Foto: AFP/Genya SAVILOV

O ucraniano Volodimir Zelenski reclamou nesta quinta-feira (30), em entrevista à Folha de S. Paulo, que o Brasil não apoia a Ucrânia em sua guerra por procuração contra a Rússia. O conflito a que se refere Zelenski começou quando os fascistas tomaram o poder na Ucrânia, através de um golpe de Estado no país europeu em 2014.

Após o golpe apoiado pelos EUA, os fascistas iniciaram, insuflados pela Casa Branca, a agredir com bombas as áreas do pais onde viviam cidadãos de origem russa no leste do país. A etnia russa passou a ser perseguida em todo o país. A Rússia reagiu em 2022 à limpeza étnica iniciada por Kiev e acorreu em defesa dos cidadãos russos.

Zelenski queria que o Brasil apoiasse os seus intentos e os de Washington e se frustrou. “Não entendo, não entendo”, afirmou. “Diga: por acaso, presidente Lula, por acaso não quer ter essa aliança? Por acaso o Brasil está mais fechado com a Rússia do que com a Ucrânia? A Rússia nos atacou. O Brasil tem de estar do nosso lado e dar um ultimato ao agressor, em nome do resto do mundo. Uma amizade com alguém que tem uma ideologia e uma visão fascistas não pode trazer benefícios”, disse ele.

Durante oito anos os fascistas ucranianos bombardearam initerruptamente a região de Donest no leste do país, matando milhares de civis. Tanto a guerra de Zelenski é por procuração que quando os dois lados do conflito estavam negociando a paz, ainda em 2022, representantes do eixo EUA/Inglaterra interferiram no processo e proibiram o fantoche de negociar qualquer acordo de paz com a Rússia.

Agora que os EUA perceberam que no campo de batalha a OTAN está tomando uma surra dos russos, eles organizaram uma conferência farsa na Suiça, sem a presença da Rússia.

A reclamação de Zelenski é porque o Brasil e a China não pretendem apoiar a articulação montada pelo Ocidente para tentar isolar diplomaticamente a Rússia. O Brasil decidiu que não vai enviar representantes de alto escalão ao evento. Na semana passada, o assessor especial de Lula para a política externa, Celso Amorim, e o chanceler chinês, Wang Yi, divulgaram um comunicado em que destacavam a necessidade da presença de Moscou em quaisquer negociações sobre o conflito.

A farsa diplomática foi o que restou para Zelenski e os EUA depois da fracassada contraofensiva de suas tropas – alimentadas pela OTAN – nos campos de batalha da Ucrânia. Sem conseguir mais apoio de seus patrocinadores e perdendo cada vez mais terreno na guerra, Kiev embarcou na tal conferência na Suíça.

O governo dos EUA, por sua vez, cada vez mais desgastado com os bilhões de dólares despejados nas mãos do corrupto regime de Kiev, passou a ser cobrado internamente e já procura uma forma de sair de fininho da confusão e sem passar recibo da derrota, assim como fez recentemente no Afeganistão.

Ao saber da entrevista de Zelenski à Folha e das cobranças ao Brasil, o Itamaraty rebateu o ucraniano. Negou que o governo brasileiro tenha tomado partido entre Moscou e Kiev, acrescentando que “não há e jamais houve engajamento” de Brasília no conflito. A chancelaria brasileira destacou que o Brasil defende que as negociações de paz envolvam as duas partes. E a posição conjunta do Brasil com a China é uma prova da seriedade com que o país trata este conflito.

A Suíça tenta dar um ar de neutralidade às suas ações, mas o país europeu perdeu essa condição – que ostentava há muito tempo – ao apoiar as sanções determinadas pelos EUA contra a Rússia e participar do sequestro de bens pertencentes ao gigante da Eurásia.

Como parte do esforço para convencer Brasília a participar do evento, a Suíça diz que, apesar de a reunião ter sido convocada a pedido de Kiev, os trabalhos de condução das negociações ficariam a cargo da anfitriã. Mas, infelizmente, a anfitriã está no bolso dos EUA.

Tanto o Brasil como a grande maioria do chamado Sul Global – maioria absoluta de países do mundo – está ciente de que este conflito só terá uma solução com o fim da expansão da OTAN em direção a Leste e das provocações contra a Rússia.

A Rússia tentou negociar a não entrada da Ucrânia na OTAN, fez o acordo de Minsk e foi desprezada e traída pelos países ocidentais. O objetivo de Washington era, e continua sendo, provocar um conflito bélico com a Rússia como meio de desviar a atenção sobre a grave crise em que o país está mergulhado. Brasil e China perceberam claramente esta estratégia e se colocam como obstáculo à guerra.

Fonte: Página 8