Rendimento do 1% mais rico é 40 vezes maior do que os 40% dos mais pobres
A desigualdade social permaneceu acentuada no país em 2023, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que foram divulgados nesta sexta-feira (19). A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) – Rendimentos de Todas as Fontes – mostra que no ano passado os 1% mais ricos no Brasil obteve um rendimento médio mensal 39,2 vezes maior que os 40% com os menores rendimentos.
Enquanto o rendimento médio mensal real domiciliar per capita do 1% mais rico cresceu 13,2% em 2023 (R$ 20.664) em relação 2022 (R$ 18.257), para os 40% mais pobres, o valor representa um aumento de 12,6%, com o rendimento médio mensal passando de R$ 468 para R$ 527 no mesmo período.
A massa de rendimento mensal domiciliar per capita atingiu R$ 398,3 bilhões – o maior valor da série histórica da pesquisa, iniciada em 2012. O resultado corresponde a uma alta de 12,2% ante ao rendimento de todas as fontes obtido em 2022. Em relação a 2019, a expansão foi de 9,1%.
No ano passado, o rendimento médio mensal real domiciliar per capita também alcançou o maior valor da série histórica da pesquisa, ao ficar em R$ 1.848 – alta de 11,5% ante 2022 (R$ 1.744), uma elevação de 6,0%, ano que anteriormente havia registrado o valor máximo da série histórica.
Depois dos anos de desgoverno Bolsonaro, da pandemia da Covid e de um violento arrocho salarial sobre os trabalhadores, com a trabalho informal batendo recorde, a melhoria no mercado de trabalho e a política de valorização do salário mínimo, somado a expansão dos programas sociais pelo atual governo, contribuíram para o resultado da pesquisa.
Mas o resultado ainda está longe de atender às necessidades dos trabalhadores e do povo brasileiro. O último dado da taxa de desemprego pelo IBGE veio aumentando e a valorização do salário mínimo, a conta-gotas, está levando categorias às manifestações e greves pelo país.
“Ainda que a massa de rendimentos do trabalho tenha aumentado consideravelmente, o rendimento de outras fontes cresceu ainda mais, aumentando levemente o seu peso no rendimento domiciliar. Entre os rendimentos de outras fontes, destaca-se a expansão dos rendimentos provenientes de programas sociais e de aluguel e arrendamento”, diz o pesquisador Gustavo Fontes, analista da pesquisa.
O rendimento médio mensal real habitualmente recebido de todos os trabalhos (calculado para as pessoas de 14 anos ou mais de idade ocupadas) foi estimado em R$ 2.979 em 2023, um aumento de 7,2% em relação a 2022 (R$ 2.780) e de 1,8% na comparação com 2019 (R$ 2.927).
Em 2023, o aumento desse rendimento resultou em uma massa mensal de rendimento de R$ 295,6 bilhões, o maior valor da série histórica da PNAD Contínua. Esse valor representa um crescimento de 11,7% em relação a 2022 (R$ 264,6 bilhões) e de 8,8% ante 2019 (R$ 271,7 bilhões).
Já a parcela dos 10% mais ricos do Brasil, o rendimento médio mensal foi de R$ 7.580 em 2023 – alta de 12,4% frente a 2022. O valor é 14,4 vezes maior do que a média dos 40% mais pobres.
Na pesquisa, o IBGE considera todas as origens de rendimento, ou seja, além dos provenientes do trabalho, são computadas aposentadorias e pensões, aluguel e arrendamento, pensão alimentícia, doações, mesadas de não morador, programas sociais de transferência de renda, seguro desemprego e outros rendimentos.
Segundo o Instituto, aproximadamente 64,9% da população (140 milhões de pessoas) tinha algum tipo de rendimento. No ano anterior, eram 62,6%. O rendimento de todas as fontes, considerando a população residente com rendimento, aumentou 7,5% em relação a 2022, atingindo R$ 2.846.
Em 2023, o rendimento médio mensal real habitualmente recebido de todos os trabalhos foi estimado em R$ 2.979, o que representa uma expansão de 7,2% em relação a 2022 (R$ 2.780). Já o rendimento médio de outras fontes, diferentes do trabalho, cresceu 6,1%, chegando a R$1.837 – recorde da série histórica.
De 2022 a 2023, ainda, a proporção de domicílios do país com algum beneficiário do programa Bolsa-Família subiu de 16,9% para 19,0%.
O índice de Gini do rendimento mensal real domiciliar per capita manteve-se em 0,518, o menor da série histórica e o mesmo valor de 2022. O Gini mais alto da série (0,545) ocorreu em 2018. Esse indicador mede a concentração de renda e varia de 0 (máxima igualdade) a 1 (máxima desigualdade).
Fonte: Página 8