Ouvidoria das Polícias repudia presença de influenciador em operação militar
O influencer usando equipamento restrito enquanto acompanha uma ronda por comunidade de São Paulo. Imagem reprodução do vídeo do Youtube
A Polícia Militar de São Paulo e a Polícia Civil estão sob investigação após a publicação de um vídeo pelo influenciador americano Gen Kimura, que documentou suas experiências com policiais militares paulistas durante 24 horas. O vídeo, postado nas redes sociais no início deste mês, gerou polêmica ao mostrar Kimura participando de atividades policiais, incluindo perseguições e vistorias em favelas de São Paulo, sem nenhum treinamento adequado.
Em um vídeo publicado recentemente, Kimura acompanha policiais militares paulistas durante uma perseguição e participa de diversas atividades policiais ao longo de 24 horas. A divulgação do material levantou questionamentos sobre a legalidade das ações e a adequação dos procedimentos mostrados.
Procedimentos inadequados e críticas
O ouvidor das polícias, Claudio Aparecido da Silva, afirmou ao Portal Vermelho que foi aberto pela Ouvidoria um procedimento no qual foram acionadas a Corregedoria da Polícia Militar, a Corregedoria da Polícia Civil e também o Ministério Público para que tomem as providências que julgarem necessárias.
Cláudio expressou sua indignação em entrevista: “A atividade policial é exclusiva de policiais. É um absurdo embarcar um civil numa viatura da polícia militar e colocá-lo em ocorrências sem preparo. Realizar incursões em comunidades, entradas em domicílios sem mandados e comemorar mortes são condutas inaceitáveis.”
No vídeo, Kimura é visto dentro de uma viatura militar, acompanhando treinamentos e visitas a depósitos de armamentos e equipamentos restritos. Durante uma das perseguições, um policial chega a dizer: “Quando matamos um bandido comemoramos com charutos e cervejas.” A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) afirmou que essa frase não condiz com as práticas adotadas pelas forças de segurança do Estado.
“A instituição que deveria proteger as pessoas tem no seu seio membros que comemoram as mortes, dá acesso a áreas restritas, áreas com depósitos de material bélico da própria corporação, permitem o uso de equipamento da corporação em pessoa que não é membro da corporação”, completou.
Repercussão e medidas
A SSP-SP destacou que a dinâmica mostrada no vídeo não é permitida e será parte das investigações. “As polícias paulistas são instruídas e continuamente capacitadas para agirem dentro da lei. Excessos e desvios não são tolerados e todos os casos são punidos com rigor. Além disso, a dinâmica do vídeo não é permitida de acordo com as regras internas da Corporação”, afirmou a SSP.
O ouvidor das polícias reforça a necessidade de corrigir esses erros: “Estamos empenhados em que as corregedorias e o Ministério Público atribuam as responsabilidades no sentido de educar as pessoas para que não repitam tais ações. A espetacularização da atividade policial e das humilhações é inadmissível.”
Claudio critica a exposição pública dos métodos e protocolos da polícia para ganhar ‘likes’ e simpatia. “Estamos empenhados em que as corregedorias, tanto da Polícia Militar quanto da Polícia Civil, apurem os fatos e atribuam as responsabilidades. É inadmissível embarcar pessoas não treinadas e ofertar equipamentos da corporação para invadir residências sem nenhum amparo legal”, concluiu Silva.
Ação correcional
O caso também chamou a atenção para a presença de Kimura com equipes da polícia científica, ampliando o alcance das investigações. A investigação envolverá tanto a Polícia Militar quanto a Polícia Civil, além da Polícia Científica. As corregedorias dessas instituições, junto ao Ministério Público, estão responsáveis por apurar os fatos e determinar as medidas necessárias. A SSP-SP ressaltou que adotará as medidas cabíveis perante os fatos identificados no vídeo.
Este episódio coloca em evidência questões importantes sobre o foco do trabalho da segurança pública e a exposição midiática de suas ações. A integração de civis em operações policiais sem o devido treinamento e o desrespeito às normas legais e internas são práticas que a sociedade e as autoridades não podem tolerar. O Ministério Público foi acionado para acompanhar o processo e garantir que todas as responsabilidades sejam atribuídas corretamente, com o objetivo de prevenir que episódios semelhantes ocorram no futuro.
(por Cezar Xavier)