Ubes elege Hugo Silva, novo presidente, e define agenda
No encerramento do 45º Congresso da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Conubes), realizado no ginásio do Mineirinho em Belo Horizonte, Hugo Silva, 20 anos, estudante do Instituto Federal de São Paulo, foi eleito presidente da Ubes. O evento, iniciado na sexta (14) e encerrado no domingo (16), contou com a participação de milhares de estudantes de todo o Brasil, marcando um dos maiores congressos da história da organização.
Hugo Silva terá, a partir de agora, a responsabilidade de representar os mais de 40 milhões de estudantes do ensino médio, fundamental e técnico brasileiro. A plenária final definiu os rumos do movimento estudantil para os próximos anos e a eleição da nova diretoria da entidade. A chapa da nova diretoria da UBES “Unidade e luta para reconstruir a educação e o Brasil” obteve 82,69% dos votos.
Em entrevista, o novo presidente da entidade destacou a importância do congresso deste ano, que reuniu cerca de 8 mil estudantes de diversos estados brasileiros. “A galera participou nos debates, sempre bem cheios, bem politizados, com muitas falas, muita agitação. Foi um congresso histórico por ser o maior já realizado com estudantes participando pela primeira vez, uma galera muito nova, numa unidade das forças políticas em torno do combate ao fascismo no Brasil, que se dá pelas mãos dos estudantes”, afirmou Hugo.
Entre as principais pautas discutidas, destacam-se a resistência contra o projeto de desmonte da escola pública por meio da militarização e privatização das escolas públicas, além da defesa do passe livre estudantil, que Hugo considera fundamental ao acesso e para prevenir a evasão escolar, além da luta pela universalização do programa Pé de Meia, conquistas recentes da UBES. O Pé de Meia é uma poupança que o estudante acumula conforme conclua as etapas educacionais e pode sacar após o ensino médio.
“A indicação da Jade [ex-presidente da Ubes], na abertura do Congresso da Ubes, como embaixadora do Pé de Meia e foi um momento bem importante para a nossa geração dos estudantes secundaristas. No próximo período, os estudantes vão ter que resistir e lutar muito para garantir que esse seja um direito de todos os estudantes secundaristas brasileiros”, alertou.
Hugo Silva, conhecido por sua trajetória de liderança desde os tempos de grêmio escolar até os desafios enfrentados durante a pandemia, ressaltou que um dos primeiros desafios de sua gestão será a votação do novo ensino médio (NEM) no Senado Federal, ainda nesta terça-feira (18). “Precisamos assegurar que esse projeto atenda aos interesses dos estudantes, que são os principais afetados por essa reforma educacional”, afirmou. O NEM forma para uma perspectiva tecnicista e mecânica do mercado de trabalho, limitando o potencial dos estudantes, segundo o líder estudantil.
Ele disse estar animado para assumir os desafios, especialmente de enfrentar os cortes orçamentários da educação. “Estou com muita vontade de rodar os estados do Brasil, passar em muita escola, mobilizar estudantes pra gente fazer e construir uma nova escola no nosso país. A gente discutiu muito durante o congresso a situação das escolas públicas do Brasil e apesar de a gente ter tido uma melhora do investimento no orçamento, cabe a nós defender mais ainda esse projeto. Então, com muito gás, a gente conseguir avançar um projeto de escola que tem a nossa cara, com cultura, com arte, com ciência”, pontuou.
Congresso histórico
Os estudantes também entregaram a carta de reivindicações da entidade a Márcio Macêdo, Ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República
Durante o congresso, também foi concedido o título de Patrono dos Estudantes Secundaristas a Edson Luís de Lima Souto, em reconhecimento à sua luta pela educação pública durante a ditadura militar. O evento reafirmou o compromisso da UBES com uma educação pública, gratuita e de qualidade para todos os brasileiros.
As mesas de debate abordaram temas como a conjuntura nacional, a juventude negra, o direito à cidade e o futuro da educação. Especialistas e representantes de movimentos sociais destacaram a importância da organização estudantil na defesa dos direitos educacionais e na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Houve ainda atos contra o PL 1904 (conhecido como PL do estupro infantil), solenidades pelos estudantes e povo gaúcho, combate ao genocídio da juventude negra e os desafios do ensino técnico.
