Pequim reafirma com exercícios militares em Taiwan o princípio de Uma Só China
No maior exercício militar em um ano em torno de Taiwan, o Exército de Libertação Popular da China desencadeou a Operação Espada Conjunta-2024A, na quinta-feira (23), três dias após o novo chefe de governo de Taiwan, Lai Ching-te, do Partido Democrático Progressista, ter, em sua posse, praticamente se oferecido a Washington para a aventura da secessão da ilha, que é parte da China há séculos, violando abertamente o status quo nos Estreitos, o Consenso de 1992 e o Princípio de Uma Só China, esposado tanto pelo continente como pelo Kuomitang (KMT), o partido derrotado na guerra civil em 1949 e que se refugiou em Taiwan sob proteção da frota norte-americana.
O princípio de Uma Só China é o esteio das relações externas da China e o ponto fulcral para a reunificação pacífica. 190 países, incluindo os EUA, estabeleceram relações diplomáticas com a RPC com base no princípio de Uma Só China. O Consenso de 1992, assinado pelo PCCh e pelo KMT, reiterou que a China é uma só.
O exercício, que prosseguiu na sexta-feira (24), envolveu a criação de um bloqueio simulado em torno da ilha de Taiwan, bem como áreas ao redor das ilhas de Kinmen, Matsu, Wuqiu e Dongyin, tanto a leste, quanto a oeste, evidenciando a capacidade de atacar a ilha em todas as direções, visando barrar qualquer intento separatista e a possível intervenção externa em apoio aos fantoches. Participaram do exercício o exército, a marinha, a força aérea e a força de foguetes do ELP.
Inteiramente dependente da importação de energia, sob bloqueio a economia de Taiwan ficaria à beira do colapso. Na análise da CGTN, o exercício “foi projetado para paralisar completamente a economia local, destruir instalações militares importantes, dissuadir alvos militares e políticos em Taipé e impedir a fuga das forças separatistas”.
De acordo com a mídia chinesa, se Lai não mudar de curso, haverá outras Operação Espada Conjunta-2024B, 2024c, 2024D, o que se fizer necessário. Como reiterou o Global Times, são “o novo normal” nos Estreitos.
O porta-voz da chancelaria chinesa, Wang Wenbin, disse em uma coletiva de imprensa na quinta-feira que os exercícios militares salvaguardam a soberania nacional e a integridade territorial, punem vigorosamente os movimentos das forças secessionistas e representam uma firme advertência contra interferências e provocações por forças externas.
O porta-voz também exortou parlamentares dos EUA a encerrar quaisquer visitas a Taiwan e aderir à política de uma só China, ou estar prontos para enfrentar as consequências. O alerta foi em resposta à declaração do presidente do Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes dos EUA, Michael McCaul, de que lideraria uma delegação dos EUA em Taiwan, que chamou de “amigo e parceiro e aliado mais querido” de Washington, no final do mês, e que não se submeteria às “ameaças” da China.
Wang disse que Pequim se opõe firmemente a qualquer forma de “trocas oficiais” entre Washington e Taipé, e pediu aos representantes dos EUA que não interfiram nos assuntos da ilha de qualquer forma e sob qualquer pretexto.
Ele acrescentou que o aviso se estende ao Congresso dos EUA, cujos representantes são “parte integrante do governo dos EUA” e, portanto, devem respeitar a política de uma só China oficialmente reconhecida por Washington e apenas manter relações culturais, comerciais e outras relações não oficiais com a ilha.
Se os membros do Congresso visitarem Taiwan, Wang advertiu que isso seria interpretado como uma “grave violação” do princípio de Uma só China, uma tentativa de prejudicar a soberania e a integridade territorial da China e um “sinal seriamente errado” para as forças separatistas taiwanesas.
“Se os EUA insistem em seu próprio caminho, devem ser totalmente responsáveis pelas consequências.” Wang enfatizou.
