Ilan Pappe, historiador israelense, comprova a limpeza étnica na Palestina | Foto: Reprodução

O renomado historiador e professor israelense Ilan Pappe – conhecido em todo o mundo por suas contundentes denúncias da ação sionista contra o povo palestino – foi detido para interrogatório na semana passada por agentes do Federal Bureau of Investigation (FBI) logo ao entrar no aeroporto de Detroit, nos Estados Unidos.

“A boa notícia é que ações como esta por parte dos EUA ou de países europeus tomadas sob pressão do lobby pró-Israel ou do próprio Israel cheiram a puro pânico e desespero em reação ao fato de Israel se tornar muito em breve num Estado pária, com todas as implicações de um tal status”, afirmou Ilan Pappe.

Pappe, 69 anos, é descrito como um dos “novos historiadores” de Israel e leciona na Universidade de Exeter, Inglaterra – onde vive exilado -, desde o lançamento de documentos governamentais britânicos e israelenses que trouxeram à luz os crimes pertinentes à ocupação iniciada em 1948.  

“O que vemos agora são massacres que fazem parte do impulso genocida, nomeadamente matar para reduzir o número de pessoas que vivem em Gaza. A limpeza étnica é um crime terrível contra a humanidade, mas o genocídio é ainda pior”, sublinhou o historiador.

De forma minuciosa e esclarecedora, Pappe tem sido um contundente crítico do ataque contínuo das tropas de Israel por terra, ar e mar à Faixa de Gaza que, desde o dia 7 de outubro de 2023, já assassinou, desapareceu ou mutilou mais de 125 mil palestinos – a maioria mulheres e crianças.

INTERROGATÓRIO NO AEROPORTO

O historiador esclareceu que embora a equipe que o interrogou não tenha sido abusiva ou rude, suas perguntas “foram realmente extraordinárias!”. “Sou um apoiador do Hamas? Considero as ações israelenses em Gaza um genocídio? Qual é a solução para o ‘conflito’ (sério, foi isso que eles perguntaram!) Quem são meus amigos árabes e muçulmanos na América… Que tipo de relacionamento eu tenho com eles?”. “Eles tiveram longa conversa telefônica com alguém, os israelenses?”, questionou, frisando que “depois de copiar tudo no meu telefone me permitiram entrar”.

“Sei que muitos de vocês tiveram uma situação muito pior”, escreveu Pappe, referindo-se ao Dr. Ghassan Abu-Sittah, um cirurgião plástico palestino britânico e reitor da Universidade de Glasgow, na Escócia, a quem no mês passado foi recusada a entrada na Alemanha – e, por extensão aos demais países do Espaço Schengen, listando Áustria, Bélgica, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Islândia, Itália, Letônia, Liechtenstein, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Noruega, Países Baixos, Polônia, Portugal, República Tcheca, Suécia e Suíça.

O tratamento dado a Pappe gerou revolta e indignação aos defensores da Palestina, que destacaram o desespero dispensado ao intelectual.

“A detenção e interrogatório do historiador antissionista israelense de renome internacional Ilan Pappe no aeroporto de Detroit pelo FBI é o mais recente na longa lista de episódios de intimidação em todo o Ocidente para defender o indefensável – o genocídio israelense dos palestinos”, declarou o professor Ussama Makdisi, da Universidade de Berkeley, na Califórnia.

Para o analista geopolítico Arnaud Bertrand, com este tipo de comportamento as autoridades dos EUA “alcançam um nível totalmente novo de insanidade e paranoia”.

“É de se perguntar se esta ‘boa vinda VIP’ está relacionada ao seu ativismo anti-genocídio e ao seu novo livro”, ironizou o professor da Universidade de Nova York, Jamil Dakwar.

Entre outros livros, Pappé é autor de A limpeza étnica na Palestina, História da Palestina moderna e Dez mitos sobre Israel.

Fonte: Papiro