Campanha contra a Carestia é retomada em São Paulo em defesa de alimentos baratos
Campanha contra a Carestia foi retomada durante a pandemia de covid em protesto contra altos preços da cesta básica em momento de desemprego e queda na renda
No próximo dia 24 de abril, quarta-feira, às 15 horas, o salão Tiradentes (8º andar) da Câmara Municipal de São Paulo será palco de um importante debate promovido pela “Campanha Contra a Carestia”. O evento contará com a presença dos economistas Antônio Correia Lacerda (Unicamp) e Antônio José Correia do Prado (PUC-SP), que discutirão questões relacionadas à alta inaceitável nos preços dos alimentos, afetando a vida e a renda dos trabalhadores.
Em entrevista, Antonio Pedro de Souza, mais conhecido como Tonhão e diretor da Federação das Associações Comunitárias do Estado de São Paulo (Facesp), e Lídia Correia, diretora da Federação de Mulheres Paulistas (FMP), apontaram o evento como uma retomada da campanha ocorrida no período da pandemia, quando os preços explodiram, enquanto o emprego e a renda caíram drasticamente. Naquele período, o movimento exerceu importante pressão para um controle maior dos preços dos alimentos e avanços na assistência às famílias atingidas.
Diante do cenário de aumento dos preços dos alimentos básicos, que impacta diretamente a população e a economia como um todo, a “Campanha Contra a Carestia” busca trazer à tona essa preocupação, compartilhada inclusive pelo presidente Lula, que em reunião realizada no mês passado com diversos ministros levantou essa questão.
A população e a sociedade são os principais interessados em encontrar soluções para a escalada dos preços, que vem prejudicando o poder de compra e a qualidade de vida dos cidadãos. Nesse sentido, a campanha propõe um debate aberto e construtivo, buscando alinhar políticas que promovam mais emprego, aumento de renda, crescimento econômico e redução nos preços em geral.
Diversas entidades estão envolvidas na organização do debate, incluindo a Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (FACESP), a União de Negros pela Igualdade (UNEGRO), a União Brasileira de Mulheres (UBM), a Federação de Mulheres Paulistas (FMP), o Fórum em Defesa da Vida, sindicatos e outras organizações da sociedade civil.
O evento promete ser uma oportunidade para a troca de ideias e propostas entre especialistas, representantes da sociedade civil e autoridades, visando encontrar caminhos para enfrentar o desafio da carestia.
Estoques reguladores, juros abusivos e mobilização
Tonhão discutiu os planos e objetivos do movimento contra a carestia que está ganhando força no Brasil. Ele destacou a importância de retomar as iniciativas ocorridas durante o período do governo Bolsonaro e fortalecer o diálogo com o governo e a sociedade civil.
Para Lídia, a campanha iniciada em 2021 e impulsionada em 2022, ganhou destaque durante a campanha presidencial, sendo uma preocupação central do presidente Lula. Ela destacou que, apesar de uma breve pausa, a luta contra a carestia é contínua, pois impacta não apenas o presente, mas também o futuro.
O líder comunitário compartilhou os esforços do movimento para promover iniciativas piloto nos bairros, visando engajar a comunidade e ampliar o alcance do movimento. A comunidade local terá voz ativa a partir da composição diversificada da mesa de discussão. “A ideia é incluir sindicalistas, alguém da classe trabalhadora e lideranças comunitárias da periferia que vivem o problema da inflação no dia-a-dia, para além do debate acadêmico dos economistas que apontam as soluções coletivas possíveis para o problema”, concluiu o líder comunitário.
Além disso, Tonhão ressaltou a importância de fortalecer a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) para garantir um controle efetivo dos preços dos alimentos e evitar oscilações excessivas no mercado.
“A ideia da Conab, que é uma companhia nacional de abastecimento, seria ajudar no controle dos preços, ser uma espécie de fiel da balança, quando os preços estiverem muito altos. Despejar produtos no mercado para regular os preços, como o Banco Central faz para controlar o câmbio do dólar. Tinha que estruturar a Conab para que ela pudesse cumprir esse papel”, explicou Tonhão.
Lídia também ressaltou que medidas urgentes precisam ser tomadas para controlar os preços, especialmente no que diz respeito aos estoques reguladores. “Porque os preços estão altos, vai tudo para exportação”, afirmou a dirigente.
Ela também mencionou a importância de discutir a questão dos juros abusivos, que afetam toda a economia brasileira. “Eu não sei como ninguém foi lá ainda pedir a cabeça dele [do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto]”, criticou. “O Brasil está estrangulado com décadas de juros altos”, afirmou.
Ela enfatizou a necessidade de compreender a situação para poder reivindicar medidas eficazes. “Como a sociedade pode lidar para reduzir os preços? Todo mundo tem ataque quando se fala em controle de preço. É preciso ter o mínimo de controle de preço nos produtos básicos”, expressou Lídia.
Ela destacou a importância de ter um controle de preços que não seja necessariamente um congelamento, mas sim uma regulação que garanta que parte da produção permaneça no Brasil. A dirigente de mulheres questionou o motivo pelo qual há um grande estímulo para exportação, enquanto os preços internos permanecem elevados.
Sobre os próximos passos da campanha, a ideia é aprofundar as questões e elaborar um documento com propostas concretas para reduzir os custos dos produtos básicos. O objetivo é envolver diversas entidades e apresentar as demandas diretamente às autoridades responsáveis. Ela destacou a urgência de agir antes do 1º de maio para que um documento formal seja elaborado e ampliado, alcançando diversas entidades e autoridades.
“A ideia é levar esse documento, se o Lula vier, no 1º de maio. Se ele não vier, a gente também vai fazer chegar nele”, explicou Lídia, enfatizando a importância de fazer pressão para que o tema seja priorizado.
Tonhão destacou a necessidade de reuniões com ministros e autoridades relacionadas ao desenvolvimento agrário e à agricultura, como o ministro Paulo Teixeira, ressaltando a importância de pressionar por medidas que beneficiem a população.
Esta semana o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) celebrou os 40 anos do movimento com atos por todo o país para defender a reforma agrária para alimentar o Brasil. “A maior parte da comida do povo vem da agricultura familiar e das cooperativas. É uma das saídas, inclusive, para você baratear a vida”, afirmou Tonhão, ressaltando a importância da diversificação na produção agrícola para garantir a segurança alimentar e reduzir os preços dos alimentos.
(por Cezar Xavier)