Putin e To Lam se encontram em Hanoi diante do busto de Ho Chi Minh | Foto: Reuters

“A Rússia e o Vietnã reafirmam seu interesse em promover o processo objetivo de criação de uma ordem mundial multipolar mais justa e sustentável, baseada nas normas e princípios da Carta das Nações Unidas e do direito internacional, incluindo o respeito pela soberania e integridade territorial, a autodeterminação dos povos, a não ingerência nos assuntos internos dos Estados, o não uso da força ou ameaça de força, a resolução de litígios por meios pacíficos”, destaca o comunicado conjunto assinado  entre os dois governos durante a visita do presidente russo Vladimir Putin ao Vietnã, publicado pelo serviço de imprensa do Kremlin na quinta-feira (20).

“Estamos firmemente determinados a aprofundar a parceria estratégica abrangente com o Vietnã, que continua a ser uma das prioridades da política externa russa. Estamos prontos para continuar o trabalho conjunto ativo em uma vasta gama de tópicos, incluindo as esferas econômica, científica e técnica, defesa, segurança e relações humanitárias”, afirmou Vladimir Putin em Hanói, onde se encontra em visita oficial.

“O Vietnã foi e continua a ser nosso amigo e parceiro confiável. As relações entre os nossos países foram testadas pelo tempo, inclusive durante os anos das heroicas batalhas do povo vietnamita pela independência”, enfatizou Putin, na quinta-feira (20), após conversações com o presidente vietnamita, To Lam.

O dirigente russo acrescentou que estas relações se baseiam na confiança e na assistência mútua, o que permite resolver as tarefas mais difíceis e avançar com firmeza.

Destacou a necessidade do uso ativo de moedas nacionais em acordos transfronteiriços entre a Rússia e o Vietnã. Ambos os Estados, sublinhou Putin, procuram articular canais estáveis ​​de cooperação entre os seus bancos.

“É simbólico que o momento da minha visita ao Vietnã tenha coincidido com uma data significativa – o 30º aniversário da assinatura do tratado sobre os fundamentos das relações amistosas, que estabeleceu o quadro jurídico para o seu futuro desenvolvimento”, destacou Putin.

To Lam mencionou a igualdade e o respeito mútuo, bem como a não interferência nos assuntos internos de cada um, como os princípios fundamentais de uma parceria estratégica abrangente. E ainda destacou o reforço da confiança política através do intercâmbio de delegações a diferentes níveis, especialmente as de alto escalão.

Aumentar a eficiência de projetos-chave nas áreas da energia, petróleo e gás foi outro dos temas apontados, e nesse sentido afirmou que criarão condições favoráveis ​​para que empresas de ambos os países expandam os seus investimentos e operações nos territórios um do outro e a realização de negociações para melhorar o Acordo de Comércio Livre entre o Vietnã e a União Econômica da Eurásia. O volume de negócios do comércio está crescendo. Aumentou mais de 8% no ano passado.

O líder vietnamita acrescentou que Hanói e Moscou continuarão unidos em questões de defesa e segurança. “Lutaremos juntos contra os desafios novos e tradicionais do mundo, de acordo com o direito internacional”, afirmou, registrando que os governos, partidos, parlamentos e vários departamentos já estão em contacto.

A Rússia e o Vietnã concordaram com o cronograma para a construção de um centro de ciência e tecnologia nuclear em território vietnamita, informou o correspondente do Sputnik.

Da mesma forma, os dois países desenvolvem e fortalecerão o trabalho em outras áreas, como cultura, turismo, interação juvenil, educação e esporte.

Na sua quinta visita ao Vietnã, o presidente russo terá encontros com o primeiro-ministro vietnamita, Pham Minh Chính, o secretário-geral do Comitê Central do Partido Comunista do Vietnam, Nguyen Phu Trong, e o chefe da Assembleia Nacional, que é o parlamento unicameral do Vietnã.

RÚSSIA E COREIA DO NORTE NÃO ACEITAM CHANTAGEM

Antes de chegar a Hanói, Vladimir Putin visitou a Coreia do Norte (República Popular Democrática da Coreia – RPDC), onde se encontrou com o líder coreano Kim Jong-un. Após as conversações, os dois líderes assinaram um acordo de defesa mútua denominado “Tratado de Parceria Estratégica Abrangente”.

“O tratado de associação global assinado hoje prevê, entre outras coisas, assistência mútua em caso de agressão contra uma das partes”, relatou Putin, especificando que a Rússia não descarta a cooperação técnico-militar com a Coreia do Norte. “Hoje lutamos juntos contra as práticas hegemônicas e neocolonialistas dos Estados Unidos e dos seus satélites”, acrescentou o presidente, citado pela comunicação social russa, durante uma festa de gala em sua homenagem.

A Rússia e a Coreia do Norte “defendem consistentemente a ideia de construir uma ordem mundial multipolar mais justa e democrática” baseada no direito internacional e na diversidade cultural e civilizacional, apontou.

“A Rússia e a Coreia seguem uma política externa independente e não aceitam a linguagem da chantagem” reiterou Putin, e Kim saudou uma “nova era” de relações bilaterais. “A RPDC expressa o seu total apoio e solidariedade com o governo” na sua ofensiva na Ucrânia, que envolveu uma bateria de sanções contra Moscou, sublinhou o líder coreano.

“O governo da República Popular Democrática da Coreia aprecia a importante missão e o papel de uma Federação da Rússia forte na manutenção da estabilidade estratégica e do equilíbrio no mundo, e expressa total apoio e solidariedade ao governo, ao Exército e ao povo russo na realização da operação militar especial na Ucrânia para proteger a soberania, os interesses de segurança e a integridade territorial”, disse o ainda Kim.

Moscou e Pyongyang continuarão a opor-se “à prática de tentativa de estrangulamento por sanções como uma ferramenta que o Ocidente está habituado a usar para manter a sua hegemonia nas esferas política, econômica e outras”, destacou Putin, frisando que o regime de sanções do Conselho de Segurança da ONU iniciado pelos EUA “contra a Coreia do Norte deve ser reconsiderado”.

A causa da escalada das tensões militares e políticas “é a política de confronto dos Estados Unidos de expandir a sua infra-estrutura militar na região do Nordeste Asiático”, constatou Putin. Tais medidas minam a paz e a estabilidade e ameaçam todos esses países.

Moscou rejeita “tentativas de culpar a RPDC pela deterioração da situação”. Pyongyang tem o direito de tomar “medidas razoáveis” para fortalecer as suas próprias capacidades de defesa, garantir a segurança nacional e proteger a sua soberania, apontou.

As conversações de hoje em Pyongyang “contribuirão para o desenvolvimento da amizade e da parceria entre a Rússia e RPDC e para o fortalecimento da segurança em toda a região”, disse Kim Jong Un.

O volume de negócios entre os países ainda é modesto em termos absolutos, mas apresenta uma tendência ascendente: “Em 2023 o volume de negócios aumentou nove vezes, nos primeiros 5 meses deste ano o crescimento foi de mais 54%”.

De acordo com a TASS, a delegação russa visitante que participou da negociação entre Putin e Kim foi formada por muitos altos funcionários, incluindo o ministro das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, o ministro da Defesa, Andrey Belousov, o ministro dos Recursos Naturais, Alexander Kozlov, o ministro da Saúde, Mikhail Murashko, o ministro dos Transportes, Roman Starovoit, chefe da Russian Railways Oleg Belozerov e chefe da Roscosmos (corporação espacial estatal da Rússia) Yury Borisov.

Fonte: Papiro