"Meio ano de inferno", denuncia cartaz erguido por familiar de refém no ato de Tel Aviv | Foto: Jack Guez/AFP

O “Fora Netanyahu” mobilizou dezenas de milhares de israelenses por todo o país neste sábado (06). Ao se completarem seis meses do genocídio de palestinos na Faixa de Gaza, multidões tomaram as ruas em diversas cidades.

Em Tel Aviv, a maior das manifestações congregou 100 mil pessoas. O ato teve início na Praça da Democracia, um cruzamento de duas avenidas centrais da cidade, assim rebatizado em homenagem às enormes manifestações contra o ataque antidemocrático ao Judiciário que partiu de Netanyahu, antes do atual confronto e que sacudiram o país em 2023.

Carregando caricaturas de “Bibi”, com palavras como “Culpado”, bandeiras israelenses e entoando palavras de ordem contra o governo e por eleições já. A marcha seguiu então para reunir-se com outro protesto exigindo uma solução negociada para libertar os 129 reféns ainda detidos em Gaza, 34 dos quais morreram, alguns por fogo disparado por forças israelenses.

“Benjamin Netanyahu está atrasando deliberadamente o acordo. É ele que se interpõe entre nós e os nossos entes queridos em Gaza”, manifestou no protesto Einav Zangauker, cujo filho ainda é mantido em cativeiro na Faixa de Gaza, informou o jornal Times of Israel.

Einav Zangauker acrescentou que “os reféns não têm tempo para eleições e não têm tempo para esperar”, insistindo que “o obstáculo ao acordo deve ser removido agora e é por isso que Netanyahu deve ser substituído imediatamente”.

Zangauker que tem se tornado um dos principais destaques nos atos contra a continuação do ataque a Gaza, já havia conclamado em ato similar em Tel Aviv, uma semana atrás: “Vamos incendiar o país se preciso for, Netanyahu tem que sair”.

As manifestações das últimas duas semanas, tanto pela sua dimensão (que havia arrefecido por conta do clima de guerra que Netanyahu instala em Israel), como pelo tom das proclamações dos manifestantes, marcam uma retomada da insatisfação popular que começa a se manifestar em concentrações que tomam o centro de cidades além de Tel Aviv, a exemplo dos protestos diante do parlamento israelense, o Knesset, em Jerusalém e atos de milhares em Haifa, Beer Sheva e Cesarea (onde fica residência particular de Bibi). Manifestações menores ocorreram em cerca de 50 cidades. 

O protesto ficou, contudo, marcado por um atropelamento intencional quando um motorista jogou seu carro contra manifestantes e deixou cinco feridos, um deles em estado grave. Os autores do crime são um casal de apoiadores de Netanyahu que, antes de avançar contra a multidão, acusou os manifestantes de serem “esquerdistas”, informa a agência noticiosa EFE.

O atropelamento “é resultado direto do incitamento vindo do Governo e da sua máquina midiática de veneno. (…) A polícia deve tratar os agressores com toda a severidade da lei”, assinalou o líder da oposição e ex-primeiro-ministro Yair Lapid. “Não seremos dissuadidos ou forçados a parar de protestar até que os reféns sejam devolvidos e este terrível Governo caia”, frisou.

Em alusão clara a sua negativa a atuar por um acordo de cessar-fogo com o Hamas, mediado pelo Egito e Qatar, Netanyahu insiste que Israel continuará, nas palavras dele, a “lutar até alcançar a vitória total” sobre o Hamas, e que o Estado que dirige manterá o “controle de segurança total” sobre Gaza assim que a guerra terminar, ou seja, diz que pretende ocupar Gaza com sua soldadesca assassina. 

O primeiro-ministro israelense era impopular antes do início da guerra, em 7 de outubro, com dezenas de milhares de pessoas a marchar quase semanalmente para exigir a sua demissão devido a múltiplos escândalos de corrupção e a um pacote de ataque ao sistema de defesa jurídica. Agora as ruas voltam a lotar.

MULHERES E CRIANÇAS SÃO ALVOS EM GAZA

A ministra palestina dos Assuntos da Mulher, Mona Al-Khalili, afirmou que as forças de ocupação israelenses visam deliberadamente mulheres e crianças em Gaza e na Cisjordânia.

Al-Khalili acrescentou num comunicado de imprensa, registrado no domingo (07) pela Agência Wafa, que as mulheres palestinas na Faixa de Gaza sofrem as condições mais perigosas e duras das últimas décadas, como resultado da deterioração de seu acesso a tratamento de saúde, nas suas possibilidades de sobrevivência, de deslocamento e da falta de abrigo, além da escassez de comida e água.

Ela destacou que 9.560 cidadãs foram mortas desde o início da agressão israelense à Faixa de Gaza, em 7 de outubro, de um número total de vítimas mortais de 33.175, segundo estatísticas divulgadas pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).

Al-Khalil indicou que existem atualmente cerca de 15.000 mulheres grávidas na Faixa de Gaza, 95% das quais não comem quantidades suficientes de alimentos, o que aumenta os riscos para a saúde da mãe e da criança a nascer.

A ministra acrescentou que há cerca de um milhão de mulheres deslocadas à força que enfrentam riscos exacerbados de proteção em centros de abrigo que carecem de necessidades básicas e de privacidade, no meio da dificuldade de funcionamento das redes de apoio familiar, acrescentando que há aproximadamente 37 mães mortas todos os dias, deixando para trás famílias devastadas e crianças deslocadas.

O comunicado salienta que 8.100 mulheres darão à luz no próximo mês na Faixa de Gaza, observando que as restrições à circulação ainda estão em vigor e o desmembramento das cidades continua, dificultando o acesso a serviços vitais de saúde e sociais, o movimento de ambulâncias e a prestação de ajuda humanitária.

Na Cisjordânia, Al-Khalili disse que as forças de ocupação deslocaram 1.620 famílias palestinas, incluindo 710 crianças, incluindo Jerusalém Oriental, devido à aceleração na demolição de casas palestinas.

Fonte: Papiro