Foto: Marcelo Benedicto/IBGE

No mês março, a produção industrial regional brasileira caiu em 10 de 15 regiões pesquisadas, na comparação com fevereiro, conforme a Pesquisa Indústria Mensal (PIM) Regional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada na quinta-feira (9).

O estado de São Paulo, que representa cerca de um terço da indústria brasileira, teve uma influência negativa na apuração nacional. Registrou recuo de -0,4% em março, segundo mês seguido em queda, após recuo de -0,2% em fevereiro. No acumulado de 12 meses até março, a produção paulista teve uma queda de -0,6%. A média nacional no período foi de 0,7%.

“Apenas 1/3 dos parques industriais acompanhados pelo IBGE logrou aumentar sua produção entre fev/24 e mar/24: Rio Grande do Sul (+0,1%), Santa Catarina (+2,3%), Mato Grosso (+2,5%), Pará (+3,8%) e Bahia (+0,5%). São Paulo, por sua vez, teve seu segundo mês de declínio consecutivo: -0,2% em fev/24 e -0,4% em mar/24, com ajuste sazonal”, destacou o Instituto e Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi).

A indústria paraense, influenciada pelo setor extrativo, foi a principal influência positiva no resultado nacional, assinala o IBGE. No sentido contrário, pesaram sobre a produção de fevereiro, inclusive com recuos de dois dígitos, o Amazonas com -13,9% e Paraná -13,0%.

Os dados locais confirmam a concentração do resultado da indústria, na medida que foram apenas cinco dos 25 ramos industriais acompanhados pelo crescimento de 0,9% da produção em março na comparação com fevereiro, mês em que ficou em torno de zero (0,1%). Foram dois meses de variações positivas, mas que não foram suficientes para recuperar as perdas verificadas no mês de janeiro (-1,1%).

A indústria de transformação repetiu o sinal negativo e agravou ainda mais suas perdas: de -0,4% em 2022 para -1,0% em 2023. Isto em grande medida devido às quedas na produção de bens de capital. Em março, a produção de bens de capital caiu -1,6% e acumula queda de -10,7% nos últimos 12 meses.

Para o economista Fernando de Aquino, membro da Comissão de Política Econômica do Conselho Federal de Economia (Cofecon), “o que chama a atenção é a queda muito alta de 10,7% na produção de bens de capital, que são os bens que vão ser usados na ampliação da capacidade produtiva da economia, na formação bruta de capital fixo. Então, se a gente não está aumentando a capacidade produtiva da economia, isso significa que a gente não está com ritmo de crescimento da capacidade produtiva, que dá suporte ao crescimento do PIB, em um ritmo aceitável”.

A indústria de alta intensidade tecnológica, que havia registrado -0,3% em 2022, recuou -4,9% em 2023, com profunda deterioração no 4º trimestre de 2023: -16,4% frente ao mesmo período do ano anterior.

O desafio da política da reindustrialização do país é enorme e precisará de um esforço especial para a indústria de transformação. O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, já se manifestou, recentemente, que os R$ 250 bilhões previstos para o Programa Nova Indústria Brasil, de responsabilidade do banco de fomento, não são suficientes.

“Por mais que a taxa de juros tenha sofrido cortes, observamos ainda patamares elevados”, observou o analista da pesquisa, Bernardo Almeida, ao divulgar o resultado da produção industrial de março.

Com o Banco Central elevando o juro real, diante da inflação controlada, ao reduzir a queda na taxa básica de juro (Selic) em apenas 0,25 ponto percentual, como o fez na última reunião realizada na quarta-feira (8), a situação tende a se agravar.

Essa decisão é incompatível com o atual cenário de inflação controlado e torna impraticável continuar o projeto de neoindustrialização do país com altos níveis de taxa de juros. Reduzir o ritmo de corte da taxa básica tira a oportunidade de o Brasil alcançar mais prosperidade econômica, aumento de emprego e de renda”, alertou o presidente da CNI, Ricardo Alban.

“Taxa de juros real em 6,9% desestimula a atividade econômica e o crédito”, afirma a entidade da indústria.

Fonte: Página 8