Sob ameaça de bombas, famílias palestinas são forçadas por Israel a deixar Rafah | Foto: Reuters

Contra os alertas do mundo inteiro – até mesmo da Casa Branca – o regime da gangue Netanyahu/Smotrich/Gvir desencadeou o assalto a Rafah, para onde expulsou a bomba e tiros 1,4 milhão de palestinos, sendo que 300 mil – nas contas de Israel – já foram tangidos para um inóspito campo de concentração perto da costa, cinicamente chamado por um porta-voz da ocupação de “área humanitária em Al-Mawasi”.

Na manhã de sábado, tanques israelenses foram posicionados na estrada Salahaddin, que divide o centro de Rafah dos bairros orientais já evacuados, de acordo com testemunhas.

Israel deslocou tanques para Rafah, realizou ataques aéreos na região leste da cidade e tomou o lado palestino na fronteira com o Egito, o que bloqueou o ingresso da ajuda humanitária em Gaza. Isso agrava a situação pois era pela passagem de Rafah que começaram a entrar caminhões-tanque com combustível. Trabalhadores de agências da ONU alertam que em dias os postos de saúde param de funcionar.

“Todos estão pedindo a Netanyahu que não ataque Rafah. Apesar desses avisos e pedidos, o ataque começou ontem à noite”, disse o chefe da diplomacia europeia Josep Borrel a jornalistas na terça-feira (7).

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, condenou a escalada e o fechamento da passagem fronteiriça: “um erro estratégico intolerável, uma calamidade política e um pesadelo humanitário”.

Rússia, China, Brasil, União Africana, Indonésia e entidades de direitos humanos como a Anistia Internacional repudiaram o assalto israelense a Rafah e à entrada da ajuda humanitária. O isolamento de Netanyahu, quanto à ofensiva em Rafah, se estende até Washington, Berlim e Bruxelas. O ataque a Rafah “deve ser interrompido”, disse o Escritório de Direitos Humanos da ONU: “Os civis devem ser protegidos”.

A África do Sul pediu em caráter emergencial à Corte Internacional de Justiça da ONU – que investiga a acusação de genocídio perpetrado por Israel – que ordene a Israel que encerre imediatamente o ataque a Rafah e permita a entrada de ajuda humanitária.

A Casa Branca tem se pronunciado contra uma invasão terrestre de Rafah, inclusive ameaçou não fornecer mais as bombas de 900 kg usadas pela ocupação para arrasar prédios com os moradores dentro. O Departamento de Estado divulgou um relatório admitindo que Israel está violando o direito internacional ao usar as armas fornecidas por Washington, mas não foi às consequências das palavras e o fluxo de armas prossegue.

Outro apoiador de Israel de quatro costados, o premiê alemão Olaf Scholz, chamou de “irresponsável” um ataque terrestre a Rafah. “Não acreditamos que haja qualquer abordagem que não leve no final a uma perda incrível de vidas humanas de civis inocentes”, disse Scholz, acrescentando ter dito isso a Netanyahu.

A França rechaçou o ataque a Rafah, alertando para “uma situação catastrófica para a população civil” e instou Israel a retornar às negociações, “o único caminho possível para levar à libertação imediata dos reféns e obter um cessar-fogo duradouro”.

De acordo com o diretor do escritório da ONU para Questões Humanitárias (Ocha, na sigla em inglês) em Gaza, Georgios Petropoulos, “os mantimentos no sul acabam neste domingo”. O Egito advertiu que, sem a presença dos palestinos, não há como coordenar adequadamente a entrada de ajuda humanitária e condenou o ataque.

A escalada do regime messiânico-fascista foi desfechada no dia seguinte ao Hamas aceitar a proposta que os mediadores Qatar e Egito apresentaram de cessar-fogo, troca de prisioneiros – o que inclui a libertação dos assim chamados reféns, entrada desimpedida da ajuda humanitária, retirada gradual das tropas israelenses e medidas para a reconstrução, em um processo de três etapas, que Netanyahu recusou.

Negociação que, como se sabe, foi acompanhada de perto pelo chefe da CIA e ex-embaixador, Wiliam Burns, que se deslocou especialmente ao Oriente Médio para isso.

A grande preocupação de Biden, que a juventude de seu país já trata como “Genocide Joe”, é que não haja como atacar Rafah sem esconder o genocídio, o que poderia, para ele próprio, implicar até mesmo na perda da eleição em novembro. Como disse recentemente o senador Bernie Sanders, Gaza ameaça se tornar o “Vietnã de Biden”.

A população palestina de Gaza está “exausta, degradada, humilhada” após dias de bombardeios “implacáveis”, disse Sam Rose, da UNRWA, à CNN.

“A situação já é muito desesperadora. Sofremos ataques implacáveis de artilharia, ataques aéreos, projéteis de tanques nos últimos quatro ou cinco dias”, acrescentou

“Em todos os lugares que você olha agora no oeste de Rafah esta manhã, as famílias estão fazendo as malas. As ruas estão significativamente mais vazias”, disse a porta-voz da agência de refugiados palestinos da ONU, Louise Wateridge. “Novas áreas receberam ordens de evacuação para o centro de Rafah, no sul de Gaza, e Jabaliya, no norte de Gaza no sábado”.

A cena se repete: famílias desfazendo tendas, empacotando pertences, e fazendo uso do meio de transporte que for possível, de novo na estrada – pela quarta ou quinta vez.

As pessoas já foram deslocadas várias vezes e restam poucos lugares para onde ir. Aqueles que fugiam dos combates no início desta semana ergueram novos acampamentos na cidade de Khan Younis, esta, parcialmente destruída na ofensiva israelense anterior, e na cidade de Deir el-Balah no centro de Gaza, sobrecarregando a infraestrutura, registrou o Middle East Eye.

A refugiada Nidaa Abu Tuha relatou à Palestine Chronicle que fugiu da Cidade de Gaza durante o primeiro mês da guerra genocida de Israel. Seu primeiro destino foi o centro de Gaza, depois Khan Yunis, depois Rafah.

“Moro com meus dois filhos em Rafah há 4 meses. Vivemos em um centro de abrigo afiliado à UNRWA, dormimos dentro de uma sala de aula”, ela contou. “Na sala de aula, só temos espaço para dois colchões. Dormimos, comemos e passamos todo o nosso tempo lá”, disse ela.

“Mas agora, depois que a aeronave israelense lançou panfletos anunciando a invasão de Rafah, fugirei de Rafah para a área de Mawasi a oeste de Khan Yunis, ou para os campos no centro de Gaza.”

Fonte: Papiro