Andrei Belousov, novo ministro da Defesa da Rússia | Foto: X

A indicação do atual vice-primeiro-ministro, o economista Andrei Belousov, para a pasta da Defesa, em substituição a Sergei Shoigu, foi a principal modificação no governo russo proposta pelo presidente Vladimir Putin, ao iniciar seu quinto mandato, para a aprovação na Duma, o que deverá se completar até terça-feira (14). O ministro das Relações Exteriores Sergei Lavrov foi mantido, assim como os principais nomes do ministério anterior.

A mudança foi explicada pelo porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, pela necessidade integrar mais profundamente a base industrial de defesa com a economia nacional, acrescentando que o “campo de batalha agora é dominado por aqueles que estão mais abertos à inovação e estão prontos para introduzi-la da maneira mais rápida possível”.

Mesmo antes dessas substituições, são registrados importantes avanços na libertação do Donbass, e crescente pânico no regime neonazista em Kiev e seus patronos imperiais.

Ainda no domingo, Putin nomeou Shoigu para chefiar o Conselho de Segurança Nacional, em substituição a Nikolai Patrushev. Ele também acumulará as funções de vice-presidente da comissão militar-industrial.

Shoigu era ministro da Defesa desde 2012 e apontado como uma pessoa de estrita confiança do presidente. Como observou o porta-voz, com o orçamento militar russo em rápido crescimento, a integração do complexo militar-industrial na economia nacional “é muito importante”. Segundo Peskov, os gastos militares russos cresceram de 3% para 6,7% do PIB desde o início do conflito na Ucrânia.

O nível atual não é “crítico” para a economia russa, mas a situação começou a se assemelhar ao final da era soviética, quando os gastos militares da URSS somavam 7,4% do PIB, registrou Peskov. Quadro que exige uma resposta adequada das autoridades, ele acrescentou.

Peskov assinalou que Belousov provou ser “bastante bem-sucedido em liderar o Ministério do Desenvolvimento Econômico” antes de trabalhar como assessor econômico do presidente “por muito tempo”.

“O Ministério da Defesa deve estar absolutamente aberto às inovações, à introdução das ideias mais avançadas e à criação de condições favoráveis à competitividade econômica”, concluiu.

Esse “abrir as portas” para a inovação significa acelerar certos desenvolvimentos nos quais a Rússia se atrasou e teve de resolver em meio à batalha, como a produção em massa de drones de ataque e de meios de combater drones inimigos (incluindo os navais). E ainda incorporar uma série de pequenas e médias empresas nesse esforço de inovação.

A mídia russa informou que Belousov, de 65 anos, é doutor em Ciências Econômicas e se formou em 1981 na Faculdade de Economia da Universidade Lomonosov de Moscou. De 1981 a 1986, trabalhou como pesquisador no laboratório de modelagem de sistemas homem-máquina do Instituto Central de Economia e Matemática da Academia de Ciências da URSS.

Durante 20 anos, ele ocupou várias posições no Instituto de Economia e Previsão do Progresso Científico e Tecnológico da Academia de Ciências da União Soviética e na década seguinte no governo russo.

Em 2012, foi nomeado Ministro para o Desenvolvimento Econômico e, depois, assistente direto de Putin, tendo sido designado vice-primeiro-ministro russo em 2020. Desde 2022, supervisiona o aprimoramento de tecnologias para a criação de veículos de alta velocidade e sistemas de controle inteligentes.

O histórico de Belousov também inclui a gestão de uma série de comissões governamentais, entre essas a que foi responsável pelo desenvolvimento de sistemas aéreos não tripulados, de papel tão fundamental no enfrentamento da guerra movida pela Otan à Rússia na Ucrânia.

O jornal Komsomolskaya Pravda ouviu vários especialistas que traçaram um perfil sobre o economista e o que esperar de sua ação. Essas fontes o descreveram como um dirigente inteligente e decente e “totalmente um estatista”.

“Correm rumores de que ele foi um dos primeiros a apresentar a ideia de devolver ao Estado empresas ilegalmente privatizadas ou deliberadamente falidas (incluindo militares)”. Diz-se, ainda, que, com a chegada de Belousov, haverá uma auditoria nas finanças da Defesa, conforme o KP.

Outro entrevistado disse que Belousov, como primeiro vice-primeiro-ministro, “foi o ideólogo e fundador dos programas de digitalização da economia russa. É óbvio que processos semelhantes no departamento militar são agora necessários – e, provavelmente, deveriam ser esperados”.

Segundo a colunista da Ria Novosti, Irina Alksnis, como vice-primeiro-ministro e enquanto assistente de Putin, Belousov “promoveu consistentemente as ideias de reforço da regulação governamental, da reindustrialização da Rússia e da confiança no setor real como principal motor do desenvolvimento do país – em geral, todas as mudanças que observamos nos últimos anos”.

Em audiência na Duma, Belousov se comprometeu, também, a melhorar a assistência aos soldados e o acesso à moradia, bem como a redução da burocracia na obtenção dos benefícios.

“PESADELO PARA ZELENSKY EM KHARKIV”

A Rússia abriu nova frente na sexta-feira (10) ao norte de Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, e principal reduto industrial, criando o que a CNN chamou de “pesadelo” para Zelensky, cujas tropas não dão conta da ofensiva russa, forçando-o a desviar reservas de áreas já muito fragilizadas.

As forças russas conquistaram nove aldeias e a cidade de Volchansk começou a ser evacuada pelos ucranianos. Um comentarista da CNN chamou o avanço russo de “o mais rápido” desde os primeiros dias da guerra. Ele disse que Kiev está frente a “feias escolhas sobre para onde enviar recursos limitados, e onde em última instância sacrificar”.

A BBC disse que o avanço russo “engoliu cerca de 100 km de território ucraniano” em apenas um par de dias, quando, antes, a Rússia levava “meses” para alcançar o mesmo progresso no “leste da Ucrânia altamente defendido”.

No Donbass, a batalha por Chasov Yar vem avançando, cuja libertação pelos russos abre as portas para chegar a Kramatorsky e Slaviansky, tornando próxima a libertação total do Donbass.

Em audiência no Senado, para confirmação de sua permanência à frente da diplomacia russa, o veterano Lavrov, diante das bravatas do presidente francês Emanuel Macron e das ameaças de Londres, advertiu que “se querem decidir a situação da Ucrânia no campo de batalha, a Rússia está pronta”.

O veterano diplomata falava a membros da Câmara Alta do parlamento russo como parte do processo de sua recondução após a remodelação do governo. A avaliação que ele fez é que os países ocidentais não desejam um fim negociado para as hostilidades.

“É um direito deles. Se eles quiserem que seja no campo de batalha, eles o terão no campo de batalha”, disse Lavrov.

Nas primeiras semanas das hostilidades, que começaram em fevereiro de 2022, Moscou estava preparada para mostrar boa vontade “apesar de vários enganos anteriores do Ocidente” e assinar um acordo de paz que fosse bastante benéfico para Kiev, lembrou aos parlamentares. O governo ucraniano então descartou o documento pré-aprovado, cuja principal cláusula era a manutenção da neutralidade da Ucrânia, observou Lavrov. “Eles nos enganaram novamente, nos forçaram a lutar”, disse ele aos parlamentares.

Lavrov também repudiou a “cúpula sobre a Ucrânia sem a Rússia”, o que considerou uma tentativa de impor um ultimato à Rússia, acrescentando que “ninguém” fala com a Rússia nesses termos. Ele também condenou a cumplicidade da Suíça, para onde está marcada a encenação, país que, como destacou, há muito abandonou a neutralidade.

Fonte: Papiro