Rodoviária em Buenos Aires durante a greve desta quinta-feira | Foto: AFP

Desde os primeiros minutos desta quinta-feira (9), manifestantes tomaram as ruas erguendo bandeiras e faixas para afirmar: “A Pátria não se vende!” e “Não ponham a mão!”.

A greve geral integra o plano de luta unitário das Centrais Sindicais em defesa de salários, empregos e direitos contra o desgoverno neoliberal.

Para o dirigente da CGT, Pablo Moyano, “a greve está sendo uma resposta contundente, uma mensagem aos senadores que entre aspas dizem defender o diálogo, mas que não se decidiram em ficar ao lado dos trabalhadores. Exigimos que não votem a Lei de Bases de Milei”. Conforme foi explicitado, está é uma rejeição popular a um processo empobrecedor, que passa pelo desmantelamento do Estado, com a privatização de setores estratégicos da economia e a reforma trabalhista.

“Basta de entrega e assalto, estamos unidos por trabalho, soberania, democracia e justiça social”, afirmou o secretário-geral da CTA Autônoma, Hugo Godoy, frisando que a grandiosidade do movimento é uma resposta a Milei, que pensava em seguir avançando impune, “decreto por decreto contra os interesses do conjunto da classe trabalhadora e do povo argentino”.

De acordo com o secretário-geral da CTA dos Trabalhadores e deputado nacional Hugo Yasky, “a greve expressa a rejeição às políticas do governo, que logo após tomar posse já anunciou um Decreto de Necessidade e Urgência (DNU) que ataca os direitos dos trabalhadores, que pulveriza o sistema previdenciário, que acaba com os recursos que garantiam o financiamento da educação, do funcionamento das instituições públicas, saúde, e que foi agravado desde o primeiro dia pelas demissões indiscriminadas dos trabalhadores do setor público”.

O dirigente da Associação Bancária (AB), Sergio Palazzo, ressaltou que a paralisação das agências evidencia o quanto “a política econômica levada a cabo pelo governo não para de prejudicar os trabalhadores e o povo em seu conjunto, enquanto favorece descaradamente aos grandes grupos econômicos”.

“Esta paralisação tem vários destinatários, não só Milei, mas os governadores e senadores que terão que tratar a Lei de Bases e também os quatro ou cinco grupos empresariais que são sócios do Executivo”, denunciou o líder da Associação de Trabalhadores do Estado (ATE), Rodolfo Aguiar, destacando o expressivo apoio das entidades sindicais nos estados e municípios ao protesto.

A Confederação de Trabalhadores da Educação da República Argentina (Ctera) se soma às demais categorias pelo rechaço à Lei de Bases e o DNU 70/2023, contra o ajuste, as demissões e os tarifaços e coloca entre as suas reivindicações específicas “o financiamento para a educação pública com a restituição e o pagamento do Fundo de Incentivo Docente (Fonid), extinto por decreto governamental em 26 de março, e que representava entre 10% a 14% dos salários dos educadores”.

A Federação Argentina dos Empregados no Comércio e Serviços destacou o grande apoio dos shoppings e cadeias de supermercados, “em defesa das fontes de trabalho, da indústria nacional e do sistema previdenciário argentino”.

O Sindicato dos Trabalhadores da Saúde da Argentina informou que “a greve será de 24 horas e total”, frisando que apenas emergências serão atendidas em hospitais públicos.

Bem diferente de um hipotético “distanciamento do povo” por parte do movimento sindical, alegado por Milei, as mobilizações têm crescido de forma contundente. A ação ficou demonstrada na gigantesca marcha universitária de 23 de abril, que levou 800 mil às ruas de Buenos Aires, e nas concentrações da semana passada no 1º de Maio. Contra os atropelos do governo ultradireitista, a primeira greve ocorreu em 24 de janeiro, 45 dias após o começo da gestão, e incluiu uma expressiva concentração na Praça do Congresso.

MANIFESTO UNITÁRIO DAS CENTRAIS SINDICAIS

“Milei para tua mão. A Pátria não está à venda. Em defesa dos direitos trabalhistas, sociais, previdenciários e do modelo sindical. Por um salário digno, por um emprego com direitos trabalhistas. Greve Nacional.

