Dina Boluarte com uma das peças de sua extravagante coleção ao pulso | Foto: Reprodução

Em meio à investigação por “enriquecimento ilícito”, o Ministério Público do Peru ordenou no domingo (31) que a presidenta Dina Boluarte apresente à Justiça na próxima sexta-feira (5) a coleção de relógios Rolex que costuma alegremente exibir. A posse dos valiosos relógios não aparece nas declarações de renda da mandatária.

Sem obter resposta de Dina, 40 agentes das forças de segurança e policiais da Divisão de Investigação de Delitos de Alta Complexidade (Diviac) forçaram a porta da sua casa em Lima e também entraram no Palácio de Governo.

Embora vasculhassem os locais, destacaram não terem sido achados os relógios luxuosos, embora tenham sido “obtidos outros elementos de interesse para a investigação”.

Foram descobertos oito relógios de menor valor, mas não os três Rolex modelo Datejust 36, que variam entre US$ 15,2 mil e US$ 22,5 mil (entre R$ 76,5 mil e R$ 113,2 mil), e o modelo Day-Date, de US$ 18 mil (R$ 90 mil), apontados numa reportagem do site “Encerrona”. A Justiça está de posse da coleção de relógios.

Após a intimação, a presidenta enviou nota solicitando que lhe fosse tomada uma declaração indagatória, “de imediato, a fim de esclarecer os fatos sob investigação o mais breve possível”. Nota divulgada pelo seu advogado Mateo Castañeda, disse que o faz diante da “turbulência política”, mas não confirmou se usará ou apresentará algum dos relógios Rolex.

De acordo com Dina, a atuação da Justiça “é arbitrária, desproporcional e abusiva”, que acaba “gerando instabilidade política, social e econômica”.

No sábado, 26 dos 130 parlamentares da bancada de esquerda, incluindo a do partido ao qual Boluarte pertencia (Peru Livre), apresentaram uma “moção de vacância” – equivalente a um pedido de impeachment. Mas para que a decisão seja efetivada deverá inicialmente ser aprovada por 50 parlamentares nesta semana, em que tem forte sustentação de setores conservadores e da extrema direita.

Boluarte era vice até que assumiu a presidência em 7 de dezembro de 2022, logo após o Congresso destituir o presidente Pedro Castillo por sua tentativa de dissolver o Congresso e governar por decreto. Castillo está preso.

O fiscal adjunto do Peru, Hernán Mendoza, denunciou que a mandatária é acusada por não ter explicado a procedência dos valiosos bens.

O advogado de Boluarte, Joseph Campos, faz malabarismos no empenho em sua defesa. “Não digo que seja porque não falo desses assuntos com a presidenta, mas o que acontece se isso for um presente de um fã apaixonado, de alguém?”, comentou. Para o advogado, e se o suposto “fã” não quer que se saiba que entregou o relógio, razão pela qual a investigada não tem colaborado com o Ministério Público. “Levantei uma hipótese, não sei se é verdade ou não, (se) vão dizer-lhe quem é o protagonista, esse homem perde a vida privada num momento. Então, você vai gerar uma série de situações que você acredita que podem investigar a vida pessoal das pessoas, daquele homem eventualmente. As pessoas podem ter espaços públicos e espaços não públicos e devemos compreender e respeitar isso”, respondeu.

Conforme o jornal “La República”, o fato é que o patrimônio de Boluarte triplicou entre 2021 e 2023, beneficiando-se na presidência com todo tipo de irregularidades e crimes, que vão desde o tráfico de influência até o financiamento ilícito de campanha. A sucessão de denúncias oposicionistas tem turbinado o chamado “Rolexgate”.

Fonte: Papiro