Jill Stein, candidata a presidente pelo Partido Verde | Foto: AFP

A candidata à Presidência dos EUA do Partido Verde, Jill Stein, foi presa no sábado (27) na Universidade de Washington, em St. Louis, quando prestava solidariedade ao acampamento no campus em repúdio ao genocídio em Gaza perpetrado por Israel e à cumplicidade dos EUA, quando a polícia reprimiu o protesto dos estudantes.

Stein, que é judia e médica formada em Harvard, foi candidata em 2016, quando obteve quase 1,5 milhão de votos (1,07%) e nas atuais pesquisas, para novembro, está registrando 4%.

Em um vídeo gravado antes de sua prisão e postado no X, a candidata do Partido Verde disse apoiar os estudantes e seus direitos constitucionais de liberdade de expressão. “Vamos ficar aqui com os estudantes que estão defendendo a democracia, os direitos humanos e o fim do genocídio”, disse Stein.

Em recente entrevista ao jornal israelense Haaretz, Stein dissera que, como judia, foi ensinada “que o genocídio jamais deveria voltar a acontecer”.  

David Schwab, diretor de comunicações da “Jill Stein for President”, disse que a candidata tentou mediar a situação entre os manifestantes e a polícia na tarde de sábado, mas esta começou imediatamente a prender manifestantes. Dois dirigentes da campanha de Stein também foram presos ali.

“Como disse a Dra. Stein, é vergonhoso que as administrações universitárias estejam tolerando o uso da força contra seus próprios alunos que estão simplesmente pedindo paz, direitos humanos e o fim de um genocídio que o povo americano abomina”, denunciou Schwab.

As manifestações nas universidades norte-americanas contra o genocídio em Gaza já são os maiores protestos estudantis desde o levante da juventude contra a Guerra do Vietnã, em 1968/1972.

Abarcam as principais universidades dos EUA, como Columbia, Yale, Princeton, Harvard, Stanford, Texas, Brown, Emory e muitas outras, em 22 estados, e a política do governo Biden de atiçar a repressão sob o pretexto de que ser contra o genocídio é “antissemitismo” e “inaceitável”, só faz o movimento se espraiar.

Além de Biden (democratas) e Trump (republicanos), concorrem à presidência candidatos de pequenos partidos de oposição, como os Verdes, de que Stein é candidata e, ainda, o intelectual negro Cornel West e o advogado Robert Kennedy Jr, filho do irmão e ministro de JFK, ambos assassinados em atentados entre 1963 e 1968.

Em recente entrevista ao jornal israelense Haaretz, Stein disse que, como judia, foi ensinada “que o genocídio jamais deveria voltar a acontecer”.  

Ela acrescentou que se tornou “intolerável” para ela a inação em relação ao genocídio, acrescentando que tem usado seu tempo e energia para “tentar parar” o morticínio.

“Sendo mãe e sendo judia, essa questão se tornou realmente importante. Sendo médica, eu não preciso esperar para ver”, ela sublinhou.

Stein nasceu em Chicago e seus avós eram “refugiados de pogroms”, exatamente após o Holocausto. “Eu fui realmente ensinada intensamente pela minha família que o genocídio nunca mais deveria ocorrer de novo, para ninguém. Eu cresci em uma comunidade que para mim representou o melhor dos valores judaicos, incluindo o sentido de não se omitir quando algo terrível está acontecendo”.

Vinda de um tour de campanha de três semanas por 21 cidades, ela destacou que a coisa que realmente está trazendo gente de todo o espectro político “é a questão de Gaza e a matança de crianças em particular”.

Para Stein, é “catastrófica” a política externa dos EUA. “Tem sido assim desde a Guerra do Vietnã, mas especialmente desde o 11 de Setembro. Gaza, de muitas formas, é a mais recente expressão disso”.

Ela classificou o envolvimento do governo Biden “intolerável”, dizendo-se indignada com o governo Netanyahu e com o governo dos EUA, “que permite isso”.

A candidata lembrou que a lei que cortou o financiamento da ajuda humanitária através da agência de refugiados da ONU e proveu outros US$ 3,8 bilhões em ajuda militar a Israel foi aprovada com o voto em bloco dos democratas e de metade dos republicanos. “Isso é essencialmente um crime de guerra. Cada um deles [deputados] basicamente assinou uma confissão de cumplicidade”.

Stein acrescentou que conforme a América “se torna cônscia de que este sangue está em nossas mãos, não somos simplesmente cúmplices, somos parceiros integrais deste genocídio”.

“Neste momento, ‘Israel’ e ‘apartheid’ se tornaram sinônimos, e isto é insustentável para o futuro dos judeus que vivem lá. Os judeus merecem um futuro de paz e segurança, bem como os palestinos e muçulmanos naquela terra”, apontou Stein.

“Judeus são um povo traumatizado, e os palestinos, também. Os adultos na sala responsáveis precisam assumir e tomar a direção da democracia em suas mãos e exigir uma solução pacífica”.

Ela abordou, ainda, a questão do ‘antissionismo’ e ‘antissemitismo’. “Há um grande movimento agora neste país [os EUA]. Estamos vendo o levante da juventude, que é muito antissionista, e nas nossas mentes sionismo se tornou equivalente com ocupação e apartheid. Em minha opinião, considerar o ativismo antigenocídio como antissemitismo é inerentemente antissemita, por implicar que os judeus estão ok com o genocídio”.

Fonte: Papiro