Vereadores se desdobram, nas ruas e no legislativo, para ajudar POA
Alagada pelo Guaíba após dias de chuva, Porto Alegre vem enfrentando uma série de dificuldades, com moradores fora de suas casas e a falta de água e de luz. Além disso, tem recebido milhares de pessoas de cidades destruídas na região metropolitana. Nesse cenário, uma rede de solidariedade se formou, envolvendo cidadãos comuns e lideranças políticas e sociais que ajudam como voluntários e também elaboram projetos e cobram medidas junto ao poder público. Dentre elas estão os vereadores Abigail Pereira, a Biga, e Giovani Culau, do PCdoB.
“A situação é de caos total. São muitas, muitas as demandas que recebemos. E as principais foram pedidos de resgate, que têm sido a prioridade”, conta Biga, líder da bancada comunista. “Sigo destinando todos os meus esforços para auxiliar a população e proteger vidas, articulando poder público e sociedade civil”, diz Culau, pelas redes.
Uma das frentes de atuação tem sido ajudar os desabrigados. Biga explica que um dos problemas que vem tentando mitigar é a separação das famílias durante o resgate, o que gera situações de desespero. “Essas pessoas, claro, ficam aflitas, nos pedindo informação sobre os demais e para onde foram porque muitas vezes as famílias acabam sendo divididas e uns ficam sem saber onde os outros estão”, diz.
Segundo dados da prefeitura, há mais de 12,7 mil pessoas em ao menos 124 abrigos, organizados pela administração municipal, parceiros e voluntários. Nesses espaços, Biga e Culau também tem contribuído com materiais. “Quando abre um local para acolher, vamos atrás de colchões, roupa e água potável”, salienta a vereadora.
Ela relata, ainda, que nesta quarta-feira esteve em um novo abrigo destinado a mulheres e grávidas. “Garantimos uma doação de fraldas, leite, produtos de higiene pessoal e de limpeza para o abrigo”, informou.
Giovani Culau, por sua vez, também tem contribuído com os abrigos, pedindo e entregando doações e visitando bairros inundados a fim de verificar as necessidades dos atingidos. “Minha contribuição tem sido no sentido de que as pessoas estejam, todas, em segurança”, declarou.
Medidas legislativas
Do ponto de vista do trabalho legislativo, a bancada do PCdoB na Câmara de Porto Alegre também tem sido atuante no enfrentamento à crise. Um dos projetos que acaba de propor busca isentar do IPTU os imóveis atingidos pela enchente.
Devido à falta de água, os vereadores solicitaram à prefeitura, nesta semana, a disponibilização de caminhões-pipa para áreas desabastecidas da cidade. E também sugeriram a organização de um sistema que gere atestados on line aos porto-alegrenses que tenham sido afetados pela enchente, de maneira que não sejam penalizados em seus empregos.
A bancada comunista pediu, ainda, a abertura de escolas para serem usadas como abrigos especialmente voltados para famílias com crianças e adultos portadores de transtorno do espectro autista e solicitou o deslocamento de efetivos da Guarda Municipal para os abrigos em geral. No início da semana, também pediu o fechamento de serviços não essenciais, considerando as dificuldades vividas pela cidade.
Ambos os parlamentares também subscreveram medidas sugeridas pelo bloco de oposição ao prefeito Sebastião Melo (MDB), da qual fazem parte. Uma delas foi a edição de decreto determinando passe-livre no transporte público para facilitar a locomoção dos atingidos.
Outra iniciativa conjunta foi o pedido para que seja autorizada a requisição, pelo poder público, de bens particulares — principalmente barcos, moto aquáticas (jet ski) e lanchas — para a utilização nos resgates. Nesta quinta-feira, a prefeitura assinou decreto com esse teor.
Descaso
Os parlamentares atuam emergencialmente para socorrer a população de uma situação que poderia ter sido evitada pela prefeitura. Nos últimos dias, vieram à tona reportagens mostrando medidas que deveriam ter sido tomadas não foram.
Em reportagem do site Matinal, ex-diretores do antigo Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) criticaram o descaso da prefeitura, em especial da atual gestão, com a manutenção do sistema de defesa contra cheias. Um deles, Carlos Todeschini, disse que “o sistema de proteção falhou porque não teve manutenção. Se tivesse funcionado, poderia haver pequenos alagamentos, de menor proporção, mas não teria a inundação da cidade”.
Outra reportagem, do UOL, feita com base em dados do Portal da Transparência, apontou que a prefeitura não investiu nada na prevenção de enchentes neste ano, “mesmo com o departamento que cuida da área tendo R$ 428,9 milhões em caixa”, expõe. A prefeitura, por sua vez, diz que o recurso foi gasto em outras áreas que atuam de maneira transversal em relação a essa questão.
“Nós denunciamos que, no ano passado, a prefeitura não dedicou nada à prevenção de cheias e, para este ano, Melo queria dedicar apenas R$ 4mil. O mandato coletivo propôs retirar a verba da publicidade para aumentar investimentos na área, mas a base do governo rejeitou. O Dmae tem milhões de reais parados em caixa e isso tudo mostra o descaso e negacionismo com a nova realidade climática em que vivemos”, denunciou Culau.
Mas, o descaso não vem de hoje. Ainda segundo o Matinal, a gestão anterior, de Nelson Marchezan Júnior (PSDB), perdeu R$ 121,9 milhões que seriam destinados a obras de prevenção a cheias. “Esse financiamento, que viria do governo federal, seria destinado à reforma de 13 casas de bombas e também para dragagem do Arroio Moinho, que passa por comunidades periféricas da zona leste antes de desaguar no Dilúvio”, mostra a reportagem.
Apesar da indignação com essa situação de coisas evitáveis ocorridas nos últimos anos, os vereadores seguem agindo emergencialmente neste momento de tantas urgências, para tentar aliviar a dor dos atingidos. “A solidariedade é muito importante, mas o poder público deve agir”, diz Biga. E completa: “Neste momento, nosso foco é lutar por dignidade para o nosso povo e pela reconstrução dos lares perdidos pelas cheias”.