Israel bombardeia Rafah no dia 6 de maio | Foto: AFP

A aviação israelense bombardeou nesta segunda-feira (6) Raffah, cidade no extremo sul de Gaza para onde foram tangidos a tiro e bomba, de tal forma que somados à população da província, já chegam a 1,5 milhão de palestinos.

Só neste bombardeio, as hordas israelenses já assassinaram pelo menos 22 civis, inclusive oito crianças, segundo a agência de notícias palestina Wafa. Em paralelo, o comando israelense ordenou a evacuação de ao menos 100 mil palestinos da região leste da cidade, forçando multidões de desvalidos a novamente se porem a caminho sabe-se lá para onde.

Enquanto o regime Netanyahu/Smotrich/Gvir afronta o mundo com sua insistência a estender o genocídio a Rafah, o Hamas anunciou sua concordância com a proposta de cessar-fogo mediada pelo Qatar e pelo Egito, e que esteve em discussão no final de semana.

O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, comunicou aos mediadores, o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, e o ministro de Inteligência egípcio, Abbas Kamel, sua decisão de aceitar a proposta de cessar-fogo.

A confirmação da aceitação do acordo de cessar-fogo pelo Hamas foi comemorada na cidade de Gaza, nos campos de refugiados e também em Raffah, onde persiste a esperança de que seja detida a máquina de barbárie israelense antes que não haja ponto de não-retorno para a paz.

Em Israel, manifestantes foram às ruas exigir de Netanyahu que acate o acordo de cessar fogo e o estabeleça imediatamente. Em uma das faixas vistas na avenida Ayalon, em Tel Aviv, se via: “Não os veremos mais?”, referindo-se ao retorno dos detidos em Gaza que Netanyahu e seu governo menosprezam. À tarde, o gabinete de guerra israelense decidiu continuar com a ofensiva contra Rafah.

Ao HP, o deputado israelense Ofer Cassif denunciou que “tanques e infantaria israelenses ingressaram a leste de Rafah enquanto os aviões bombardeavam desce cima, poucas horas depois da decisão do Hamas de aceitar o acordo de troca de reféns/prisioneiros”.

“Por que?”, ele se indigna. “Porque matar palestinos é mais importante para o governo israelense do que salvar israelenses”. “Criminosos de guerra!”.

Também o líder da oposição Yair Lapid exigiu de Netanyahu que envie imediatamente uma delegação ao Cairo para fechar o acordo.

De acordo com a Al Jazeera, pela proposta seriam três fases de acordo, cada uma com duração de 42 dias.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, instou Israel a aceitar o acordo de cessar-fogo em Gaza. Ele pediu que o governo de Israel e o Hamas “façam o esforço extra necessário para tornar um acordo [de cessar-fogo] realidade e acabar com o sofrimento atual [em Gaza]”, disse seu porta-voz.

“O secretário-geral está profundamente preocupado com as indicações de que uma operação militar em grande escala em Rafah pode ser iminente”, destacou Stephane Dujarric. “O Secretário-Geral lembra às partes que a proteção dos civis é fundamental no direito humanitário internacional”, acrescentou.

O rei Abdullah II, da Jordânia, em encontro nessa segunda-feira com o presidente Biden, advertiu que uma operação israelense em Rafah pode causar um “novo massacre” na guerra na Faixa de Gaza.

Apesar de toda a pressão, vinda do mundo inteiro, contra a extensão do genocídio a Rafah, o governo Netanyahu se mantém intransigente em sua sanha genocida, com até seu principal cúmplice, o governo Biden, advertindo que a situação pode sair do controle. Como já vem se verificando nas universidades dos EUA, onde a juventude passou a ver em Israel um Estado pária e, no presidente Biden, o “Joe Genocide”.

As tropas coloniais seguem pressionando pela imediata deportação de palestinos dos bairros de Rafah de Al Shoka, Al Salam, Al Jeneina, Tabbat Ziraa e Al Byouk. Imagens de satélite do dia anterior revelaram o envio de cerca de 300 veículos militares israelenses perto da fronteira com Rafah. O ministro israelense de extrema direita, Bezalel Smotrich segue pressionando por uma invasão imediata da cidade. O porta-voz militar Hagari asseverou que foram 50 os alvos dos bombardeios a Rafah desta segunda-feira.

“DESUMANA”

O chefe dos direitos humanos da ONU, Volker Türk, classificou como desumana a exigência de Israel de que os palestinos saiam de Rafah.

“Os habitantes de Gaza continuam sendo atingidos por bombas, doenças e até pela fome. E, hoje, disseram-lhes que devem se deslocar mais uma vez à medida que as operações militares israelenses em Rafah aumentam”, pontuou Türk em comunicado.

