Como a China contra-atacou os EUA e virou o jogo dos semicondutores
O mundo dos chips não será mais o mesmo depois de 2024. Tudo por conta do governo da China, que, sob a liderança do Partido Comunista, constituiu na sexta-feira (24) seu maior fundo de investimento estatal na indústria de semicondutores. Além da vanguarda tecnológica, a China visa autonomia.
O país vinha sendo hostilizado e boicotado pelos Estados Unidos. As ameaças do governo Joe Biden culminaram numa série de sanções comerciais, que restringem a exportação de chips norte-americanos avançados para empresas chinesas, bem como de insumos para fabricação de chips sem licença.
A Casa Branca ainda exigiu que países aliados adotassem sanções similares. Foi o caso da Holanda, que proibiu a ASML de enviar algumas máquinas de litografia ultravioleta extrema para a China. Trata-se de um equipamento essencial para a fabricação de semicondutores modernos. Alemanha, Coreia do Sul e Japão também foram pressionados.
Analistas especulavam que, mais cedo ou mais tarde, a China reagiria à provocação. Só não esperavam um contra-ataque tão rápido e contundente quanto essa nova rodada de investimentos do Fundo de Investimento do Setor de Circuitos Integrados da China – o “Big Fund 3”.
De acordo com uma agência oficial do governo, o investimento do Ministério das Finanças e dos seis maiores bancos estatais chineses será da ordem de US$ 47,5 bilhões – o equivalente a R$ 250 bilhões. A meta: transformar a China até 2030 na maior potência global em áreas como inteligência artificial (IA), tecnologia 5G sem fio e computação quântica. Inicialmente emparedada, a China virou o jogo.
O montante de US$ 47,5 bilhões não tem precedentes. Em termos financeiros, é praticamente a soma da primeira rodada do “Big Fund” (de US$ 19,2 bilhões, em 2014) e da segunda (US$ 28,2 bilhões, em 2019). O impacto do anúncio nas empresas do setor foi significativo – as ações de fabricantes como a Semiconductor Manufacturing International e a Hua Hong dispararam na Bolsa de Valores.
O desafio da China é acabar com a dependência do Ocidente e dar um salto para alcançar a independência na fabricação de semicondutores. A briga comercial com os Estados Unidos retardou o avanço de tecnologias próprias para chips avançados. Ainda assim, empresas como a Huawei ganharam mercados e reconhecimento.
Outra medida importante do governo chinês para estimular essa indústria foi estabelecer políticas de conteúdo local. Até 2025, as montadoras, por exemplo, deverão usar ao menos 25% de chips do país na fabricação de veículos.
O pedido do Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação, dirigido a multinacionais chinesas do setor automotivo, como, BYD, Dongfeng Motor, FAW Group, GAC Motor e Saic Motor, mostra o envolvimento do conjunto do governo rumo à nova era dos chips. Juntas, essas empresas respondem por 32% dos carros vendidos no mundo, enquanto os chips chineses estão presentes em apenas 10% desses veículos.