Julian Assange já em liberdade, minutos antes de embarcar para sua terra natal, Austrália | Foto: AFP

Em troca dos EUA reconhecerem seus 1901 dias na penitenciária de Belmarsh como prisão já cumprida, Assange irá se declarar “culpado” de uma única de 18 acusações contra ele, a de “conspirar para disseminar informações de defesa nacional”, encerrando o assunto da extradição. Acordo será formalizado em audiência na quarta-feira nas Ilhas Marianas

“Julian Assange está livre”, anunciou o WikiLeaks na noite de segunda-feira (24), informando que foi alcançado um acordo com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, depois de 1.901 dias na prisão britânica de segurança máxima de Belmarsh, e divulgando imagens dele no aeroporto Stansted embarcando em um avião para deixar o Reino Unido, rumo à Austrália.

Sua soltura foi tornada pública na noite de segunda-feira, com a divulgação dos documentos da justiça norte-americana. Pelo acordo, Assange irá comparecer a um tribunal nas Ilhas Marianas, colônia norte-americana no Pacífico que é próxima à Austrália, onde irá se declarar culpado de uma única das 18 acusações apresentadas contra ele, a de ter “conspirado” para obter documentos de segurança nacional dos EUA com a ex-soldado Chelsea Manning, enquanto a justiça dos EUA irá considerar como pena cumprida os 62 meses que ele passou encarcerado em Belmarsh.

Para o WikiLeaks, o que possibilitou chegar a esse acordo foi a campanha pela libertação de Assange que foi abraçada no mundo inteiro, congraçando entidades de base, organismos de defesa da liberdade de imprensa, legisladores e líderes de todo o espectro político, até à ONU.

Foi isso – destacou o WikiLeaks – que abriu espaço para essa longa negociação. “Depois de mais de cinco anos em uma cela de 2×3 metros, isolado 23 horas por dia, ele logo irá se reunir com sua esposa Stella Assange, e seus filhos, que apenas conhecem seu pai atrás das grades.”

O WikiLeaks agradeceu a todos “que se levantaram conosco, lutaram conosco e permaneceram integralmente comprometidos na luta por sua liberdade”. “A liberdade de Julian é a nossa liberdade”, enfatizou o comunicado.

Nesses cinco anos, Assange foi o preso político mais famoso do mundo, depois de ter sido arrancado da embaixada do Equador em Londres, onde ficara asilado por outros sete anos, para evitar sua extradição para os EUA, uma perseguição que o Relator Especial da ONU para a Tortura, Nils Melzer, considerou tortura.

CRIMES DE GUERRA DOS EUA EXPOSTOS

Desde 2010, quando vieram a público as denúncias dos crimes de guerra, a perseguição a Assange nunca parou e a CIA chegou a planejar sequestrar e matar Assange, que foi espionado até sob asilo. O arquivo do Pentágono que o WikiLeaks revelou ao mundo, um vídeo, tornou-se conhecido como o “Assassinato Colateral”. A execução de 18 civis – inclusive dois jornalistas da Reuters – em Bagdá em 2007, por um helicóptero Apache, crime até hoje sem punição.

No governo Trump, o pedido de extradição foi oficializado, sob o pretexto de que a denúncia dos crimes de guerra dos EUA no Iraque e no Afeganistão seria “espionagem”, o que foi mantido por Biden.

As 18 acusações contra ele correspondiam a 175 anos de cárcere, em um regime penitenciário tão brutal que sua vida estaria em perigo, segundo avaliou até mesmo a juíza britânica da primeira instância. A corte superior britânica chegou a autorizar a extradição de Assange, mas no último minuto em maio aceitara conceder ao jornalista o direito de apelar.

Assange não passará nenhum tempo sob custódia dos EUA e receberá crédito pelo tempo passado encarcerado no Reino Unido, registrou Joe Lauria, do Consortium News. “Assange retornará à Austrália, de acordo com uma carta do Departamento de Justiça.”

O New York Times noticiou que Assange concordou com a única acusação da Lei de Espionagem – “conspiração para disseminar informações de defesa nacional” – em troca de uma sentença de cinco anos, que os EUA concordaram que já havia sido cumprida em prisão preventiva em Belmarsh.

Bruce Afran, advogado constitucional dos EUA, disse ao Consortium News, “tecnicamente, ele está vindo para os EUA [nas Ilhas Mariana], mas não para o distrito onde foi indiciado”. “E ele poderia ser levado sob custódia, mas presumimos que os EUA agirão de boa fé.”

Em vídeo divulgado à noite, Stella anunciou que vai criar uma vaquinha de emergência para custear a recuperação da saúde de Assange. O vídeo foi gravado na semana passada, quando já estavam avançadas as negociações com Washington.

Emocionada com a notícia da libertação de Julian Assange, Stella – que esteve presente em inúmeros atos pela libertação do jornalista – agradeceu aos que saíram às ruas junto com ela: “Palavras não podem expressar nossa imensa gratidão a VOCÊS – sim, VOCÊS, que se mobilizaram durante anos e anos para tornar isso realidade”, escreveu.

“Estou confiante que esse período das nossas vidas está acabando. Se tudo der certo, Julian agora estará em um avião a caminho da liberdade. O que começa agora, com a liberdade de Julian, é um novo capítulo das nossas vidas e pedimos pelo seu apoio”, afirmou Stella.

Fonte: Papiro