Insultos de Milei levam Espanha a retirar embaixadora da Argentina
A Espanha anunciou na terça-feira (21) que vai retirar de forma definitiva sua embaixadora na Argentina, após recusa do presidente argentino Javier Miler em pedir desculpas por ter, ao participar de um congresso fascista em Madri no domingo, insultado gratuitamente a esposa do primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez de “corrupta”.
“Nossa embaixadora ficará definitivamente em Madri, e a Argentina continuará sem embaixadora”, disse o ministro das Relações Exteriores, José Manuel Albares, acrescentando que a representação em Buenos Aires passará a funcionar em nível de encarregado de negócios.
Na véspera, ao invés de atender ao pedido de Madri por desculpas, Milei escalou suas provocações contra o governo espanhol. Albares classificou o gesto de Milei de “assalto à boa fé e à hospitalidade” da Espanha, que o recebera na base de Torréjon de Ardoz, apesar de não estar em visita oficial nem se encontrar com o premiê, nem com o rei da Espanha, que é o chefe de Estado do país. “E a resposta foi um ataque frontal com insultos a nossas instituições”, disse o chanceler.
“Não há precedente para um chefe de Estado ir à capital de outro país para insultar as suas instituições e interferir nos seus assuntos internos”, disse Albares, que insistiu que precisamente esta “não ingerência” é um princípio de “coexistência” entre nações e acrescentou que “não temos interesse em qualquer escalada, mas é dever do Governo defender a dignidade e a soberania”.
Esse comportamento de Milei não é propriamente uma novidade, com o presidente – que se aconselha com um cão morto de nome Conan – já tendo insultado até mesmo o Papa Francisco, que chamou de “homem do diabo na Terra”; o presidente mexicano López Obrador (“patético e repugnante”) e o presidente colombiano Gustavo Petro (“comunista assassino”). De Lula, disse que era “esquerdista selvagem” e “corrupto”.
Elogios, só para o biliardário laranja: “Ele nos insulta: Pedro Sánchez. Ele nos lisonjeia (sic): Donald Trump”. E acrescentou no X: “sempre pela direita”.
Na convenção “Europa Viva 24” em Madri, promovida pelo partido fascista Vox com a presença de extremistas convidados europeus e de outras bandas, Milei disse que “as elites globais não percebem o quão destrutivo pode ser implementar as ideias do socialismo (…), mesmo que você tenha a esposa corrupta, digamos, suja-se [sic] e tire cinco dias para pensar sobre isso”.
Um ataque gratuito a Sánchez, que no final de abril se concedeu um período de cinco dias de reflexão para decidir se renunciava, diante das acusações contra sua esposa, Begoña Gómez, de suposto favorecimento, apresentadas por um mafuá de extrema direita que atende pelo nome de Manos Limpias.
O caso acabou arquivado pelo Ministério Público devido à falta de provas das acusações, que consistiam essencialmente em alegações da imprensa indiretamente relacionadas à esposa de Sánchez. No vizinho Portugal, o primeiro-ministro socialista não se deu cinco dias, quando surgiu uma denúncia de teor semelhante, para depois se saber que o acusado era um homônimo.
Abrilhantaram o convescote fascista espanhol, presencialmente ou por videoconferência, Marine Le Pen, Viktor Orban e Giorgia Meloni. Também o ministro de Netanyahu, Amichai Chikli (Diáspora e Combate ao Antissemitismo), discursou, sob aplauso da seleta plateia, justificando o genocídio em curso em Gaza.
Após o anúncio de Madri, Milei escalou seus ataques ao chefe de governo espanhol, registrou o Página 12: “arrogante”, “totalitário”, “caráter sinistro”, “vermelhinho” (por ser socialista), “covarde”, “ridículo” e “motivo de chacota do mundo”. Aventou, ainda, um suposto “complexo de inferioridade” de Sánchez.
E atribuiu ao “kirchernismo” a culpa pela crise. “Todo esse conflito é incentivado pelo kirchnerismo para gerar problemas internos para mim”.
Mas como ninguém é de ferro, Milei já tem programado um momento de relax em meio à tormenta. Nesta quarta-feira, vai cantar no Luna Park e apresentará seu novo livro. “Algo sem precedentes”, asseverou o porta-voz da presidência argentina, Manuel Adorni. Quanto a alegações surgidas na mídia sobre o livro, garantiu que “não há plágio”.
Fonte: Papiro