Bombas norte-americanas são atiradas diariamente por Israel contra a população de Gaza | Foto: Médicos Sem Fronteiras

O principal cúmplice de Israel no genocídio em Gaza, o governo Biden, autorizou o envio a Netanyahu de mais 1800 bombas de 1 tonelada e 25 F-35 na semana passada, segundo o Washington Post, enquanto o total de palestinos mortos pelas bombas despejadas por Israel sobre casas, prédios, escolas e abrigos de Gaza se aproxima dos 33.000, a grande maioria crianças e mulheres, mais 73.000 feridos, e a ONU adverte sobre uma fome catastrófica no enclave palestino invadido.

Revelação que levou um senador da base de Biden, Chris Van Hollen, a cobrar da Casa Branca, numa rara crítica, que usasse efetivamente seu peso junto a Israel para receber compromissos básicos “antes de dar luz verde a mais bombas para Gaza”. “Nós precisamos compatibilizar o que nós dizemos com o que nós fazemos”.

Ainda segundo o Washington Post, Biden não ignora que “Israel estava bombardeando regularmente edifícios sem inteligência sólida de que eles eram alvos militares legítimos”.

Aliás, em muitas manifestações nos EUA, Biden é tachado de Genocide Joe.

Para analistas, a investigação em curso na Corte Internacional de Justiça da ONU sobre o genocídio perpetrado pelo regime de Tel Aviv acabará, forçosamente, levando a analisar a questão da cumplicidade de outros países nesse horrendo massacre de civis.

De acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo, na década entre 2013 e 2022, Israel recebeu 68% de suas armas dos EUA e 28% da Alemanha.

Como registrado na mídia internacional, desde outubro, quando da ‘ofensiva do Tet’ do Hamas, de 7 de outubro, os EUA forneceram 100.000 toneladas de bombas e mísseis, em mais de 100 voos, inclusive bombas de 1 tonelada MK84, cujo uso em uma das áreas mais densamente povoadas do planeta, só pode ser visto como evidência de crime de guerra.

Como admitiu recentemente um alto escalão militar israelense, sem as armas norte-americanas, sem as bombas e mísseis norte-americanos, Israel não teria como lutar “um dia que fosse”.

“É um número extraordinário de vendas ao longo de um curto período de tempo”, disse um ex-alto funcionário do governo Biden ao Washington Post, Jeremy Konyndyk. Ele igualmente chegou à conclusão óbvia de que a “campanha israelense não seria sustentável sem esse nível de apoio dos EUA”.

Registre-se que, por décadas, o apoio militar dos EUA a Israel foi o mais alto em qualquer lugar do mundo. O que aumentou exponencialmente a partir de 2016, durante o governo Obama, chegando a US$ 3,8 bilhões por ano.

ÁLIBI ESFARRAPADO

Na semana passada, no que parece uma manobra preventiva contra acusação de cumplicidade no genocídio que está sob investigação, o governo Biden aceitou garantias, dadas por Israel, de que usa as armas norte-americanas “de acordo com a lei internacional”.

Para quem matou em cinco meses mais do que todas as guerras que o secretário-geral da ONU Guterres presenciou desde que está no cargo – 5% da população de Gaza está morta, ferida ou desaparecida sob os escombros – jurar estar atuando “sob a lei internacional” é, como comentou o portal Common Dreams, “uma piada doentia”. Melhor dizendo, um deboche.

Quanto à Alemanha, sob o pretexto de se redimir de seu horrendo passado nazista, segue fornecendo armas para o genocídio e inclusive entrou na Corte Internacional de Justiça ao lado do regime israelense, que repete contra os palestinos a barbárie que o mundo repudiou.

O editor do Palestine Chronicle, Ramzi Baroud, denunciou também a hipocrisia de alguns países, como o Canadá e a Itália, que anunciaram a suspensão de exportação de armas para Israel – para, em seguida, disserem que iriam respeitar “os contratos existentes”.

“Para que o genocídio israelense em Gaza termine, aqueles que continuam a sustentar o banho de sangue em curso também devem ser responsabilizados”, assinalou Baroud.

Em vários países, multiplicam-se os protestos contra o envio de armas para o genocídio em Gaza, como aconteceu no Reino Unido, Holanda, Itália e Austrália, inclusive bloqueando o acesso a fábricas de armamentos comprometidas com a continuação do massacre ou o embarque em portos.

“COMPARTILHAMENTO DE ALVOS”

Outro aspecto da cumplicidade de Washington com o genocídio perpetrado por Israel em Gaza consiste na entrega recorde de informações dos serviços secretos dos EUA, usadas nos pogroms de Netanyahu contra a população palestina.

Esse “compartilhamento” – conforme o jargão da CIA/Pentágono – aprofunda a cumplicidade em Gaza, como admitiu o Wall Street Journal, que considerou a cooperação em um nível “sem precedentes”.

O álibi alegado por essas fontes foi que Washington não compartilha inteligência “especificamente destinada a operações de ataque terrestre ou aéreo” – e o lado israelense assevera diuturnamente que “cumprir com a lei internacional” é com eles mesmos.

De acordo com fontes anônimas citadas pelo WSJ, a existência de um memorando confidencial que oficializou essa “cooperação” agora levanta preocupações de que os EUA possam ser apontados como cúmplices no genocídio, devido à “falta de controle” sobre se informações fornecidas pelos EUA vêm sendo usadas em ataques contra civis.

Em entrevista ao jornal, o deputado democrata Jason Crow, membro do Comitê de Inteligência da Câmara, pediu que o compartilhamento de inteligência seja “consistente com nossos valores e nossos interesses de segurança nacional”, advertindo que o que os EUA estavam compartilhando agora não era propriamente “promover nossos interesses”.

Crow afirmou que conversou separadamente com uma importante figura militar israelense e com pessoal de inteligência dos EUA e encontrou “algumas inconsistências muito grandes” nas alegações dos dois lados sobre as vítimas civis.

Autoridades dos EUA disseram ao WSJ que compartilham “apenas inteligência bruta”, como vídeos ao vivo de drones sobrevoando Gaza. Mas, de acordo com a diretora da Human Rights Watch em Washington, Sarah Yager, o compartilhamento tem poucas restrições e “essencialmente abre todo o cofre [de alvos] dos EUA”.

Fonte: Papiro