Delegação de advogados da África do Sul exige cessar-fogo imediato | Foto: Selman Aksünger/Anadolu Agency

Em audiência nesta quinta-feira (16), a África do Sul pediu à Corte Internacional de Justiça (CIJ) da ONU que interrompa o ataque de Israel a Rafah em curso e voltou a pedir que ordene um cessar-fogo em Gaza.

O pedido é parte da acusação lançada pela África do Sul, a nação vitoriosa contra o apartheid e o racismo, de que Israel comete e incita o genocídio em Gaza. Acusação que foi aceita pela mais alta corte internacional que mantém Israel sob investigação.

Nos últimos dias, meio milhão de palestinos foram forçados a deixar a cidade, que está sob ataque da força de ocupação israelense, e prestes a se tornar um amontoado de destroços, como já perpetrado na Cidade de Gaza, Khan Younis e em vários campos de refugiados, o mais notório deles, sob novo ataque, o de Jabalia.

Israel tentou adiar a audiência, mas seu pedido foi negado pelo tribunal e terá que apresentar sua defesa na sexta-feira (17).

Falando no tribunal de Haia na quinta-feira, o embaixador da África do Sul na Holanda, Vusimuzi Madonsela, disse que o “genocídio” de Israel em Gaza “atingiu um novo e horrível estágio”.

“A África do Sul esperava, quando comparecemos pela última vez perante este tribunal, interromper esse processo genocida para preservar a Palestina e seu povo”, disse Madonsela à CIJ.

O delegado sul-africano Max du Plessis disse à CIJ que, em vez de cumprir as ordens emitidas em janeiro, Israel desafiou o tribunal “prendendo, sitiando e bombardeando a superlotada Rafah”.

Ele acrescentou que a atual ofensiva de Israel na cidade, é a “fase mais mortal deste genocídio em andamento”.

Du Plessis disse que as ordens iniciais do tribunal foram feitas porque o direito de existência da população palestina em Gaza está atualmente em risco, e a única maneira eficaz de preservar esse direito é por meio da prevenção.

A África do Sul está buscando essas novas medidas antes que seja tarde demais para que a prevenção seja possível, disse ele. Ecoando a avaliação anterior da ONU, du Plessis enfatizou que “ninguém em Gaza está seguro”.

“O ponto-chave hoje é que o objetivo declarado de Israel de varrer Gaza do mapa está prestes a ser realizado”, disse por sua vez o representante legal da África do Sul, Vaughan Lowe, aos juízes.

“Além disso, evidências de crimes e atrocidades terríveis estão literalmente sendo destruídas e demolidas, na verdade limpando a lousa para aqueles que cometeram esses crimes e zombando da justiça”, disse ele.

Segundo Du Plessis, as zonas seguras declaradas de Israel são uma “distorção cruel” porque as pessoas muitas vezes passam fome demais para fugir. Aqueles fortes o suficiente para sair para abrigos às vezes eram atacados por forças israelenses, acrescentou.

“Não há nada de humanitário nessas zonas humanitárias”, disse. “O genocídio dos palestinos por Israel continua por meio de ataques militares e fome causada pelo homem.”

À Corte, os advogados sul-africanos advertiram que, como ponto fundamental de entrada da ajuda humanitária, se Rafah cair, “Gaza cairá”.

Mais de um milhão de palestinos, tangidos pelas bombas e tiros israelenses, haviam se refugiado na mais setentrional cidade do enclave, na fronteira com o Egito, mas estão tendo que voltar para a estrada, com os parcos pertences, enquanto são empurrados para um campo de concentração inóspito, o de Mawasi, cinicamente chamado de “área humanitária expandida”.

A representação sul-africana disse à Corte de Haia que o povo palestino enfrenta “aniquilação contínua” e que o ataque a Rafah é “parte do jogo final em que Gaza está totalmente destruída”.

Israel continua com seus ataques em Rafa, apesar dos “avisos explícitos” de que eles podem ter consequências “genocidas”, disse a advogada sul-africana Tembeka Ngcukaitobi.

Como agravante, este mês, o exército israelense tomou e fechou o lado palestino da passagem fronteiriça de Rafah entre a Faixa de Gaza e o Egito, ponto de entrada vital para a ajuda humanitária, severamente prejudicada.

“A frustração da ajuda humanitária não pode ser visto como nada além do desaparecimento deliberado de vidas palestinas. Fome a ponto de passar fome”, disse a advogada Adila Hassim.

“O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu… descreveu os objetivos de Israel no ataque militar como sendo garantir que Gaza nunca mais constitua uma ameaça para Israel”, disse Tembeka Ngcukaitobi, que representa a África do Sul na audiência da CIJ, antes de citar declarações de cunho genocida de líderes israelenses.

“Ele (Netanyahu) descreveu o objetivo de Israel como o capaz de ‘alcançar a vitória total e garantir que nenhuma força no mundo nos deterá. Ficaremos sozinhos’, enfatizando que Israel lutará com as unhas.”

“Betzalel Smotrich, membro do gabinete de segurança, afirmou que ‘não existem meias medidas, Rafah, Deir al-Balah, Nuseirat, aniquilação total.’

Ele prossegue dizendo que estamos negociando com aqueles que não deveriam existir há muito tempo”, continuou Ngcukaitobi.

“Para o gabinete israelense, é como se não houvesse nenhuma ordem judicial que os vinculasse… O vice-presidente do braço internacional do Likud declarou: ‘Acho que precisávamos invadir Rafah ontem. Para entrar e pegá-los. Lá precisamos entrar e matar e matar e matar. Precisamos matá-los antes que eles nos matem”, citou MK Tally Gotliv.

A África do Sul também pediu à CIJ que ordene que Israel cesse suas operações militares na Faixa de Gaza e se retire imediatamente de todo o território. Também que ordene a Israel que permita o acesso desimpedido a Gaza para funcionários da ONU, grupos humanitários, jornalistas e investigadores. Pediu, ainda, ao tribunal que garanta que Israel informe sobre suas medidas tomadas para cumprir as ordens.

Fonte: Papiro