Em seu discurso de posse, Lai lambuzou-se nos oferecimentos a Washington – o que ainda é mais grave quando os EUA ensaiam articular, no Pacífico, versões asiáticas da Otan; os mais desvairados falam em “guerra com a China em 2025”; e a confrontação tecnológica e comercial não dá sinais de serenar.
Ele se referiu a “Taiwan” e “República da China, Taiwan”, dizendo que “alguns chamam esta terra de República da China, alguns chamam de República da China Taiwan, e alguns, Taiwan; mas qualquer um desses nomes que nós mesmos ou nossos amigos internacionais escolhermos para chamar nossa nação, ressoaremos e brilharemos mesmo assim.”
Indo mais longe do que a antecessora Tsai Ing-wen, também do DPP, que fazia referência “às autoridades de Pequim” ou “ao outro lado do Estreito”, sem declarar explicitamente China e Taiwan como “entidades separadas”, como Lai fez.
Nas eleições, o DPP, o partido pró-secessão, manteve a presidência, mas perdeu a maioria no parlamento; também perdeu nas principais cidades.
Ao visitar a China pela primeira vez no ano passado, o ex-líder do KMT e ex-presidente de Taiwan, Ma Ying-jeou, afirmou que “somos todos chineses” e sublinhou a importância de manter o Consenso de 1992, sobre as relações entre os dois lados do Estreito.
Ele apontou que o povo dos dois lados do Estreito pertence à nação chinesa, compartilha os mesmos ancestrais e que se deve trabalhar conjuntamente para promover a paz e a prosperidade, com base no Consenso de 1992. O Consenso de 1992 tem como núcleo “persistir no princípio de Uma Só China” e como método “buscar pontos comuns e respeitar as divergências”.
No Livro Branco, publicado em 2022 devido à provocação cometida pela então presidente da Câmara Nancy Pelosi, que visitou Taiwan, Pequim registrou que “a Resolução 2758 da Assembleia Geral da ONU é um documento político que encapsula o princípio de Uma Só China, cuja autoridade legal não deixa margem para dúvidas e tem sido reconhecida mundialmente”.
“Somos uma China, e Taiwan faz parte da China. Este é um fato indiscutível, apoiado pela história e pela lei. Taiwan nunca foi um Estado; seu status como parte da China é inalterável”, assinala, observando que o PCCh está comprometido com a missão histórica de resolver a questão de Taiwan e realizar a reunificação completa da China.
“Estamos prontos para criar um vasto espaço para a reunificação pacífica, mas não deixaremos espaço para atividades separatistas de qualquer natureza”, frisa o documento, que aponta para a solução de Um País, Dois Sistemas como base para a reunificação pacífica.
Se a ilha respeitar a soberania, segurança e interesses da China, poderá se aproveitar de uma ampla autonomia como uma região administrativa especial, enquanto a ordem social e o modo de vida dos compatriotas taiwaneses serão respeitados, e a propriedade privada, as convicções religiosas e outros direitos legítimos serão garantidos para os habitantes da ilha.
“As diferenças no sistema social não são um obstáculo à reunificação nem uma justificativa para o secessionismo”, detalha o livro.
“Nunca estivemos tão perto, confiantes e capazes de alcançar o objetivo do rejuvenescimento nacional. O mesmo acontece quando se trata do nosso objetivo de reunificação nacional completa”, acrescenta, assinalando que “A reunificação da China não prejudicará os interesses legítimos de nenhum Estado, incluindo os seus interesses econômicos em Taiwan, trazendo apenas mais oportunidades para o desenvolvimento de todos os países, mais energia positiva para a prosperidade e estabilidade da região da Ásia-Pacífico e de todo o mundo, além de contribuir mais para construir a ‘Comunidade do destino unido da humanidade’”.
O livro indica que, depois da reunificação, o mecanismo da cooperação econômica entre as duas costas do estreito de Taiwan se tornará mais coordenado, enquanto a economia de Taiwan poderá se desenvolver mais ativamente com o acesso ilimitado ao mercado da China continental e cadeias de suprimento estáveis.
Fonte: Papiro