Senegaleses comemoram a libertação de Sonko (esq.) e Faye (dir.), novo presidente | Foto: AFP

“Já passou da hora da França tirar seu joelho do nosso pescoço e pôr fim a esta injusta opressão. Séculos de miserável tráfico humano, de colonização e neocolonização causaram sofrimento imensurável”, afirmou o novo presidente do Senegal, Bassirou Diomaye Faye, de 44 anos, que venceu as eleições duas semanas após sair da prisão.

“Chegou a hora de pôr fim a este ciclo de opressão”, assinalou Faye ao tomar posse nesta terça-feira (2), frisando que é “o momento de a França parar de impor líderes e fazer escolhas em nosso nome”. “Isso tem que ter fim e a juventude africana, as elites africanas e a diáspora africanas estão juntas dizendo não porque isso não pode mais continuar”, acrescentou.

O líder senegalês apontou que “a hipocrisia é evidente e está espalhada na vida diária” dos africanos, citando países como o Mali e o Chade, exemplos onde a França atua com toda a dissimulação e falsidade. 

“No Chade, onde o processo constitucional foi interrompido, a França aplaude e seu presidente o visitou para a cerimônia oficial de coroação. No Mali, onde o processo constitucional não foi interrompido, mas há um processo de transição, a França condenou. Esse é o duplo padrão que a França emprega ao lidar com a África”, denunciou.

Faye disse que “ao invés da intromissão da França, que seleciona seus candidatos e os adorna, depois informando quem serão os próximos na fila”, os países africanos querem ter a sua soberania respeitada. 

“Pessoalmente, nós não esperamos nada da França. Só desejamos que ela pare de interferir nos nossos assuntos, de forma que o povo do Senegal possa exercer sua liberdade de escolha”, frisou. No nosso país, enfatizou, “isso não vai mais ocorrer dessa forma”.

“Vamos ser claros. Nós não temos absolutamente nada contra o povo francês. Na França, tanto vozes de políticos como de cidadãos têm se levantado apresentando o mesmo discurso que estou trazendo a vocês”, declarou Faye, citando a ex-parlamentar Frédérique Dumas e Jean-Luc Mélenchon. “Enfaticamente, chamamos para que sejam ouvidas essas vozes que falam de nosso plano para uma parceria mais justa, colaborativa e sustentável entre a África e a França. É necessário que trabalhemos juntos rumo a um futuro equitativo, justo e ambientalmente consciente”, defendeu.

Na avaliação do novo presidente senegalês, se o governo francês ouvir, “teremos belos dias de colaboração”. “Caso não souber, achando que poderá continuar como nos tempos dos nossos avós, a França deve se preparar para um rompimento definitivo e se retirar completamente da África, pois a juventude africana não aceita mais isso”, explicou Faye. “A África pertence aos africanos, não pertence à China, não pertence aos Estados Unidos, nem a mais ninguém”, resumiu.

Poucas horas depois de empossado como novo presidente, Faye nomeou Ousmane Sonko – a quem substituiu após este ter sua candidatura barrada pelo governo -, como novo primeiro-ministro. 

Figura chave na sua eleição, Sonko, de 49 anos, é uma figura extremamente popular, e estava preso junto com ele pela repressão do regime de Macky Sall, que desde 2021 deixou um saldo de pelo menos 60 mortes e centenas de prisioneiros.

“Eu medi a importância da confiança que o presidente Faye depositou na minha pessoa”, agradeceu Sonko.

Vários chefes de estado e dirigentes africanos compareceram na cerimônia de posse realizada no Centro de Exposições na nova cidade de Diamniadio, próxima da capital, Dakar.

“O Senegal, sob a minha liderança, será um país de esperança, um país pacífico com justiça independente e uma democracia fortalecida”, assegurou Faye

Entre as prioridades está a renegociação soberana de contratos com transnacionais para a exploração de petróleo e gás – que deverão começar este ano -, bem como acordos de mineração e pesca.

O compromisso com a geração de emprego, num país onde 75% da população têm menos de 35 anos e a taxa de desemprego é oficialmente de 20%, é crucial. A situação de miserabilidade obriga cada vez mais jovens a enfrentarem uma viagem extremamente perigosa para a Europa, onde serão usados como mão de obra barata.

Fonte: Papiro