Estamos passando por um grave momento como país e como sociedade. Um governo nacional que, em nome de uma “liberdade de mercado” mal compreendida, implementa um ajuste brutal que é especialmente sofrido pelos setores de salários mais baixos, pelas classes médias assalariadas, pelos aposentados e pensionistas.

Estamos diante de um governo nacional que promove a retirada de direitos trabalhistas e sociais, que redefine o papel do Estado, fechando e reduzindo a sua mínima expressão importantes dependências e instituições que prestam assistência à nossa população, gerando desta forma centenas de milhares de demissões de servidores públicos. Que decreta a paralisação das obras públicas, gerando enorme desemprego. Que leva adiante um brutal provoca um brutal desfinanciamento da segurança social, da saúde pública; das universidades, da educação, da ciência e da cultura, colocando em risco a vida dos nossos idosos e da população em geral, afetando diretamente a qualidade educativa, a capacidade de pesquisa do país e a nossa identidade cultural. Isso promove políticas perigosas de privatização de empresas públicas e de entrega de recursos do patrimônio nacional.

Preços livres de alimentos, medicamentos, energia e serviços essenciais e salários reduzidos no seu poder de compra. Negociações coletivas conjuntas sob a intervenção do ministro da Economia que impedem a atualização adequada dos salários; recessão e aumentos incessantes que geram queda nos níveis de atividade econômica e nos índices de consumo básico, que na prática representam uma transferência fenomenal de recursos para os setores mais concentrados e privilegiados da economia.

“Estamos diante de um governo que promove uma queda real de 31% nas rubricas do orçamento para reformas e aposentadorias, de 87% nas obras públicas, 39% nos subsídios aos transportes, 76% nas transferências para as províncias [estados], e um aumento de 18% nos cortes das universidades e de 13% nos programas sociais”

Uma queda real de 31% nas rubricas do orçamento para reformas e aposentadorias, de 87% nas obras públicas, 39% nos subsídios aos transportes, 76% nas transferências para as províncias [estados], e um aumento de 18% nos cortes das universidades e de 13% nos programas sociais. Estes são apenas alguns dos indicadores que mostram que o ajuste não é pago pela casta; mas recai sobre os setores mais vulneráveis.

Estamos preocupados com a política ambiental do governo de negação das mudanças climáticas e com a forma como esta afeta os nossos recursos e as comunidades que deles dependem. Poderíamos acrescentar um incentivo permanente aos discursos de ódio que o governo propõe e incentiva, afetando as minorias étnicas, as dissidências de gênero, as pessoas com deficiência, etc., o que gera uma situação permanente de violência e confronto entre os argentinos.

Um governo sem diálogo social, que só se liga a representantes de interesses amigos, que ataca e desfaz dos trabalhadores e de suas organizações, menospreza os aposentados e pensionistas que não podem esperar, ignora o cuidado dos mais vulneráveis, discrimina os criadores da economia popular, enquanto se deteriora gradualmente o valor do capital das pequenas e médias empresas, aprofundando assim o grave quadro de pobreza estrutural e indigência que devasta a nossa comunidade.

Diante deste cenário urgente, mais uma vez, o movimento operário organizado pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Argentina (CTA-T) e a Central dos Trabalhadores da Argentina Autônoma (CTA-A) estão juntas com todo nosso povo, unidas e de pé.

Nós, trabalhadores, reafirmamos o nosso compromisso e o nosso direito de participar no desenho da sociedade a que aspiramos. Neste desafio convocamos e colocamos à consideração pública de todos os atores sociais e institucionais, a construção de um programa de consenso multissetorial, que nos permita avançar em direção a uma Agenda de Diálogo para uma Argentina de Desenvolvimento, Produção e Trabalho, solidária, inclusiva e com oportunidades iguais. É um dia de resistência e reclamação, pelas necessidades que devem ser atendidas e reparadas.

O movimento sindical argentino em defesa da democracia, dos direitos trabalhistas e de salários dignos convoca a greve geral de 9 de maio

Os direitos se defendem! A Pátria não se vende!

Fonte: Papiro