Saída das tropas norte-americanas foi exigida pela população do Níger nas ruas | Vídeo

269 soldados norte-americanos e equipamentos foram retirados pelos EUA do Níger na sexta-feira (7), dando início à retirada dos EUA do país da região africana do Sahel, anunciada em abril, e que deverá ser concluída até 15 de setembro. De acordo com o comunicado conjunto, o primeiro transporte militar deixou a Base 101 da Força Aérea dos EUA em Niamey, na capital do Níger.  

A retirada norte-americana se segue à saída já concluída de tropas francesas e alemãs que estavam anteriormente em solo do Níger a pretexto de combater o terrorismo jihadista, e inclui o fechamento da base de drones 201 operada pelo Pentágono desde 2014, como exigiu o governo instituído após a queda do presidente fantoche Mohamed Bazoum em julho do ano passado.

De acordo com o entendimento entre as duas partes, a retirada das tropas norte-americanas deve ser realizada “de forma segura, ordenada e responsável”. Nas semanas recentes, soldados norte-americanos tiveram de conviver com instrutores militares russos recém chegados na mesma base.

Antes de dar início à retirada, Washington tentou reverter a situação, através de sanções e ameaças de invasão pela assim chamada comunidade da África Ocidental, desde a Nigéria. Outros 750 soldados norte-americanos ainda terão de sair. A ingerência também pretendia impedir que o país africano estreitasse relações com a Rússia e o Irã.

Ex-colônia francesa de 25 milhões de habitantes e principal fornecedor de urânio para o sistema energético da França, o Níger fica no Sahel, a região subsaariana assolada por milícias jihadistas, um efeito colateral da destruição da Líbia pela Otan e sua tropa de choque jihadista e assassinato do líder Muammar Khadafi em 2011, que desestabilizou a região.

Desde a intervenção da Otan na Líbia, extremistas ligados ao Estado Islâmico e organizações análogas causaram milhares de mortes e deslocaram seis milhões de pessoas no Sahel. Quando as tropas francesas foram expulsas do vizinho Mali no ano passado, o então presidente Bazoum acertou com Paris a ida dessas forças para o Níger.

Antes do Níger, levantes contra a persistência da dominação colonial sob novas formas, por décadas, haviam ocorrido em outros países do Sahel, como Burkina Faso, Guiné e Mali.

O levante que pôs fim ao entreguismo de Bazoum foi saudado por multidões nas ruas de Niamey, como já ocorrera em outros países africanos, que recorreram à Rússia buscando apoio e assistência, assim como décadas atrás haviam feito com a União Soviética.

A França, ex-potência colonial, graças ao chamado “franco das colônias”, o CFA, na prática seguia controlando, décadas após a independência, a economia do Níger – assim como das demais ex-colônias africanas.

O Níger jamais deixou a condição de mercado cativo para a França, que também controla o urânio que abastece as centrais nucleares francesas, enquanto o Níger continua sendo um dos países mais pobres do mundo. Até hoje, o Níger, assim como os demais países da região, tem de depositar no BC francês 50% das reservas.

Diante das pressões e ameaças provenientes de Paris e Washington, Níger, Burkina Faso e Mali estabeleceram uma cooperação no âmbito da Aliança do Sahel. Como destacou o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, os três estados africanos procuram “soluções africanas para os problemas africanos”.

Além de urânio, o Níger é rico em ouro e petróleo. Como signo das mudanças em curso, em janeiro o Níger nacionalizou o fornecimento de água, criando uma empresa estatal em substituição ao monopólio até aqui exercido pelos franceses. O sistema sob controle francês só atendia 46% da população.

Fonte: Papiro