Defesa Civil em Gaza retira corpos de palestinos de vala comum no Hospital Nasser | Foto: AFP

Na quarta-feira (24), já chegavam a 310 os corpos retirados de três valas comuns, com as vítimas tendo sido “enterradas profundamente no solo e cobertas com lixo”, nas dependências do Hospital Nasser na Faixa de Gaza.

E, ainda mais grave, “foram encontrados corpos com as mãos amarradas nas costas e despidos”, e entre os mortos há “idosos, mulheres e feridos”, assinalou a porta-voz do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU, Ravina Shamdasani.

O Alto Comissário de DH Volker Türk, exigiu uma “investigação independente internacional” sobre as centenas de corpos encontrados junto ao hospital Nasser no final de semana, em Khan Younis, após a retirada das tropas israelenses, o que já vem sendo denunciado como nova e horrenda evidência do genocídio em curso em Gaza.

O relato de que havia corpos “com mãos e pés amarrados”, apontando para execuções sumárias, havia sido feito na segunda-feira, em entrevista à CNN, pelo diretor de Defesa Civil de Khan Younis, coronel Yamen Abu Suleiman.

Então, eram 283 os corpos retirados das valas. “Nós não sabemos se eles foram enterrados vivos ou executados”.

Investigações também foram pedidas pela Organização de Cooperação Islâmica, que reúne os 53 países de maioria muçulmana, e que denunciou “massacres horríveis”, com “centenas de deslocados, feridos, doentes e equipes médicas submetidos a tortura e abuso antes de serem executados e enterrados coletivamente”.

Depois dessas valas comuns encontradas em Khan Younis, também foram encontradas novas covas comuns junto ao hospital Al Shifa, na Cidade de Gaza, que esteve por duas semanas sob ocupação israelense no final de março, e foi praticamente destruído.

Porta-vozes do regime colonialista israelense tentaram se safar dessa montanha de cadáveres, insinuando que teria sido feita pelos próprios palestinos em cemitérios improvisados, durante os cercos a que os hospitais foram submetidos.

Alegação que não bate com o fato de que no Hospital Nasser foram encontrados corpos “com as mãos amarradas”, o que evidentemente não foi feito por palestinos. Nem que os cadáveres estivessem “enterrados profundamente no solo e cobertos com lixo”, já que só as tropas israelenses é que estão usando escavadeiras pesadas em seu assalto a Gaza.

Türk disse em um comunicado que estava “horrorizado” com a descoberta de valas comuns nos hospitais Nasser e Al Shifa, que as tropas israelenses reduziram a ruínas.

O chefe de Direitos Humanos da ONU exigiu uma investigação “independente, eficaz e transparente” sobre os assassinatos e valas comuns, acrescentando que “dado o clima prevalecente de impunidade, isso deveria incluir investigadores internacionais”.

“Os hospitais têm direito a uma proteção muito especial ao abrigo do Direito Internacional Humanitário”, acrescentou. “E o assassinato intencional de civis, detidos e outros que são hors de combat é um crime de guerra”, ele acrescentou.

“As últimas imagens de uma criança prematura tiradas do útero de sua mãe moribunda, das duas casas adjacentes onde 15 crianças e cinco mulheres foram mortas, isso está além da guerra”, indignou-se Türk.

“A cada 10 minutos uma criança é morta ou ferida. Eles são protegidos pelas leis da guerra e, no entanto, são aqueles que estão pagando desproporcionalmente o preço final nesta guerra.”

EVIDÊNCIA GRITANTE DE GENOCÍDIO

Zaina Haroun, representante do grupo de direitos palestinos Al-Haq, com sede na Cisjordânia, disse à Al Jazeera que a terrível descoberta é “uma evidência gritante de crimes de guerra e, claro, do genocídio que está sendo perpetrado contra o povo palestino em Gaza por Israel”.

Referindo-se à descoberta de valas comuns semelhantes há várias semanas no hospital Shifa, na Cidade de Gaza, ela continuou: “Um membro da família estava desesperado para encontrar apenas um vestígio de seu tio; ele disse que encontrou suas sandálias, mas mesmo que pudesse encontrar uma parte do corpo, um braço ou uma perna, que eles pudessem pelo menos pegar isso e enterrá-lo para que pudessem dormir à noite.”

Segundo relato do repórter da Al Jazeera, Hani Mahmoud, os corpos encontrados nas valas comuns do hospital Nasser incluem crianças, jovens e idosas. Equipes de resgate palestinas continuam trabalhando no local, acreditando que ainda há “um número significativo” de mártires, segundo a emissora árabe.

“Depois das valas comuns no hospital Al Shifa, parece que Israel é uma máquina de morte voraz que transforma hospitais em Gaza em cemitérios. Acorde mundo!”, exortou a veterana dirigente da executiva da Organização pela Libertação da Palestina (OLP), Hanan Ashrawi.

COLAPSO MORAL

Ao programa Young Turks, o médico norueguês Mads Gilbert, que trabalhou no hospital Al Shifa, chamou o massacre de “colapso moral”.

Ele repudiou os massacres impiedosos de civis desarmados nos hospitais, lembrando que esses são “lugares de santuário para proteger a vida, e para dar às pessoas abrigo quando estão feridas ou doentes”. O exército de ocupação israelenses, ele acrescentou, usa esses lugares para cometer “os mais horríveis e sádicos massacres da população palestina”.

No sábado, a Câmara dos Deputados dos EUA aprovou um sinal verde para mais massacres e impunidade israelense. Como denunciou a Campanha dos EUA pelos Direitos Palestinos, as valas comuns desses dois hospitais “são evidências óbvias de genocídio e dos crimes de guerra mais impensáveis”.

E, no entanto, acrescenta, “a Câmara acaba de assinar US$ 26 bilhões em armas para alimentar o exército genocida israelense, enquanto Israel ameaça uma invasão terrestre em grande escala para massacrar palestinos em Rafah”.

A pedido da África do Sul, Israel está sendo investigado por “genocídio plausível” e “intenção genocida” contra o povo palestino de Gaza. Em seis meses, as tropas coloniais israelenses já mataram ou feriram 100 mil pessoas, a maioria mulheres e crianças; destruíram 60% das casas, além de escolas, abrigos, padarias e mesquitas; expulsaram 90% da população para o sul; bloquearam comida, água, remédios e combustível – punição coletiva, proibida pela lei internacional; chamaram os palestinos de “animais humanos” – enquanto o regime supremacista fanático de Netanyahu não esconde que sua meta é cometer a limpeza étnica, seja pela fome ou pelas bombas, para manter o apartheid e negar aos palestinos seu direito ao próprio Estado nacional.

Fonte: Papiro