Estudantes encaram repressão policial na Universidade de Columbia | Foto: Reprodução

“Vocês não vão nos intimidar, deixem Gaza viver, Palestina livre”: apesar da repressão policial e da conivência de reitorias, os protestos contra o genocídio em Gaza e pelo cessar-fogo imediato não param de se espalhar nas universidades dos EUA e, na quarta-feira (24) à noite, 93 estudantes foram presos na Universidade do Sul da Califórnia (USC), somando-se às centenas de prisões de estudantes e professores que já ocorreram desde a semana passada e que só fizeram ampliar o movimento. Em Berkeley, o acampamento contra o genocídio já entrou pelo quarto dia.

Estudantes da Universidade de Princeton acamparam exigindo que a universidade se posicione contra o massacre de palestinos.

Os protestos nas universidades norte-americanas – os maiores desde 1968 – já abrangem a Universidade Columbia, a Universidade de Nova York, o Barnard College e a New School, em Nova York; a Universidade de Yale, em Connecticut; o Massachussetts Institute of Technology (MIT) e o Emerson College; Berkeley, Stanford, USC, Cal Poly Humboldt e Pomona College, na Califórnia; a Universidade do Texas; Princeton, em New Jersey; a Universidade do Michigan; a Universidade de Maryland; a Universidade de Minesota; a Universidade Vanderbilt, no Tennessee; entre outras.

“Carol, Carol, você não pode esconder! Vocês estão apoiando o genocídio!”, gritaram manifestantes, em referência à presidente da USC, Carol Folt, que chamou a polícia de choque de Los Angeles para invadir o campus e o Alumni Park.

O protesto na USC é respaldado também pelos Estudantes pela Justiça na Palestina e Voz Judaica pela Paz. “Palestina livre, livre”, insistiram os manifestantes, acrescentando “tudo que queremos é a paz”.

Vários professores também se juntaram ao protesto na quarta-feira, segurando um cartaz que dizia: “Faculdade da USC contra o genocídio na Palestina”. “Isso é sobre o que está acontecendo em Gaza, mas também é sobre o que está acontecendo aqui”, disse a professora Amelia Jones, da Roski School of Art and Design. “Uma universidade deve ser um lugar de liberdade de expressão. Não ouvimos uma palavra da nossa presidente sobre nada.”

Segundo registrou o Los Angeles Times, um vídeo postado pela Annenberg Media um vídeo postado pela Annenberg Media “parecia mostrar um policial disparando uma bala de borracha em direção a uma multidão que estava fora do campus”. Uma mulher que estava sendo detida pelos policiais acabou liberada após a multidão insistir.

A perseguição aos estudantes e professores que denunciam o genocídio contra os palestinos e exigem um cessar fogo imediato e a entrada desimpedida de ajuda humanitária em Gaza é cometida sob a cínica – e degenerada – alegação que ser o genocídio dos palestinos equivaleria a “antissemitismo”.

A repressão ao movimento foi repudiada pelo Conselho de Relações Americano-Islâmicas (CAIR) de Los Angeles. “É profundamente preocupante que a resposta da USC aos estudantes que se manifestam pacificamente em solidariedade com a Palestina seja a supressão forçada da liberdade de expressão e reunião”, disse o diretor jurídico, Amr Shabaik. “Isso reflete uma tendência nacional de faculdades e universidades tentando censurar a defesa pró-Palestina nos campi.”

No Texas, o governador republicano Greg Abott lançou tropas estaduais a cavalo contra uma manifestação pelo cessar fogo e contra o genocídio em Gaza, na Universidade do Texas (UT), em Austin. Funcionários da universidade confirmaram à ABC News que pelo menos 20 estudantes foram presos.

O raivoso Abott ainda chamou a “expulsar” todos os estudantes “que se juntam a protestos antissemitas de cheios de ódio em qualquer faculdade ou universidade pública do Texas”. A repressão aos manifestantes foi condenada pelos professores da UT.

Na Universidade de Columbia, cuja invasão do campus e prisão de mais uma centena de estudantes, serviu de estopim para a onda de protestos nas universidades nos EUA, a reitoria, depois de ameaçar “chamar a Guarda Nacional”, prorrogou por “mais 48 horas” seu ultimato ao movimento antigenocídio.

Professores da UC denunciaram ao programa Democracy Now que a presidente da universidade, Minouche Shafik violou o estatuto da instituição, ao chamar a polícia para invadir o campus, já que pedido nesse sentido ao comitê executivo do Senado da universidade, em que os estudantes participam, fora rejeitado por unanimidade.

Na Universidade de Nova York, o Gould Plaza da Stern Business School foi murado com compensado, com viaturas policiais estacionadas do outro lado da rua. Até a entrada da biblioteca está sob guarda da polícia de Nova York.

Comportamento que explica porque o grito de “NYPD [sigla da polícia de NY], KKK, IDF (exército israelense), vocês são iguais” comece a se generalizar nos protestos.

Também algumas centenas de estudantes, mais alguns professores, protestaram em frente à residência multimilionária da presidente da NYU, Linda Mill. Ao portal World Socialist, uma professora da NYU disse que a razão mais importante pela qual estamos aqui “é para protestar contra o genocídio que está ocorrendo em Gaza. Mas também porque [a reitoria] chamou a tropa de choque para um protesto totalmente pacífico e prendeu mais de 120 alunos e professores”.

Ela lembrou que a religião judaica tem alguns milhares de ano, enquanto o sionismo é uma ideologia política que existe há menos de 200 anos. “Havia muitos estudantes judeus no protesto de segunda-feira. Houve um Seder de Pessach [ceia da Páscoa judaica]. A linguagem da segurança é completamente falsa. Se você quer manter seus alunos seguros, você não chama a polícia de choque”.

Na terça-feira, centenas de manifestantes foram presos no Brooklyn, em Nova York, ao realizarem uma “Páscoa Judaica [Seder de Pessach] para parar de armar Israel”, nas imediações da casa do senador democrata Chuck Schumer, o articulador do pacote de guerra de Biden de US$ 95 bilhões, e que inclui US$ 26 bilhões para Israel, que já havia sido aprovado na Câmara e foi nesse dia a votação no Senado.

“No centro da história da Páscoa está que não podemos ser livres até que todas as pessoas sejam livres”, disse Beth Miller, diretora política da Voz Judaica pela Paz, ao programa Democracy Now! “O governo israelense e o governo dos Estados Unidos estão realizando um genocídio de palestinos em Gaza, mais de 34.000 pessoas mortas em seis meses em nome da segurança judaica, falsamente em nome da liberdade judaica.”

No protesto, também falaram a jornalista e escritora Naomi Klein, a ativista palestina Linda Sarsour e vários estudantes judeus suspensos da Universidade de Columbia,

“Estamos aqui para dizer ao senador Schumer que basta e precisamos acabar com a cumplicidade dos EUA no genocídio de Israel contra os palestinos. E no centro da história da Páscoa está que não podemos ser livres até que todas as pessoas sejam livres”.

O que foi recebido aos brados de “Feliz Páscoa. Palestina livre. Deixe Gaza viver! Deixe Gaza viver!”.

Outra oradora, Eva Borgwardt, disse que “hoje, a maneira mais significativa de celebrarmos um feriado pela libertação judaica é nas ruas protestando contra esse genocídio, porque nossa libertação está ligada à libertação palestina. E, honestamente, estou mais emocionada do que estive em meses, vendo jovens judeus serem presos ao lado de idosos judeus, dizendo ‘Não em nosso nome’, como estamos há seis meses”.

Fonte: Papiro