China e Rússia passam incólumes pelo apagão da Microsoft graças à autonomia tecnológica
Enquanto o Ocidente coletivo vivia na sexta-feira (19) um dia de cão sob a tela azul da morte do software Microsoft/Crowdstrike, na China e Rússia as principais infraestruturas ficaram intactas, de hospitais a bancos e companhias aéreas, como registraram respectivamente o South China Morning Post e a Ria Novosti.
O bug denominado “tela azul da morte” da Microsoft levou a interrupções relatadas na aviação civil, ferrovias, sistemas bancários, bolsas de valores e até hospitais em muitos países. Milhares de voos foram desmarcados no mundo inteiro, enquanto a empresa CrowdStrike reconhecia que não havia sido um ataque hacker, mas um erro ao atualizar uma ferramenta de IA de segurança cibernética em nuvem, o Falcon.
A China ficou “praticamente intocada” pelo apagão, registrou o maior jornal de Hong Kong, observando que o empenho em curso pela autossuficiência tecnológica compensou.
Apesar de algumas empresas estrangeiras e hotéis de luxo afetadas, o apagão deixou inalteradas as principais infraestruturas da China, com os aeroportos internacionais de Pequim e Xangai operando normalmente, ao contrário do Ocidente coletivo, onde milhares de voos foram suspensos e os aeroportos viraram um caos.
“A relativa imunidade da China à interrupção mostrou a reduzida dependência do país de prestadores de serviços estrangeiros, como a Microsoft e a empresa de antivírus CrowdStrike”, assinalou o SCMP.
“Nos últimos anos, a China tem lançado uma campanha nos seus departamentos governamentais e nos principais operadores de infra-estruturas para substituir hardware e sistemas estrangeiros por nacionais”, acrescentou.
O impacto mínimo da interrupção da Microsoft na China provou que o país fez progressos na consecução do seu objetivo de sistemas informáticos “seguros e controláveis”, de acordo com um porta-voz do governo chinês.
No Weibo, internautas chineses brincaram que a Microsoft “deu-lhes meio dia de folga”. “Nossa empresa acabou de mudar para novos computadores com o sistema HarmonyOS, então não podemos participar da sua comemoração”, divertiu-se outro comentarista.
Por sua vez a Ria Novosti registrou que a Rússia no contexto do apagão era uma “cidadela digital brilhante”. “Os aeroportos recebiam e despachavam voos, registravam passageiros e geralmente desempenhavam todas as suas funções. O mesmo se aplica ao transporte ferroviário e ao setor bancário. Sem falar, é claro, em restaurantes fast food, delivery de supermercado e outros pedidos. Resumindo, “não faltou nada”, tínhamos tudo.”
Recordemos – acrescentou o comentário – “que somos nós – e não eles – que estamos sujeitos a quase 20 mil sanções. Que somos nós – e não eles – que temos sido repetidamente chamados de ‘país posto de gasolina’, ‘que não tem especialistas em TI qualificados, porque ‘todos foram embora’”.
Segundo Anton Gorelkin, vice-presidente do Comitê Estatal de Política de Informação da Duma, a Rússia foi afetada em menor medida por esta falha, “principalmente devido à estratégia de substituição de importações e soberania tecnológica”.
De acordo com a Ria Novosti, “quanto mais ativamente Washington e Bruxelas pressionavam Moscou e Pequim, mais rápido se processava o processo de substituição de importações. Quanto mais limitados estávamos no acesso às tecnologias informáticas com ‘moléculas de democracia’ incorporadas, mais ativamente desenvolvíamos o nosso próprio sector de TI.”
“Como resultado, só em 2022-2023, o número de fabricantes nacionais [russos] na área de tecnologia da informação aumentou em mais da metade. Graças a isso, foi possível cobrir as necessidades mais importantes do país em software próprio e sistemas informáticos abrangentes”.
O Global Times – jornal chinês de língua inglesa que trata das questões mais polêmicas – analisou o apagão da Microsoft-CrowdStrike sobre outro enfoque, ao destacar que o incidente da “tela azul da morte” lembra que “o ciberespaço é uma parte importante do espaço digital e a segurança cibernética precisa ser mantida pela comunidade internacional”.
