Exigência de liberdade para Assange esteve presente em cartazes de manifestantes em todo o mundo | Foto: Dsnirl Leal Olivas/AFP

A saga de Julian Assange mostrou claramente que EUA têm usado sua “segurança nacional” como um “véu” para esconder crimes de guerra, disse um dos advogados do fundador do WikiLeaks, Aitor Martinez.

A perseguição de quase uma década e meia ao editor e o caso de extradição também abriram um precedente muito perigoso, que ameaça todo o conceito de liberdade de imprensa, destacou o advogado.

Esta semana, concluiu-se um acordo entre Assange e o governo norte-americano, que encerrou o caso de extradição e permitiu sua libertação da prisão de segurança máxima de Belmarsh no Reino Unido, e sua reunião, com a mulher, dois filhos e familiares na Austrália, sua terra natal.

Para Martinez, o surgimento de um movimento global em defesa de Assange foi fundamental para o recuo de Washington, com o caso se tornando cada vez “mais tóxico” para o governo dos EUA.

“A verdade é que o governo dos EUA vinha pressionando pelo processo de extradição até recentemente e, apenas algumas semanas atrás, eles até forneceram garantias diplomáticas buscando a transferência efetiva de Julian Assange”, observou o advogado.

Ele frisou que a mobilização contra a extradição atingiu tal dimensão que acredita que não há “canto do mundo onde um movimento ‘Assange Livre’ não tenha surgido”.

O momento da resolução abrupta do caso de anos – acrescentou – provavelmente está ligado às eleições presidenciais dos EUA que se aproximam e à campanha em curso, onde estava fadado a emergir de uma forma ou de outra.

O caso “de alguma forma manchou a imagem dos Estados Unidos perante o mundo”, uma vez que “significou a perseguição política a um jornalista que simplesmente publicou informações verdadeiras que evidenciavam a prática de graves crimes de guerra”, sublinhou Martinez.

“Portanto, inquestionavelmente, o caso Assange teria surgido no âmbito dos debates presidenciais, e esta era a única maneira de encerrar um caso que inegavelmente não jogava a favor da imagem dos EUA no mundo”, disse.

Embora os políticos em Washington tenham optado por encerrar o caso, a comunidade de inteligência dos EUA o considerou como uma espécie de vingança pessoal contra o jornalista, afirmou Martinez.

“Este caso estava sendo radicalmente impulsionado pelo sistema de inteligência dos EUA e principalmente pela CIA como uma forma de vingança contra Julian Assange pelo material que ele havia publicado, que de alguma forma havia revelado a vergonha dos militares dos EUA em operações no exterior”, concluiu.

Fonte: Papiro