Os partidos de Macron e o do alemão Scholz foram derrotados nas urnas pela submissão aos EUA/Otan | Foto: FA

A derrota de políticos submissos aos ditames dos EUA via Otan contra a Rússia na Ucrânia, nas recém realizadas eleições para o Parlamento europeu, “não é um bom sinal para Biden”, assinalou, em uma postagem no Twitter, o ex-agente do NSA e denunciante do grampo em massa dos EUA contra o mundo inteiro, Edward Snowden, que acrescentou que Washington é quem decide quando os conflitos começam e terminam.

Enquanto alguns tentaram esconder o que moveu o repúdio dos eleitores na União Europeu, atribuindo-o fundamentalmente ao suposto fortalecimento da extrema-direita e do conservadorismo, Snowden foi direto ao ponto, ao mostrar que é a oposição à guerra de expansão da Otan e à crise econômica – um efeito colateral das sanções contra a Rússia, ao tornar a energia muito mais cara e, portanto, o custo de vida, ao abdicar do gás barato russo pelo cara e mais poluente gás do fracking importado dos EUA – que explicam tal desdobramento.

No caso da França, isso se tornou absolutamente evidente, dado o frenesi com que o presidente Macron tem se lançado a escalar a guerra, ameaçando com tropas no terreno na Ucrânia e fornecendo mísseis de longo alcance de fabricação francesa para ataques dentro da Rússia, além de aviões Mirage 2000.

Macron acabou sofrendo uma derrota acachapante – 15,1% a 31,5% – para o partido eurocético Reunião Nacional, encabeçado por Madame Le Pen, e optou por dissolver o parlamento e antecipar as eleições, trombando com a Olimpíada de Paris.

Nas vésperas da eleição, Macron recepcionou o chefe do regime neonazi de Kiev, Volodymyr Zelensky, usando o acontecimento para fazer propaganda de sua política belicista e demente. Em maio, segundo o instituto de pesquisas IFOP, sua aprovação mal chegava a 31%.

Além de entusiasta da guerra, foi também Macron que impôs aos franceses o aumento da idade mínima para aposentadoria, sem sequer ir a votação no parlamento, sob um dispositivo constitucional muito poucas vezes utilizado.

Sobre os arreganhos belicistas de Macron, Madame Le Pen dissera que “temos a sensação de que ele quer ir para a guerra e que está fazendo tudo para tentar agravar a pressão que pode levar a uma escalada amanhã”.

O fiasco nas urnas se repetiu com Scholz, o premiê social-democrata da Alemanha que não achou nada de mais seu amigo Biden explodir os gasodutos Nord Stream e que, na véspera da eleição, liberou os ucranianos para usar armas alemãs contra território russo internacionalmente reconhecido, o que não acontecia desde a II Guerra Mundial.

O que serviu para impulsionar a votação no Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão), que é contra a guerra na Ucrânia e contra o envio de armas ao regime de Kiev, que subiu para 16% – mais do que os 14% do partido de Scholz. Por enquanto, a parcela principal desse voto de protesto acabou desaguando no partido de Merkel.

Situação descrita pelo jornal espanhol El País como “o eixo franco-alemão range”.

Na Bélgica, o primeiro-ministro, Alexander De Croo, demitiu-se depois de o seu partido ter derrotado nas eleições parlamentares nacionais e europeias. Nas eleições europeias, o partido Open VLD de De Croo obteve apenas 5,8% dos votos, de acordo com a sondagem da RTBF. Já os partidos Vlaams Belang e N-VA estavam empatados, com 14,8% e 14,2% dos votos, respectivamente, de acordo com a pesquisa RTBF.

Na real, o Parlamento Europeu é apenas um parlatório, usado para dar uma maquiagem democrática na burocracia de Bruxelas, por ser o único organismo efetivamente eleito. O comparecimento às urnas foi de 51%.

A importância dessas eleições não foi se tal ala do neoliberalismo ou do conservadorismo ganhou um pouco mais ou um pouco menos de peso nesses conchavos, mas o fato de que se tornou o mecanismo pela qual a população do bloco europeu se pronunciou contra a escalada na guerra por procuração da Otan contra a Rússia na Ucrânia, contra a inflação causada pelas sanções contra a Rússia e contra a desindustrialização europeia, em favor dos EUA.

A escalada vinha tomando contornos dramáticos nas últimas semanas, devido ao estado de colapso das tropas do regime neonazi de Kiev, com Macron fazendo ameaça de intervenção na Ucrânia e o secretário-geral da Otan, Jens Stoltemberg, em campanha aberta pelo fim de qualquer restrição à insanidade do regime de Kiev – o que implica em ameaçar uma superpotência nuclear.

Embora isso não tenha sido destacado nos jornais ocidentais, as provocações do regime de Kiev chegaram ao ponto de bombardear um radar estratégico do escudo de defesa contra ataques nucleares da Rússia.

Escalada que também se refletiu em outros terrenos, como a intensificação das gestões, no G7, para assaltar os ativos russos congelados (principalmente na Europa) para pagar os gastos da guerra na Ucrânia, e as ameaças de aplicar contra empresas chinesas que mantém comércio com a Rússia as chamadas sanções secundárias.

Fonte: Papiro