“Isto é desumano. É contrário aos princípios básicos da política internacional, leis humanitárias e de direitos humanos, que têm a proteção efetiva dos civis como a sua principal preocupação”, adicionou.

O ACORDO

Veja a íntegra da proposta de cessar-fogo em Gaza e troca de prisioneiros, que foi aceita pelo Hamas. O texto abaixo é um rascunho da tradução do texto árabe, que foi publicado pela Al-Jazeera.

Proposta de Acordo

Princípios básicos para um acordo entre o lado israelense e o lado palestino em Gaza sobre a troca de detidos e prisioneiros entre os dois lados e o regresso de uma calma sustentável.

O acordo-quadro visa libertar todos os detidos israelenses na Faixa de Gaza, civis e soldados, vivos ou não, de todos os períodos e épocas em troca de um número acordado de prisioneiros nas prisões israelenses, e um regresso à calma sustentável a fim de alcançar um cessar-fogo permanente, a retirada das forças israelenses da Faixa de Gaza, a reconstrução e o levantamento do cerco.

O acordo-quadro consiste em 3 fases interligadas, a saber:

Primeira Etapa (42 dias)

A cessação temporária das operações militares mútuas entre as partes e a retirada das forças israelenses a leste e longe de áreas densamente povoadas para uma região ao longo da fronteira em todas as áreas da Faixa de Gaza (incluindo Wadi Gaza, eixo Netzarim e rotunda do Kuwait), conforme indicado abaixo:

Suspender os voos (militares e de reconhecimento) na Faixa de Gaza por 10 horas por dia, e por 12 horas nos dias de libertação de detidos e prisioneiros.

Regresso dos deslocados internos às suas áreas de residência, retirada de Wadi Gaza (eixo Netzarim e rotunda do Kuwait).

No terceiro dia (após a libertação de 3 detidos), as forças israelenses retiram-se completamente da rua Al-Rasheed, no leste, para a rua Salah Al-Din, desmantelam completamente os locais e instalações militares nesta área, iniciam o regresso dos deslocados às suas áreas de residência (sem portar armas durante o seu regresso), a livre circulação dos residentes em todas as zonas da Faixa de Gaza, e a entrada de ajuda humanitária pela rua Al-Rashid desde o primeiro dia sem obstáculos.

No 22.º dia (após a libertação de metade dos detidos civis vivos, incluindo soldados do sexo feminino), as forças israelenses retiram-se do centro da Faixa de Gaza (especialmente do eixo Netzarim Shuhada e do eixo da rotunda do Kuwait) a leste da estrada Salah al-Din para uma área próxima ao longo da fronteira, o desmantelamento completo de instalações e instalações militares, o regresso contínuo das pessoas deslocadas aos seus locais de residência no norte da Faixa de Gaza, e a liberdade de circulação dos residentes em todas as áreas da Faixa de Gaza.

Desde o primeiro dia, a entrada de quantidades intensivas e suficientes de ajuda humanitária, materiais de socorro e combustível (600 caminhões por dia, incluindo 50 caminhões de combustível, dos quais 300 a norte), incluindo combustível para o funcionamento da central de energia, comércio e equipamento necessários para remover escombros, e a reabilitação e funcionamento de hospitais, centros de saúde e padarias em todas as áreas da Faixa de Gaza, e continuar assim em todas as etapas do acordo.

Troca de Detidos e Prisioneiros entre os Dois Lados:

Durante a primeira fase, o Hamas liberta 33 detidos israelenses (vivos ou mortos) incluindo mulheres (civis e soldados), crianças (abaixo de 19 anos não-soldados), os idosos (mais de 50 anos) e os doentes, em troca por um número de prisioneiros nas prisões israelenses e centros de detenção, de acordo com o seguinte:

Hamas liberta todos os detidos vivos israelenses, tanto mulheres civis e crianças (abaixo de 19 anos e que não sejam soldados), enquanto Israel solta 30 crianças e mulheres por cada detido israelense libertado, com base em listas fornecidas pelo Hamas de acordo com o detido mais velho.

O Hamas liberta todos os detidos israelenses vivos, os idosos (com mais de 50 anos), os doentes e os civis feridos, enquanto Israel liberta 30 prisioneiros idosos (com mais de 50) e doentes para cada detido israelense, com base em listas fornecidas pelo Hamas de acordo com o detido mais velho.

O Hamas liberta todos os soldados israelenses vivos, enquanto Israel liberta 50 prisioneiros das suas prisões por cada soldado israelense libertado (30 penas de prisão perpétua e 20 com penas de 20 anos acima) com base em listas fornecidas pelo Hamas.

