Imagem de vídeo da campanha em defesa da indústria do audiovisual nacional

Aberta ao público em Buenos Aires, a assembleia dos trabalhadores do Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais (Incaa) da Argentina converteu-se na sexta-feira (3) numa grande manifestação contra o “apagão cultural” proposto pelo governo de Javier Milei.

Convocados pela Associação de Trabalhadores do Estado (ATE), artistas, produtores e cineastas realizaram um caloroso abraço ao instituto da cultura argentina, alertando para as terríveis consequências do plano neocolonial em curso, tanto no campo político, econômico como ideológico. Para garantirmos a produção nacional e a preservação de empregos, afirmaram, “não há tempo a perder”.

“Milei: nem tudo se compra, nem tudo se vende”, “Cinema é comunidade”, “O cinema nacional somos nós” eram algumas das palavras de ordem dos manifestantes, que reiteraram que “é hora de dar um basta” e garantir a manutenção de uma indústria cultural rica, pujante e aclamada em todo mundo.

Estiveram unidos o Coletivo de Cineastas e Documentaristas da Argentina, as Associações de Diretores de Fotografia, Diretores de Arte, Engenheiros de Som e Editores, centros acadêmicos das universidades de cinema, Cronistas Cinematográficos, e uma longa lista de personalidades culturais, deputados, organizações e grupos políticos e culturais.

“Nós nos mobilizamos porque o governo Milei declarou guerra ao cinema e à cultura. O presidente do Incaa, Carlos Pirovano, em seu primeiro dia de nomeação, demitiu centenas de trabalhadores precários e depois continuou com suspensões de trabalhadores permanentes, fechamentos e esvaziamentos de áreas-chave do Instituto (Espaços Incaa, incluindo o histórico cinema Gaumont, apoio a festivais, fiscalização e comunicação, entre outros)”, detalhou o comunicado.

Os manifestantes repudiaram “a censura e o controle ideológico” e apelaram à comunidade cinematográfica a “se organizar e lutar para derrotar este plano destrutivo”. “É uma luta de todos, é uma luta contra a censura política e econômica, contra o monopólio da palavra nas mãos dos conglomerados de comunicação social e do poder econômico”, sublinharam.

Vale lembrar que os cortes na cultura e no Incaa já constavam da primeira minuta da Lei de Bases de Milei, rejeitada meses atrás. No entanto, o Instituto se encontra atualmente fechado, sob a justificativa oficial da “reestruturação”. Os trabalhadores foram afastados até que a “reorganização” seja concluída.

A representante dos trabalhadores no Incaa, Ingrid Urrutia, denunciou recentemente a postura do diretor Carlos Pirovano, nomeado por Milei, “que nunca viu semelhante nível de hipocrisia”. Pirovano já havia fechado a área de desenvolvimento, essencial para a produção de cinema nacional e independente, deixando 56 trabalhadores e seus familiares na rua.

Na avaliação de Juan Mascaró, nome chave dos Documentaristas de Argentina (Doca), “o cinema é um negócio do Estado, não só pela criação de empregos, para as economias que rodeiam o cinema, mas porque um filme devolve dinheiro ao Estado”. “Um filme, quando feito através de contratos de trabalho, fatura cada centavo, paga impostos para tudo”, ressaltou. Mas para Mascaró, os ataques ao cinema têm claramente “um gesto ideológico de perseguição, de verdadeira censura”.

A apresentadora Mirtha Legrand, referência da televisão argentina, disse que é inadmissível o fechamento do Incaa, o cinema Gaumont ou a Escola de Cinema, que não poderão jamais ser alvo da política de cortes em curso. Mirtha reconheceu a relevância de manifestações como as realizadas, sublinhando a marcha dos estudantes que levou 800 mil às ruas só em Buenos Aires. “É algo impressionante, nunca vi tanta gente na Argentina. Nunca, nunca. É a primeira vez e vi todas as marchas, todas as concentrações de todos os governos”, acrescentou.

Fonte: Papiro