Ataque do Irã a Israel muda o cenário do conflito no Oriente Médio
Outdoor representando mísseis balísticos iranianos, com um texto em persa que diz que ‘Israel é mais fraco que uma teia de aranha’, na Praça Valiasr, no centro de Teerã, nesta segunda-feira.
O recente ataque do Irã a Israel, considerado inédito pela comunidade internacional, está alterando significativamente o cenário geopolítico do Oriente Médio. O gabinete de guerra do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, estava agendado para se reunir na tarde desta segunda-feira, com a tarefa de decidir sobre a resposta do país ao ataque de mísseis e drones do Irã no fim de semana. Esse ataque levou a um aumento significativo da tensão entre as duas nações e gerou preocupações sobre a possibilidade de uma guerra aberta.
Em entrevista, Ana Prestes, secretária de Relações Internacionais do PCdoB, analisou o impacto desse evento que marca não apenas a primeira investida direta do Irã contra território israelense, mas também o maior ataque de drone já registrado na história.
“A mudança desse cenário é evidente a partir do 7 de outubro. Israel já estava relativamente mais isolado, mas conseguiu reagrupar apoio ocidental com os Estados Unidos, França, se alinhando novamente ao lado de Netanyahu”, destaca a dirigente do PCdoB.
O ataque iraniano não apenas demonstrou a capacidade de ataque e retaliação do país persa, mas também redefiniu as alianças na região. Israel, que anteriormente parecia isolado, conseguiu mobilizar apoio, especialmente de aliados como Jordânia e Arábia Saudita.
Embora o ataque do Irã tenha causado apenas danos modestos a Israel, o incidente provocou uma reação global. Líderes mundiais expressaram preocupação e apelaram à contenção, ao mesmo tempo em que se comprometeram a considerar medidas para dissuadir e condenar as ações do Irã.
“A materialidade desse ataque amplia o conflito para a região do Oriente Médio e reposiciona os aliados de Israel mais uma vez ao lado de Netanyahu”, ressalta Ana. Além disso, o ataque evidencia quem está do lado do Irã, incluindo países como Síria, Iraque, Líbano, em contraste com Jordânia, Arábia Saudita e Emirados Árabes, que mantêm uma aliança mais estreita com os Estados Unidos e Israel.
Apelo à moderação
Com os aliados europeus de Israel instando-o à moderação, o presidente dos EUA, Joe Biden, assegurou a Netanyahu que os Estados Unidos não participariam de qualquer contra-ofensiva israelense contra o Irã. O apelo à contenção foi ecoado pela Grã-Bretanha, França, Alemanha, União Europeia e Nações Unidas.
O Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, alertou sobre a gravidade da situação, afirmando que é necessário afastar-se do precipício e buscar medidas para conter a escalada.
Há receios crescentes de que o ataque iraniano a Israel possa desencadear uma guerra total, especialmente após meses de tensões crescentes entre Israel e os aliados regionais do Irã, exacerbadas pela guerra em Gaza.
O Irã lançou o ataque em resposta a um bombardeio aéreo israelense ao complexo de sua embaixada na Síria, que resultou na morte de sete oficiais da Guarda Revolucionária Iraniana. Esse evento seguiu-se a meses de confrontos entre Israel e grupos alinhados com o Irã em várias frentes no Oriente Médio, como o próprio Hamas, o Hezbollah e os Houthis do Iêmen.
Unidade contra o Irã
Enquanto Israel permanece em alerta máximo, autoridades israelenses sugeriram que uma retaliação imediata não está nos planos. O ministro centrista Benny Gantz indicou a intenção de construir uma coligação regional para lidar com a ameaça iraniana, enquanto o ministro da Defesa, Yoav Gallant, mencionou a oportunidade de formar uma aliança estratégica contra o Irã.
No entanto, o Irã advertiu Israel contra qualquer retaliação, com o major-general Mohammad Bagheri alertando sobre possíveis ataques às bases dos EUA se Washington ajudar Israel. Enquanto isso, autoridades iranianas afirmaram que o ataque ao território israelense foi uma medida de autodefesa e que os vizinhos regionais foram informados com antecedência.
A situação permanece tensa, com o mundo observando atentamente os desdobramentos e esperando uma solução que evite uma escalada ainda maior das hostilidades no Oriente Médio.
Essa mudança de cenário não apenas reflete a complexidade das relações internacionais na região, mas também levanta preocupações sobre o aumento das tensões e a escalada do conflito no Oriente Médio. O Irã emerge como uma força significativa na região, enquanto Israel busca reforçar seus laços com os aliados ocidentais para enfrentar novos desafios e ameaças.
(por Cezar Xavier)