640 milhões votaram nas eleições indianas | Foto: Narinder Nanu/AFP

O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, declarou vitória nesta terça-feira (4) nas eleições gerais da Índia para sua Aliança Democrática Nacional (NDA), encabeçada pelo Partido Bharatiya Janata (BJP), mas o resultado não só ficou aquém de alcançar a maioria qualificada de dois terços necessária para mudar a constituição, como também a aliança opositora INDIA, liderada pelo Congresso Nacional Indiano, o partido da luta da independência, contrariou as pesquisas de boca de urna, se saindo bem melhor que o previsto.

As eleições na Índia, que tiveram a duração de seis semanas, encerraram-se no domingo (2) e a apuração irá até terça-feira. Mais de 640 milhões de eleitores votaram, um comparecimento às urnas de 66%. São necessários 272 deputados para indicar o primeiro-ministro.

O BJP, que na eleição passada elegeu 303 deputados e acreditava em uma vitória esmagadora agora, viu no entanto sua bancada encolher, não devendo chegar a 240. Mas, com os aliados, pelas projeções da BBC pode ir a 290, o que garante a reeleição de Modi. A oposição terá em torno de 230.

A terceira maior economia do mundo sob o critério de paridade de poder de compra, a Índia é um dos países líderes do Sul Global, com enorme representatividade desde a Conferência de Bandung que abriu caminho para o Movimento dos Não Alinhados, integra o BRICS e o Tratado de Cooperação de Xangai, e tem se recusado a aceitar as sanções dos EUA contra a Rússia. É, ainda, uma potência nuclear.

No ano passado, a Índia se tornou o país mais populoso do mundo, superando a China, com 1,4 bilhão de habitantes. Vem sendo um dos países de maior crescimento no mundo, com seu PIB crescendo em média 5,6% entre 2014 e 2022.

“A vitória de hoje é a vitória da maior democracia do mundo”, disse Modi à multidão na sede do BJP, dizendo que os eleitores indianos “mostraram imensa fé” tanto em seu partido quanto em sua coalizão da Aliança Democrática Nacional.

“Os mais pobres deste país defenderam a Constituição da Índia”, disse Rahul Gandhi, o principal rosto do partido de oposição Congresso, chamando o resultado de mensagem do povo.

“Esta é a vitória do povo e uma vitória para a democracia”, disse a repórteres o presidente do Congresso Nacional Indiano, Mallikarjun Kharge.

Em seu discurso, Modi se comprometeu em promover a produção de defesa da Índia, aumentar os empregos para os jovens, aumentar as exportações e ajudar os agricultores. Na campanha, ele acenou com tornar a Índia um país desenvolvido “até 2047”.

A oposição acusa Modi e seu partido de dividirem o país, ao exacerbarem as contradições entre a maioria hindu e a minoria muçulmana, açulando o sectarismo – o que foi um ponto de polarização na campanha eleitoral – e de tornarem a Índia mais desigual.

Também acusa o BJP de querer dar fim às políticas de ação afirmativa a que as castas excluídas – como os assim chamados ‘intocáveis’, dalits – têm direito.

Payal, um morador da cidade de Lucknow, no norte do país, disse à AP que a eleição foi sobre a economia e o grande número de pessoas que vivem na pobreza na Índia. “As pessoas estão sofrendo, não há empregos, as pessoas estão em tal estado que seus filhos são obrigados a fazer e vender chá na beira da estrada”, disse Payal. “Isso é uma grande questão para nós. Se não acordarmos agora, quando vamos?”

Emblemático da polarização da campanha foi a declaração de Modi em um comício em abril de que “quando eles (a oposição) estavam no poder, eles disseram que os muçulmanos tinham o primeiro direito sobre a riqueza da nação. Isso significa que eles vão coletar a riqueza e entregá-la a quem? Para quem tem muitos filhos. Para infiltrados.”

Antes de Modi, só o líder da independência, Jawaharlal Nehru, havia conseguido conquistar um terceiro mandato.  Modi chegou ao poder em 2014. Será a primeira vez na era Mori que o BJP não garante uma vitória por conta própria e dependerá do apoio de outros partidos de sua coalizão.  O BJP chegou a sonhar em levar “400 cadeiras”.

Fonte: Papiro