Isolado, EUA veta o reconhecimento da Palestina como Estado na ONU
Os EUA vetaram na quinta-feira (18), no Conselho de Segurança da ONU, a adesão plena da Palestina como Estado membro, que já obtivera 12 votos – mais do que os nove necessários para o encaminhamento à Assembleia Geral -, bloqueando assim o reconhecimento pleno do Estado palestino, que já é reconhecido individualmente por 137 de 193 nações.
Votaram sim Rússia, China, França, Japão, Coreia do Sul, Equador, Argélia, Malta, Eslovênia, Serra Leoa, Moçambique e Guiana. Abstiveram-se o Reino Unido e a Suíça.
Uma cena que passará para a história, com o isolado vice-embaixador Robert Wood proclamando o veto, carimbando a condição dos EUA de cúmplice com a ocupação e o apartheid perpetrados por Israel contra os palestinos – 76 anos desde a Nakba e 57 anos desde a usurpação das fronteiras de 1967.
Em suma, segundo Washington, Estado Palestino, só quando Benjamin Netanyahu e Itamar Bem-Gvir quiserem.
Em comunicado, o gabinete da presidência palestina desde Ramallah repudiou o veto “injusto, antiético e injustificável”, denunciando a política dos EUA como “uma agressão flagrante contra o direito internacional e um incentivo à prossecução da guerra genocida contra o nosso povo (…) o que empurra a região cada vez mais para a beira do abismo”.
A resolução de reconhecimento pleno da Palestina na ONU – onde desde 2012 é considerado país observador não membro por decisão da Assembleia Geral – foi apresentada na terça-feira pela Argélia, em nome dos países árabes, após o encaminhamento do pedido da Palestina ao Conselho de Segurança, por intermédio do secretário-geral Antonio Guterres.
Na abertura do debate dessa quinta-feira, ele advertira ao CS que “o fracasso em avançar em direção a uma solução de dois Estados só aumentará a volatilidade e o risco para centenas de milhões de pessoas em toda a região, que continuarão a viver sob a ameaça constante da violência.” Ele chamou a “apoiar os esforços de boa-fé para encontrar uma paz duradoura entre Israel e um Estado palestino totalmente independente, viável e soberano”.
As hipócritas alegações usadas como folha de parreira por Mr. Wood para ‘justificar’ o veto de Washington, já haviam sido previamente rebatidas pelo representante do presidente Abbas, o dirigente da Organização pela Libertação da Palestina (OLP), Ziad Abu Amr.
“Como o Estado de Israel foi estabelecido e reconhecido? Não foi através da Resolução 181 da ONU, apesar de Israel não ter cumprido as condições para a sua adesão à ONU descritas nas Resoluções 181 e 194?”, ele questionou.
Abu Amr, enfatizou, ainda que “uma resolução para conceder à Palestina a adesão plena constituiria um pilar significativo para alcançar a paz na região. O conflito palestino-israelense, com suas várias ramificações, se estendeu além das fronteiras da Palestina e de Israel, afetando outras áreas do Oriente Médio e do mundo em geral”.
Ele também destacou que tal resolução “daria aos palestinos esperança de uma vida digna dentro de um Estado independente, depois que essa esperança vinha desaparecendo nos últimos anos devido à rejeição aberta do governo israelense a essa solução, particularmente após a guerra devastadora em Gaza e sua reocupação por Israel”.
O Brasil se fez presente através do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, que defendeu a adesão plena da Palestina à ONU, assinalando que “chegou a hora de a comunidade internacional finalmente dar as boas-vindas à Palestina como o novo membro das Nações Unidas” e agir “para parar o sofrimento do povo palestino”.
Ele disse, ainda, que as novas gerações cobram que uma das principais promessas da ONU seja cumprida, a de poupar vidas de inocentes atingidos pela guerra. A tão esperada “solução de dois Estados requer que esses dois Estados sejam plenamente reconhecidos. É puro bom senso”, destacou.
Também a África do Sul, a campeã da vitória sobre o racismo e o apartheid, e que foi à Corte Internacional de Justiça da ONU contra o genocídio de Israel em Gaza, se pronunciou enfaticamente em favor do reconhecimento pleno da Palestina.
“A África do Sul acredita que o direito do povo palestino de ter seu próprio Estado totalmente independente deve ser reconhecido por todos e a aspiração de adesão à ONU deve ser apoiada”, disse a vice-embaixadora Marthinus Van Schalkwyk.
Em seu comunicado, a presidência palestina também denunciou o veto de Washington como um desafio à vontade da comunidade internacional.
A presidência palestina reiterou que “essa política agressiva dos EUA em relação à Palestina e aos seus direitos legítimos representa uma violação flagrante do direito internacional. Fomenta a campanha contínua de agressão de Israel contra o povo palestino em Gaza, na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental ocupada, e empurra a região à beira de um abismo.”
“Este veto agressivo dos EUA expõe as contradições da política americana, que afirma apoiar uma solução de dois Estados, ao mesmo tempo em que a obstrui repetidamente através do veto de resoluções no Conselho de Segurança contra a Palestina e os seus direitos legítimos”.
“Alcançar a paz, a segurança e a estabilidade na região e no mundo depende da implementação das resoluções de legitimidade internacional, do fim da ocupação israelense do Estado da Palestina e do reconhecimento dos direitos legítimos do povo palestino, incluindo seu direito à autodeterminação e ao estabelecimento de um Estado independente com Jerusalém Oriental como capital”.
“A Presidência palestina expressou gratidão aos Estados membros que votaram a favor da obtenção da adesão plena da Palestina às Nações Unidas, observando que esta votação internacional em apoio aos direitos do povo palestino demonstra a posição unificada do mundo em torno dos valores de justiça, liberdade e paz”.
Em seu voto, o embaixador russo, Vassily Nebenzia, manifestou-se a favor do reconhecimento em pleno direito da Palestina na ONU, assinalando que “a maioria absoluta da comunidade global” também a apoia.
Ao exercer seu veto, os EUA demonstraram “o que realmente pensam dos palestinos”, acrescentou Nebenzia. Washington acha que “eles não merecem ter seu próprio Estado”, e só percebe “o interesse de Israel”, disse ele.
Nebenzia disse que os EUA estão fechando os olhos para os “crimes de Israel” contra civis em Gaza, bem como a continuação da atividade de assentamentos ilegais na Cisjordânia ocupada.
“O objetivo é quebrar a vontade dos palestinos, forçá-los de uma vez por todas a se submeterem ao poder ocupante, transformá-los em servos e pessoas de segunda classe e, talvez, forçá-los de uma vez por todas a sair de seu território natal”, disse o embaixador russo. Política a cada dia mais fracassada, sublinhou.
“Impedir a Palestina de se tornar membro pleno da ONU é uma medida que “não é consistente com a responsabilidade legal e histórica” da comunidade internacional, que precisa ajudar todas as partes a alcançar uma “solução final e justa para a questão palestina”, afirmou o governo egípcio, após o veto da Casa Branca. O comunicado acrescentou que aprovar o pedido da Palestina de se tornar membro pleno da ONU é “um passo vital e um direito inerente do povo palestino”.
Em visita à Indonésia, o país de maior população muçulmana do mundo, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, reiterou que a China apoia a adesão plena da Palestina à ONU o mais rápido possível, pediu um cessar-fogo incondicional e duradouro em Gaza e propôs que uma conferência internacional de paz seja convocada para formular um cronograma e um roteiro para implementação da “solução de Dois Estados”.
Fonte: Papiro