“Ameaça de guerra total contra o Líbano é blefe israelense”, acredita Emir Mourad
Líder do Hezbollah, Hassam Nasrallah diz que Israel é bem-vindo à guerra no Líbano.
O recente aumento das tensões na fronteira entre Israel e Líbano atingiu um novo patamar nesta terça-feira (18), quando o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, ameaçou o grupo libanês Hezbollah com uma “guerra total”. A ameaça surge em um contexto de intensos confrontos entre o Hezbollah e as forças israelenses, concomitantemente aos ataques de Israel a Gaza, sob a justificativa de erradicar o Hamas.
As declarações de Katz vieram após o Hezbollah divulgar imagens captadas por um drone sobrevoando Haifa, uma importante cidade portuária no norte de Israel. No vídeo, o Hezbollah identifica alvos militares, energéticos e civis, aumentando a pressão na já volátil fronteira. Desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, em 7 de outubro, a região tem sido palco de confrontos quase diários, resultando na morte de 473 pessoas no Líbano e 26 em Israel, incluindo civis e militares.
Em entrevista, Emir Mourad, secretário-geral da Coplac (Confederação Palestina Latinomericana e do Caribe), ofereceu uma perspectiva crítica sobre a situação, sugerindo que as ameaças de Katz são amplamente percebidas como blefes, tanto por analistas quanto por membros da comunidade internacional.
Para Emir Mourad, as ameaças de Israel são vazias e não representam um perigo real de escalada para um conflito total. Mourad argumenta que Israel não tem condições de abrir uma nova frente contra o Hezbollah e que os Estados Unidos, principal aliado de Israel, estão mais interessados em preservar a segurança de Israel do que em promover um conflito em larga escala.
“Isso é blefe. Israel não tem condição de abrir uma frente contra o Líbano, e os Estados Unidos não querem que isso aconteça. O Hezbollah está preparado e tem um banco de dados de alvos dentro de Israel, como mostrado no recente vídeo de Haifa”, afirma Mourad. Ele também destaca que o Hezbollah atua em solidariedade à Gaza e que qualquer intensificação no Líbano está diretamente ligada ao conflito em Gaza.
Ele destaca que a história de conflitos na fronteira entre Israel e Líbano sempre envolveu uma faixa de segurança dentro do território libanês, mas agora essa dinâmica mudou. Mourad aponta que a região fronteiriça está atualmente desocupada por colonos israelenses e que o Hezbollah tem consistentemente destruído radares e postos de defesa israelenses, enfraquecendo a capacidade de Israel de monitorar e responder a ataques nestes cerca de dez km de fronteira. Ele lembra que o Irã atacou Israel, recentemente, de uma distância de mais de 2 mil km.
A análise de Emir Mourad sugere que as ameaças de guerra total por parte de Israel contra o Hezbollah são mais retórica política do que uma estratégia prática. Mourad enfatiza que as ameaças de Katz servem mais a um propósito interno de apaziguar a opinião pública israelense do que a uma estratégia militar viável.
O líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, respondeu às ameaças de Katz de maneira desafiante, indicando que o grupo está preparado para qualquer conflito e reiterando seu apoio à resistência em Gaza. “Vocês são muito bem-vindos se quiserem guerra”, disse Nasrallah. O Hezbollah condiciona o fim das suas ações na fronteira ao término da guerra em Gaza, mostrando que a solidariedade com a resistência palestina é o principal motor de suas operações.
Um relatório do Instituto de Contraterrorismo da Universidade Reichman avaliou as consequências, para o Estado de Israel, em caso de uma “guerra total” com o Líbano. As conclusões divulgadas pelo site israelense CalcalistTech apontam que o Estado sionista sofreria impactos devastadores, sobretudo pelas capacidades militares do movimento Hezbollah. Os israelenses afirmam ainda que haveria uma mobilização regional de “todos os representantes do Irã”, forma como eles cunham generalizadamente os movimentos anti-imperialistas árabes, tais como a Resistência na Síria, no Iraque, no Iêmen, juntamente com os grupos palestinos Hamas e a Jihad Islâmica em Gaza.