Agendamento da Troca de Detidos e Presos entre as Duas Partes na Primeira Fase:

O Hamas liberta 3 detidos israelenses no terceiro dia do acordo, após o qual o Hamas liberta mais 3 detidos a cada sete dias, começando com mulheres, tanto quanto possível (civis e soldados), e na sexta semana o Hamas liberta todos os restantes detidos civis incluídos nesta fase, em troca, Israel liberta o número acordado de prisioneiros palestinos nas prisões israelenses, de acordo com as listas a serem fornecidas pelo Hamas.

Até ao sétimo dia (se possível), o Hamas fornecerá informações sobre os detidos israelenses que serão libertados nesta fase.

No 22º dia, o lado israelense liberta todos os prisioneiros do acordo Shalit que foram presos novamente.

Se o número de detidos israelenses vivos não chegar a 33, o número de corpos das mesmas categorias será completado para esta fase, em troca Israel libertará todas as mulheres e crianças (menores de 19 anos) que foram presas na Faixa de Gaza após 7 de outubro de 2023, desde que ocorra na quinta semana desta etapa.

O processo de troca depende do cumprimento dos termos do acordo, incluindo a cessação das operações militares mútuas, a retirada das forças israelenses, o regresso das pessoas deslocadas e a entrada de ajuda humanitária.

Concluir os procedimentos legais necessários para garantir que os prisioneiros palestinos libertados não sejam presos pelas mesmas acusações pelas quais foram detidos anteriormente.

As chaves da primeira etapa descritas acima não formam a base para negociar as chaves da segunda etapa.

Suspender as medidas e penas tomadas contra prisioneiros e detidos em prisões e campos de detenção israelenses após 7 de outubro de 2023 e melhorar suas condições, incluindo aqueles presos após essa data.

O mais tardar no 16.º dia da primeira fase, iniciar-se-ão conversações indiretas entre as duas partes sobre o acordo sobre os pormenores da segunda fase deste acordo, no que respeita às chaves para a troca de prisioneiros e detidos de ambos os lados (soldados e os restantes homens), desde que estejam concluídas e acordadas antes do final da quinta semana desta fase.

As Nações Unidas e as suas agências relevantes, incluindo a UNRWA e outras organizações internacionais, devem realizar o seu trabalho na prestação de serviços humanitários em todas as áreas da Faixa de Gaza, e continuar a fazê-lo ao longo do acordo.

Iniciar a reabilitação das infraestruturas (eletricidade, água, esgoto, comunicações e estradas) em todas as áreas da Faixa de Gaza, e introduzir os equipamentos necessários para a defesa civil, e para remover escombros e escombros, e continuar a fazê-lo em todas as fases do acordo.

Facilitar a entrada de suprimentos e necessidades para acomodar e abrigar pessoas deslocadas que perderam suas casas durante a guerra (pelo menos 60.000 casas temporárias – caravanas – e 200.000 tendas).

A partir do primeiro dia desta fase, um número acordado (não inferior a 50) de militares feridos será autorizado a viajar pela travessia de Rafah para receber tratamento médico, o número de passageiros, doentes e feridos aumentará através da travessia de Rafah, e as restrições aos passageiros serão levantadas, e a circulação de mercadorias e o comércio serão retomados sem restrições.

Iniciar os arranjos e planos necessários para a reconstrução abrangente de casas e instalações civis e infraestruturas civis destruídas pela guerra e compensar os afetados sob a supervisão de vários países e organizações, incluindo o Egito, o Qatar e as Nações Unidas.

Todas as medidas nesta fase, incluindo a cessação temporária das operações militares mútuas, socorro e abrigo, retirada das forças, etc., continuarão na segunda fase até que seja declarada uma calma sustentável (cessação das forças militares e das hostilidades).

Segunda Etapa (42 dias):

Anunciando o regresso da calma sustentável (cessação permanente das forças armadas e das hostilidades) e a sua entrada em vigor antes do início da troca de detidos e prisioneiros entre as duas partes.

Todos os restantes homens israelenses sobreviventes (civis e soldados) – em troca de um número acordado de prisioneiros em prisões israelenses e detidos em campos de detenção israelitas, e uma retirada completa das forças israelenses para fora da Faixa de Gaza.

Terceira Etapa (42 dias):

Troca de corpos e restos mortais de ambos os lados após alcançá-los e identificá-los.

Começar a implementar o plano de reconstrução da Faixa de Gaza por um período de 3 a 5 anos, incluindo casas, instalações civis e infraestrutura, e compensar todos os afetados sob a supervisão de vários países e organizações, incluindo: Egito, Qatar e as Nações Unidas.

Acabar completamente com o bloqueio na Faixa de Gaza.

Garantes do Acordo:

Catar, Egito, Estados Unidos e Nações Unidas.

Fonte: Papiro