Estudantes de 40 universidades dos EUA se levantam contra o genocídio de Israel em Gaza
Nos maiores protestos estudantis desde a Guerra do Vietnã, já são 40 a universidades dos EUA, em 22 estados, em que os estudantes exigem o fim do genocídio em Gaza acampamentos de solidariedade aos palestinos, apesar da invasão de campus por tropas de choque e da cumplicidade das reitorias.
Manifestações que têm contado com decisiva participação de judeus norte-americanos e apoio dos professores. Mais de 500 estudantes e professores foram presos em uma semana.
Na quinta-feira (26), mais universidades, melhor dizendo, seus estudantes e professores, juntaram suas vozes aos atos contra o genocídio e apartheid de Israel e a favor do cessar fogo, entrada desimpedida da ajuda humanitária em Gaza e paz na Terra Santa.
O levante dos estudantes norte-americanos contra o genocídio em Gaza é um fato ainda mais notável ao ocorrer exatamente quando o Congresso dos EUA, atendendo a Biden, acaba de aprovar mais US$ 26 bi para armar Israel, que já matou ou feriu 100 mil palestinos usando armas norte-americanas (além de conceder mais US$ 61 bi para a anexação da Ucrânia pela Otan e US$ 8 bi para incendiar o Pacífico), tornando evidente que, para a juventude norte-americana, sob Netanyahu e o apartheid Israel virou um Estado pária.
Como em 1968, quando o levante dos estudantes era contra a Guerra do Vietnã, o chamado ao protesto partiu da Universidade de Columbia, em Nova York, e não para de receber adesões. A reitoria chamou a polícia, que prendeu mais de 100 estudantes, o que se tornou o estopim para o movimento se espalhar como fogo em uma pradaria ressecada.
A truculência com que o establishment está tentando abafar essa recusa da juventude norte-americana a se calar diante do genocídio em Gaza, em última instância tem como impulsionador o próprio Biden, aliás, “Genocide Joe”, principal patrono e cúmplice de Netanyahu, ao acusar os legítimos protestos dos estudantes de “antissemitismo flagrante” e instruir a usar contra eles “toda a força do governo federal”.
Como observou o âncora da MSNBC Chris Hayes, “as prisões em massa dos manifestantes parecem estar tendo o efeito oposto ao pretendido”.
Para Sara Haghdoosti, diretora-executiva da organização pacifista Win Without War, “o uso da violência estatal contra manifestantes pacíficos é inaceitável”.
“Os cassetetes policiais usados contra estudantes que pedem paz em Gaza não são uma fonte de segurança no campus, nem são um baluarte contra o antissemitismo. Eles ferem as pessoas, ferem as liberdades fundamentais e servem a uma agenda de extrema direita que ameaça judeus, muçulmanos e o direito de protestar em todo o país.”
É isso que se vê em cenas de arbítrio campus após campus nos EUA, com as coisas chegando ao ponto de, na Universidade Estadual de Ohio, na repressão aos estudantes na terça-feira, atiradores de elite serem posicionados nos tetos dos prédios, como mostraram fotos tiradas no local – além do trivial, como gás lacrimogêneo e espancamentos com cassetetes.
Sequer professores – que têm comparecido em peso aos atos de solidariedade aos palestinos – são poupados. Como em Atlanta, na Emory University, onde na quinta-feira na invasão do campus pela polícia para reprimir o recém instalado acampamento de solidariedade à Palestina, a chefe do departamento de Filosofia, Noëlle McAfee, e a professora de Economia Caroline Fohlin foram agredidas, ao se manifestarem contra a violência contra os estudantes. Ali, mais de 30 estudantes foram presos. Os vídeos de McAfee e de Fohlin sendo derrubadas e presas viralizaram nas redes sociais.
Em Boston, o acampamento de solidariedade aos palestinos perto da Universidade Emerson, no Boylston Place Alley, foi desmantelado violentamente pela polícia na quinta-feira, com 108 manifestantes presos. Igual número dos presos na Universidade de Columbia na semana passada. Quatro pessoas precisaram ser hospitalizadas.
Apesar disso, os acampamentos de solidariedade aos palestinos seguem se multiplicando. Ainda na quinta-feira, estudantes da Universidade George Washington (GWU) criaram um acampamento de solidariedade a Gaza, com centenas participando. Anteriormente, a sessão local dos Estudantes pela Justiça na Palestina havia sido suspensa por projetar imagens em prédios, que pediam a libertação da Palestina e o fim da cumplicidade com o apartheid.
A GWU impôs um toque de recolher aos estudantes, que entrou em vigor às 19h30 locais de quinta-feira, mas o acampamento só aumentou de tamanho após a imposição.
Estudantes e professores da Universidade de Pittsburgh e da Universidade Carnegie Mellon, juntamente com muitos apoiadores de toda Pittsburgh, montaram um acampamento em apoio aos estudantes e professores da Universidade de Columbia e contra o genocídio de Israel em Gaza. Na Universidade de Georgetown, centenas de estudantes marcharam para protestar contra o genocídio em curso em Gaza.