“O campo da informação na Internet tornou-se agora um componente crucial da infraestrutura moderna. Qualquer ameaça à segurança cibernética pode ter efeitos generalizados em um país e sua sociedade” – como no incidente envolvendo o sistema operacional Microsoft Windows.
Esses incidentes ressaltam a natureza global dos riscos cibernéticos, exigindo um esforço coletivo de Estados soberanos, organizações internacionais, empresas de internet, comunidades técnicas e o público em geral para enfrentar a vulnerabilidade do ciberespaço e os riscos que ele traz, salientou o GT.
“Com a ajuda da tecnologia da informação, a comunidade global tornou-se uma rede estreitamente interconectada de interesses compartilhados e destino compartilhado. Garantir a segurança da rede requer a colaboração de todos os atores no espaço da rede internacional.”
“Depender apenas das principais empresas para liderar os esforços de segurança de rede, como alguns países defendem, pode dificultar não apenas o compartilhamento inclusivo dos resultados da governança, mas também introduzir novos riscos de segurança”, advertiu a publicação chinesa
O GT lembrou que, como principal força motriz por trás do desenvolvimento inicial da internet, os EUA também monopolizaram a tecnologia da internet por certo tempo.
“Os gigantes da internet que monopolizam essas tecnologias têm, portanto, uma voz forte na governança internacional do ciberespaço”, mas o sistema operacional Microsoft Windows experimentou incidentes de “tela azul da morte” em grande escala mais de uma vez
As questões de segurança – destacou o GT – são cruciais para o bem-estar das pessoas em todos os países, e o ciberespaço é uma comunidade comum para a segurança e responsabilidade humanas.
“O ciberespaço não deve cair na armadilha da concorrência extrema ou da repressão maliciosa, mas deve promover uma integração de interesses baseada na confiança mútua a diferentes níveis da comunidade internacional.”
A prática tem mostrado que, para alcançar o objetivo de governança global da internet, é necessário primeiro estabelecer diálogos bilaterais e plataformas de cooperação entre países, especialmente entre potências relevantes da rede, como a China e os EUA têm feito.
“Em segundo lugar, a soberania das redes é um pré-requisito para a cooperação multilateral na governação das redes, mas, ao mesmo tempo, é também necessário que os países participem ativamente nos mecanismos de governação da cooperação multilateral global, a fim de se envolverem no diálogo e nas negociações em maior escala e procurarem estabelecer um consenso universal.”
Em terceiro lugar, tal como em muitas outras áreas da governação global, a promoção da governação global da segurança das redes “não pode ser alcançada sem a manutenção da autoridade e do estatuto das Nações Unidas”, destacou.
O GT alertou que alguns países veem o ciberespaço como um novo campo de batalha para a competição estratégica de grandes potências, promovem o “desacoplamento” na tecnologia da internet, criam artificialmente segurança de rede de “pequeno quintal, cerca alta” e priorizam conflitos de valor e seus próprios interesses estratégicos em detrimento da estabilidade e coordenação do ciberespaço.
“Os países devem manter a filosofia de ampla consulta, contribuição conjunta e benefícios compartilhados, inovar modelos de cooperação, defender e aprimorar a autoridade e o papel das Nações Unidas e mover o sistema de governança de segurança de rede global em uma direção mais justa, justa e eficaz.”
Por uma estranha coincidência, a CrowdStrike, que ganhou as manchetes pelo bug que causou o maior apagão da internet da história, é aquela mesma que, em 2016, se tornou notória por ser contratada para uma “investigação” sobre um vazamento de e-mails da Direção Nacional Democrata – que revelavam que a DNC sabotara a pré-candidatura de Bernie Sanders para favorecer Hillary Clinton.
Em suma, a CrowdStrike se prestou a servir de instrumento para a falsidade que acabou conhecida como “Russiagate”, a inexistente invasão por hackers russos dos servidores do Partido Democrata para “favorecer Trump”. Como os Veteranos da Inteligência pela Paz na época provaram, era fisicamente impossível que os arquivos tivessem sido hackeados, tendo havido tão simplesmente uma cópia por pendrive, que foi entregue ao WikiLeaks para divulgação.
Fonte: Papiro