentou grandes desafios durante a pandemia de covid-19 e acumulou mais de 700 mil mortes, está agora focado na ciência, tecnologia e esforços industriais na área da saúde, sob a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ela mencionou o Complexo Econômico Industrial da Saúde como um conjunto de investimentos que incentivam a produção de medicamentos, insumos e vacinas, parte da Nova Indústria Brasil, uma política industrial do governo federal.
A ministra enfatizou que a preparação para futuras pandemias deve ser uma política de Estado, transcendente a mandatos governamentais. Ela também sublinhou a importância da cooperação internacional e da equidade no acesso e desenvolvimento de vacinas e tratamentos, especialmente nos países em desenvolvimento.
“Não é possível pensar em proteção de forma equitativa sem a participação dos nossos países”, afirmou Nísia. “É hora de traduzir equidade e solidariedade em ações concretas para garantir acesso junto a produtos para o enfrentamento a pandemias e outras emergências de saúde”.
A presidente da Coalizão para Inovações em Preparação para Epidemias (Cepi), Jane Halton, ressaltou que a Missão dos 100 Dias não é apenas sobre rapidez na resposta, mas também sobre garantir que os recursos sejam distribuídos de forma justa. “É sobre proteger todas as pessoas de novas doenças antes que tenham suas vidas e de familiares destruídas”, disse Halton.
O encontro, que termina na terça-feira (30), é a segunda edição do evento, a primeira tendo ocorrido em Londres, em 2022. Durante a cúpula, foi anunciada uma parceria entre a Cepi e a Fiocruz para a produção de vacinas que poderão ser distribuídas em toda a América Latina em caso de uma nova pandemia.
Mario Moreira, presidente da Fiocruz, afirmou que o acordo faz parte de um esforço global para um acesso mais equilibrado às vacinas. “Não há condição de apenas os países do Norte produzirem vacina para o mundo. Não deu certo na pandemia de covid-19. Então a ideia é também incluir países do Sul Global, onde a Fiocruz terá destaque nisso”, declarou Moreira.
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, enviou uma mensagem em vídeo destacando a liderança da ministra Nísia Trindade em colocar a preparação para pandemias como uma prioridade durante a presidência brasileira no G20. Ghebreyesus reforçou que a questão não é se uma nova pandemia ocorrerá, mas quando. Ele enfatizou a necessidade de aprender com os erros cometidos durante a pandemia de covid-19 para melhor preparar o mundo para futuras crises.
“Temos ainda um longo caminho antes de poder dizer que o mundo está verdadeiramente preparado para a próxima pandemia. Mas, juntos, estamos fazendo um mundo mais preparado do que antes”, concluiu.
(por Cezar Xavier)