Um projeto de destruição contínua
Ao comentar a declaração de Katz, Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), prefere não ignorar a ameaça, já que a vê mais como uma locução dos EUA, do que de Israel. Ele oferece uma visão mais abrangente, criticando o papel do Ocidente e de Israel na desestabilização do Oriente Médio.
A análise de Ualid Rabah pinta um quadro sombrio das intenções de Israel e do Ocidente no Oriente Médio, posicionando as recentes ameaças de guerra como parte de uma estratégia maior de dominação e destruição. Seus comentários sublinham a urgência de uma resposta internacional para prevenir mais tragédias humanitárias e promover uma paz verdadeira e duradoura na região.
Rabah vê a ameaça de Katz como parte de um esforço contínuo para impedir o desenvolvimento sustentável e a paz na região. Ele enfatiza que o Ocidente, liderado pelos Estados Unidos, não deseja que o Oriente Médio se estabilize, especialmente com a recente inclusão de países como Egito, Arábia Saudita e Irã no BRICS.
“O genocídio promovido em Gaza é uma prova de que eles não têm limites. Se Israel continuar com essas ameaças, o mundo deve reagir de maneira semelhante ao que fez contra o nazismo, declarando guerra a Israel. É hora de fazer desaparecer o sionismo da face da terra, assim como fizemos com o nazismo”, declara Rabah.
Rabah argumentou que as ações de Israel fazem parte de um plano mais amplo de desestabilização da região, patrocinado pelo Ocidente. Segundo ele, as ameaças de Israel não podem ser vistas isoladamente. “Essa não é a locução de Israel propriamente, essa é a locução do Ocidente num processo gradual e continuado de destruição do Oriente Médio”, afirmou.
Rabah destacou que países como Egito, Arábia Saudita e Irã ingressaram recentemente no BRICS, um movimento que ameaça o monopólio de poder do Ocidente. “O Ocidente e os Estados Unidos, com Israel como sua cabeça de ponte, não querem que o Oriente Médio ingresse num mundo multipolar”, explicou.
O presidente da Fepal foi enfático ao denunciar as ações de Israel em Gaza, qualificando-as como genocídio. “O genocídio promovido em Gaza prova que eles não têm limites na busca desse intento”, disse. Ele argumentou que a devastação em Gaza é um prelúdio para o que pode acontecer no Líbano, citando as destruições massivas e a alta mortalidade de civis como evidências de uma campanha sistemática de violência.
“A maior destruição em guerra de todos os tempos, 75% de Gaza destruída em pouco mais de 200 dias, vão fazê-lo também no Líbano”, alertou Rabah. Ele chamou a comunidade internacional a prestar atenção às ameaças de Israel e agir para impedir uma nova catástrofe humanitária.
Rabah comparou a situação atual ao combate ao nazismo na Segunda Guerra Mundial, argumentando que o mundo deve adotar uma postura igualmente firme contra o sionismo. “É hora de fazer desaparecer o sionismo da face da terra, como fizemos desaparecer o nazismo”, declarou. Ele apelou para que o regime israelense, que ele descreveu como supremacista, racista e de limpeza étnica, seja paralisado por todos os meios possíveis.
Para Rabah, permitir que Israel continue suas ações significaria a destruição de mais um país e de mais um povo no Oriente Médio, algo que ele considera inaceitável. Ele concluiu pedindo uma resposta internacional robusta para proteger os direitos humanos e assegurar a paz na região.
Situação no terreno
A fronteira Israel-Líbano permanece altamente tensionada, com trocas de tiros quase diárias. A visita de Amos Hochstein, enviado especial do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a Beirute, indica um esforço diplomático para reduzir a tensão. No entanto, a retórica agressiva de ambos os lados sugere que o conflito pode se intensificar ainda mais se não houver um avanço significativo nas negociações de paz.
As ameaças de Israel contra o Hezbollah e a resposta combativa do grupo indicam um cenário de incerteza e potencial escalada. Enquanto figuras como Mourad e Rabah oferecem perspectivas sobre a viabilidade e as motivações dessas ameaças, a realidade no terreno continua a ser marcada pela violência e pela instabilidade. A comunidade internacional, especialmente os Estados Unidos, desempenha um papel crucial na tentativa de mediar e prevenir um conflito mais amplo.
(por Cezar Xavier)