Em Evanston, Illinois, a polícia tentou desmantelar um acampamento erguido por estudantes da Universidade Northwestern. O Daily Northwestern registrou que a polícia está “ficando fisicamente violenta com a faculdade”. Um docente foi visto gritando com a polícia: “você não vai tocar nos nossos alunos”.
Na Universidade Brown, em Providence, Rhode Island, estudantes montaram tendas, gritando: “De Columbia a Brown, não vamos decepcionar Gaza!”. Em novembro passado, o estudante palestino-americano da Universidade Brown Hisham Awartani foi baleado com dois de seus amigos enquanto visitava sua avó em Burlington, Vermont, para o Dia de Ação de Graças. Ele continua paralisado.
Em Yale, a mobilização continua, apesar de mais de 40 prisões na invasão do campus na segunda-feira. Os organizadores do protesto compararam essas prisões com as de 1986, quando os estudantes de Yale repudiavam o apartheid na África do Sul.
Em Manhattan, manifestantes invadiram o prédio do Instituto de Tecnologia da Moda da Universidade Estadual de Nova York e montaram um acampamento. Até a noite de quinta-feira, várias dezenas de estudantes permaneciam no saguão, enquanto outros protestavam do lado de fora.
Na Universidade de Nova York, os protestos continuam, apesar da invasão do campus pela polícia na terça-feira, com 120 prisões. A polícia tentou de novo desmantelar o Acampamento de Solidariedade a Gaza da NYU na sexta-feira, mas recuou diante da indignação de estudantes e professores que, de braços cruzados, cercaram e protegeram o local.
Ao programa Democracy Now, de Amy Goodman, estudantes e professores da Emory denunciaram que o campus foi transformado em uma zona de guerra, com a polícia usando balas de borracha, espancando manifestantes e usando armas de choque e gás lacrimogêneo.
O estudante de medicina Umaymah Mohammad denunciou os vínculos da Emory com o apartheid e a duplicidade de padrões, quando se trata da Palestina. Em outubro, ele relatou, “a Emory demitiu um médico palestino por postar uma postagem privada de mídia social em seu Facebook em apoio aos palestinos. E, no entanto, um dos professores de medicina que temos em Emory recentemente foi servir como médico voluntário na Força de Ofensa Israelense e recentemente voltou.
“Este homem participou na ajuda e cumplicidade num genocídio, na ajuda e cumplicidade na destruição do sistema de saúde em Gaza e no assassínio de mais de 400 profissionais de saúde, e está agora de volta a Emory ensinando estudantes de medicina e residentes a cuidar de pacientes. Quer dizer, a desconexão é, para mim, muito óbvia. E é muito frustrante que a Faculdade de Medicina e a grande comunidade Emory continuem a ignorar essas grandes desconexões.”
Outro vínculo é com o aparato repressivo israelense: “eles enviam a polícia de Atlanta, juntamente com pessoas como médicos e socorristas, para treinar com um exército que está ocupando ilegalmente terras na Palestina, para aprender melhor técnicas de vigilância, para aprender melhor táticas sobre como reprimir e reprimir manifestantes em Atlanta. E eles trazem de volta essas técnicas, que são altamente militarizadas e violentas, e as usam contra os alunos”.
Também ao Democracy Now a estudante Sarah King, da Columbia, que foi presa no acampamento inicial e depois suspensa e que é judia, contestou as alegações de “antissemitismo”, pespegadas pelos adeptos do apartheid e genocídio.
“O acampamento em si é muito bonito. Tem sido um verdadeiro lugar de celebração interreligiosa e solidariedade, em apoio ao povo de Gaza, que agora está sob mais de 200 dias de genocídio”, ela afirmou.
Quanto às acusações de que os protestos são antissemitas, King atestou: “a pior perseguição que os estudantes judeus no campus estão enfrentando é da Universidade de Columbia. Fomos desproporcionalmente banidos pela Columbia porque muitos de nós fazemos parte do Acampamento de Solidariedade de Gaza, tentando evitar um genocídio em nosso nome.”
Irene Khan, relatora especial das Nações Unidas para a promoção e proteção do direito à liberdade de opinião e expressão, disse na quinta-feira que os protestos que se espalham pelos EUA e internacionalmente são um sinal de que “a crise de Gaza está realmente se tornando uma crise global da liberdade de expressão”.
“O discurso legítimo deve ser protegido”, disse Khan na quinta-feira, “mas, infelizmente, há uma histeria que está tomando conta dos EUA”.
“Não devemos misturar [antissemitismo] com críticas a Israel como entidade política, como Estado”, acrescentou. “Criticar Israel é perfeitamente legítimo sob o direito internacional.”
O exemplo de solidariedade dos estudantes norte-americanos começa a contagiar outros jovens no mundo inteiro. Na quinta e sexta-feira a onda de protestos também se espalhou pela Europa. Em Paris, na Sorbonne e na Sciences Po, bem como na Universidade de La Sapienza, em Roma, centenas de estudantes se juntaram aos protestos para exigir o fim do genocídio em Gaza.
Fonte: Papiro