Foto: Gustavo Mansur/Palácio Piratini

Após uma breve trégua nos últimos dois dias em parte do Rio Grande do Sul, a chuva voltou com força nesta sexta-feira (10), conforme apontavam as previsões meteorológicas, trazendo mais medo à população já afetada pelas enchentes. Além disso, a temperatura caiu e o número de mortos e de desabrigados subiu, indicando que o tormento dos gaúchos ainda está longe de acabar. 

Esta, aliás, tem sido uma das características da crise atual, que a difere das do ano passado: além de ser muito mais ampla no que diz respeito às áreas afetadas com gravidade, o alto volume das chuvas e o fato de se alongarem por vários dias piora a situação. Há dez dias, o estado tem precipitações, ora cessando um pouco, ora caindo com severidade.

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as chuvas devem se prolongar ao menos até domingo. Conforme informações da Defesa Civil divulgadas na manhã desta sexta-feira (10), até o momento o estado tem 113 óbitos confirmados em razão das chuvas, além de 766 feridos e 146 desaparecidos. 

Ao todo, os municípios afetados somam 435 (de um total de 497), com uma população total atingida que chega a quase dois milhões. O número de desalojados dobrou em 24 horas, ultrapassando os 337 mil, e 69,6 mil estão em abrigos. Pouco mais de 70,8 mil pessoas e quase 10 mil animais foram resgatados. 

O nível do Guaíba chegou a ficar em 4,72 metros na manhã desta sexta, o mais baixo em uma semana, mas a retomada das chuvas preocupa as cidades de seu entorno, como Porto Alegre. 

Por outro lado, de acordo com o Serviço Geológico do Brasil, os níveis dos rios no Rio Grande do Sul ainda estão altos, principalmente nos rios Uruguai, Jacuí, Sinos, Gravataí e na Lagoa dos Patos e da Bacia do Taquari. 

Como consequência, cidades do Sul do estado, como Pelotas e Rio Grande, estão sofrendo mais do que outrora, com áreas alagadas e desabrigados. A prefeitura de Rio Grande informou, nesta manhã, que a Lagoa dos Patos atingiu  2,37m, ou seja, 1,57m acima do nível normal, superando a maior cheia da história da cidade, de 1,25 m em 1941. Nos últimos dias, a prefeitura de Pelotas determinou a evacuação de diversos locais.

Diante das inundações de áreas de plantações de arroz do RS — o maior produtor do país, respondendo por 70% do volume total — e de falsas notícias sobre suposto desabastecimento, produtores e supermercados informaram que não há risco de desabastecimento do grão no Brasil. 

Abastecimento

Segundo a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), a colheita no RS abrange, até o momento, 83% do total da área prevista para a safra. A entidade acrescenta que o produto colhido apresenta “boa qualidade e produtividade, o que garante o abastecimento dos brasileiros”.

Além disso, o governo federal autorizou a importação de até um milhão de toneladas do grão para a recomposição dos estoques públicos. “Os estoques serão destinados, preferencialmente, à venda para pequenos varejistas das regiões metropolitanas, dispensada a utilização de leilões em bolsas de mercadorias ou licitação pública para venda direta”, aponta a medida provisória publicada em edição extra do Diário Oficial da União, na noite desta quinta-feira (9).

Vale destacar, ainda, que a Central de Abastecimento do Rio Grande do Sul (Ceasa) salientou que “não há risco de desabastecimento” de legumes, verduras e frutas nos mercados, mas que “preços podem aumentar”.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) informaram a compra inicial de 52 mil cestas de alimentos para ajudar as populações atingidas. A Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sesan) já providenciou o empenho de R$ 8,39 milhões para viabilizar a compra.

De acordo com o ministério das Comunicações, o sinal da telefonia móvel e de outros serviços de telecomunicações funcionam parcialmente em 222 cidades gaúchas. A interrupção parcial ocorre quando há pelo menos uma operadora funcionando em uma determinada região, ainda que outras estejam com serviço afetado.

Para dar conta da necessidade da população gaúcha em relação aos medicamentos da Farmácia Popular perdidos na enchente, o governo federal anunciou que vai flexibilizar a retirada desses itens. 

“No Farmácia Popular, os remédios perdidos podem ser repostos com uma segunda retirada. As medidas se somam ao envio de medicamentos prioritários que já havíamos feito. Temos que garantir a continuidade de tratamentos e os insumos para todos os atendimentos no Rio Grande do Sul!”, escreveu a ministra da Saúde, Nísia Trindade em postagem nas redes sociais.

Também foi publicada nota técnica facilitando o acesso de pacientes do RS a medicamentos para o tratamento de HIV ou aids e com infecção pelas hepatites B e C, inclusive quando estiverem fora do estado, com receita médica sem data de validade ou com a validade vencida e sem a exigência de exames de carga viral.

Com agências