Ao longo dos três dias de congresso, os estudantes participaram de oficinas sobre saúde, diversidade e outros temas relevantes para o movimento estudantil. Blocos de carnaval também animaram os participantes, celebrando a cultura brasileira e fortalecendo os laços entre os estudantes de diferentes regiões do país.
Os estudantes também entregaram a carta de reivindicações da entidade ao Márcio Macêdo, Ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, e demais autoridades presentes. Mais do que um simples ato formal, este evento serviu como uma plataforma para os estudantes secundaristas apresentarem suas demandas por um futuro com educação pública de qualidade para todos.
Na carta entregue, a UBES ecoa a voz de milhares de estudantes brasileiros ao cobrar medidas urgentes para a transformação do cenário educacional do país. Entre as principais reivindicações estão a revogação do Novo Ensino Médio (NEM), considerado prejudicial ao desenvolvimento integral dos alunos; a implementação de um novo Plano Nacional de Educação (PNE) que atenda às reais necessidades dos estudantes; o fim da militarização das escolas, que fere a autonomia educacional e os direitos humanos; a garantia de merenda escolar de qualidade, essencial para a saúde e o bem-estar dos alunos; e o investimento na formação docente, pilar fundamental para uma educação de excelência.
Trajetória de desafios
Com a eleição de Hugo Silva, a UBES inicia uma nova fase de mobilização e resistência frente aos desafios que cercam a educação pública no Brasil. Sua trajetória, marcada pelas mobilizações dos últimos anos pela revogação do Novo Ensino Médio que ganharam o país, contra a militarização e privatização das escolas.
Nascido e criado na região de Uruaí, periferia simples de Campos dos Goytacazes, ele se interessou por política pela primeira vez em 2018, quando mudou de escola e entrou para o grupo de Whatsapp da galera. Naquele ano, aos 16, viveu intensamente o noticiário e os debates sobre acontecimentos como o assassinato de Marielle Franco, a prisão de Lula, a eleição de Bolsonaro.
Inteligente, questionador e curioso, aproximou-se do grêmio da escola. Em pouco tempo já era presidente da entidade. Em 2019, conheceu mais de perto a UBES participando de um ENET – Encontro Nacional de Escolas Técnicas. Em 2020, já estava atuando no coração do movimento secundarista brasileiro. Mas veio a pandemia. Hugo Silva então acabou fazendo parte da geração de jovens da UBES que fizeram a luta da entidade no momento mais difícil da história recente do Brasil, com a crise das escolas fechadas e da enorme dificuldade para garantir o ensino online nas redes de ensino de norte a sul.
Hugo criou a campanha “Celular pra quem precisa”, reivindicando que os estudantes pobres, das escolas públicas tivessem as mesmas condições tecnológica dos mais ricos para continuar estudando de forma remota durante a pandemia. Também conseguiu se reunir com o secretário de Educação do Rio de Janeiro e convencê-lo de abrir as escolas, especificamente, para servir a merenda escolar aos estudantes que estavam em situação de miséria no período do isolamento social.
Durante esses dois anos, a militância da UBES nem mesmo chegou a se conhecer pessoalmente. Toda a luta era feita de forma online, pelos grupos de aplicativos, emails, videoconferências. Mas quando a normalidade voltou, em 2022, ele foi imediatamente escolhido para ser o Diretor de Escolas Técnicas da UBES, cargo que exerceu durante toda a última gestão da entidade.
Hugo organizou o maior Encontro de Escolas Técnicas da UBES, no ano passado e ajudou o movimento a retomar a sua mobilização. Tornou-se o grande nome para assumir a presidência da entidade e agora prepara-se para o que vem por aí.
Hugo promete voltar a mobilizar a UBES com toda força nas ruas, ainda que a entidade esteja no mesmo campo político do governo Lula. “Não podemos ter medo de pressionar, de protestar, isso não quer dizer que estamos enfraquecendo o governo, pelo contrário, estamos é mostrando a pressão popular nesses temas que não concordamos”, afirma.
(por Cezar Xavier)