O projeto deve ainda à votação no Senado, que há dois meses aprovou outro semelhante | Foto: Olivier Douliery/AFP

Depois de meses de idas e vindas, a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou no sábado (20) um pacote que atende aos reclamos do presidente Joe Biden de que é inadiável entupir de armas e dinheiro o genocídio em Gaza, a expansão da Otan para leste e a provocação contra a milenar China em Taiwan.

Para Israel, serão US$ 26 bilhões. Com 100 mil palestinos mortos e feridos em Gaza e 80% das casas destruídas pela armas fornecidas pelos EUA a Israel, Washington emplaca um pacote que é seis vezes a “mesada” anual do Pentágono para o regime israelense – em suma, uma premiação ao genocídio e uma confissão de cumplicidade.

Para o regime neonazi de Kiev, serão US$ 61 bi, para a luta “até o último ucraniano” contra os russos, a soldo da Otan, quando bastava manter a neutralidade e desistir de perseguir o Donbass e os falantes de russo, para não estar no beco sem saída em que se encontram, como quase se fechou no acordo em Istambul.

Para a provocação contra a China em Taiwan, violando o compromisso do reconhecimento feito décadas atrás de “Uma só China”, serão US$ 8 bilhões.

O pacote de sangue e dólares deverá ser aprovado sem maior dificuldade no Senado, onde há dois meses projeto análogo já passara.

Para a aprovação, o presidente da Câmara, o republicano Mike Johnson, fez uma manobra junto com a liderança republicana, para driblar a oposição de parte dos republicanos à extensão de mais dinheiro dos contribuintes para as guerras de Biden, com a votação em separado para Israel, Ucrânia, Taiwan e outras provocações. A votação que possibilitou a manobra foi por 311 (sendo 165 democratas mais 155 republicanos) a 112.

Os US$ 26 bilhões para o genocídio que Israel perpetra em Gaza foram aprovados por 366 votos a 58, com apenas 21 republicanos e 37 democratas em oposição.

Os US$ 61 bilhões para tentar esticar a guerra na Ucrânia foram aprovados por 311 a 112 (os que votaram contra eram todos republicanos).

Para a investida de Washington numa ‘Otan do Pacífico’, a chamada opção IndoPacífico, e na provocação contra a China no Mar do Sul da China e em Taiwan, foram aprovados US$ 8 bilhões, por 385 votos a 34.

O último projeto a ser votado, a “Lei da Paz do Século 21 através da Força”, passou por 360 votos a 58. A lei permite que a Casa Branca decrete novas sanções contra a Rússia e o Irã, além de banir a plataforma de compartilhamento de vídeos de propriedade chinesa TikTok, a menos que sua empresa-mãe, a ByteDance, aceite vender para Wall Street. O projeto de lei também autoriza a transferência de ativos russos congelados para Kiev, ilegalmente confiscados pelos EUA.

Zelensky, cujo mandato se encerra no dia 21 de maio, prontamente agradeceu a Biden pelo pacote, que ninguém acredita que mudará o desfecho dos combates no Donbass nem a sorte da Ucrânia, mas chega em boa hora, para adquirir alguma mansão a bom preço na Riviera ou na Costa azul espanhola.

As mariposas da mídia conseguiram a façanha de classificar o pacote de aposta numa conflagração mundial como uma “assistência de segurança”.

As palavras mais duras de condenação ao pacote belicista vieram, por incrível que possa parecer, de deputados republicanos.

A deputada Marjorie Taylor Greene chamou o presidente republicano da Câmara “traidor” que permitiu que o Congresso enviasse “dólares de impostos suados dos americanos para alimentar uma guerra externa”.

Greene chegou a propor um projeto alternativo que reduzia a zero o dinheiro para a guerra na Ucrânia, que não passou, só obtendo 71 votos.

O deputado Thomas Massie, que votou contra os quatro projetos, disse que Johnson se vendeu ao “pântano”, acrescentando que o presidente da Câmara “deveria renunciar” antes de concordar em “enviar US$ 100 bilhões para guerras no mundo inteiro”.

Na votação do dinheiro para o genocídio em Gaza, quase 20 deputados democratas se manifestaram contra a entrega de “armas ofensivas” a Netanyahu. “O mundo está assistindo. Hoje é, em muitos aspectos, a primeira votação oficial do Congresso em que podemos pesar sobre os rumos dessa guerra. Se o Congresso votar para continuar a fornecer ajuda militar ofensiva, nós nos tornamos cúmplices dessa tragédia.”

“A maioria dos americanos não quer que nosso governo escreva um cheque em branco para promover a guerra do primeiro-ministro Netanyahu em Gaza”, eles sublinharam, acrescentando que os EUA “precisam ajudar Israel a encontrar um caminho para conquistar a paz.”

Também a veterana democrata Bárbara Lee criticou o projeto para Israel por não restaurar o financiamento da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina. “Esta é uma grave abdicação das obrigações humanitárias dos EUA”.

Fonte: Papiro