Atriz judia Miriam Margolyes, destaque na série Harry Potter, condena matança em Gaza | Foto: Reprodução

Artistas e comunicadores da Austrália têm se pronunciado denunciando o genocídio de Israel contra os palestinos, afirmando que os crimes são acompanhados por um ataque contra a liberdade de expressão, com os opositores dos crimes de guerra sujeitos a calúnias, mentiras e intimidação por parte de lobistas sionistas, dos meios de comunicação social corporativos, de instituições oficiais e do governo. As vozes críticas nas artes têm sido um alvo particular, afirmaram.

Hugo Weaving, um dos atores mais famosos da Austrália, conhecido internacionalmente por seus papéis nos filmes Matrix e O Senhor dos Anéis, em declarações ao jornal Sydney Morning Herald alertou na sexta-feira (12) para um clima de medo, com as pessoas “intimidadas para que não falem” contra as atrocidades de Israel.

Figura importante na televisão, no cinema e no teatro há mais de trinta anos, recebedor de seis prêmios da Academia Australiana de Cinema e Televisão, ao apontar para o quadro de intimidação mais amplo que foi cultivado no país, Weaving referiu-se especificamente à experiência de seu filho, o jovem ator Harry Greenwood, que foi vítima de um ataque brutal junto com dois outros atores porque vestiram o lenço palestino, keffiyeh, durante a chamada ao palco de uma produção da Companhia de Teatro de Sidney (Sydney Theatre Company), STC, da peça As Gaivotas, de Anton Chekhov, em 25 de novembro.

“Aquele protesto muito silencioso, nem foi notado na noite de estréia. Realmente, não foi. Eu estava lá. Não notei o keffiyeh. Foi o fato de terem sido atacados na manhã seguinte no jornal nacional [o australiano] e de aqueles três atores serem chamados de atores sem valor, inexperientes, quando dois deles interpretavam papéis principais. Eles foram difamados e chamados de anti-semitas, e foram convidados a renunciar. Isso é deliberadamente desagregador e é terrível. O clamor foi terrível”, assinalou Weaving.

Os meios predominantes de comunicação australianose outros meios corporativos lamentavelmente apresentaram o uso de lenços palestinos como equivalente a uma declaração de apoio ao terrorismo. Apoiadores de alto nível de Israel alegaram que os keffiyehs estavam “desencadeando terror” e os fizeram sentir “inseguros”. Dois membros do conselho do STC renunciaram e a apresentação foi cancelada.

Os atores frisaram que a campanha não foi apenas absurda, mas também completamente racista, denunciando as medidas que defendem que roupas associadas aos palestinos deveriam ser proibidas, numa espécie de extinção cultural que acompanha a tentativa de extinção física do povo de Gaza por parte de Israel. A exigência de inclusão numa lista negra de uma peça de vestuário associada a qualquer outro grupo étnico ou religioso teria sido denunciada como a pior xenofobia, mas não neste caso, ressaltaram.

Weaving observou: “Eu acho que não houve comentários suficientes do STC. Acho que o problema em nosso país é que somos todos intimidados a não falar abertamente. E esse é o problema que tenho. Acho que isso se aplica aos mais altos escalões do poder em nosso país e nos EUA.”

Weaving esteve na Irlanda nos últimos meses, atuando em uma peça intitulada The President. “É interessante estar na Irlanda; eles são muito mais sensatos ao falar sobre Gaza e a Palestina, muito mais sensatos”, disse. “É ótimo ouvir tantos artistas e advogados judeus incrivelmente inteligentes se levantando e falando sobre as várias coisas que Harry estava tentando destacar, muito baixinho”, assinalou.

 “Reconhecemos que há coisas que poderíamos ter feito melhor”, declarou a presidente do STC, Ann Johnson ao Herald. “Sabemos que alguns dos nossos doadores sentiram que não fizemos o suficiente e sabemos que alguns dos nossos artistas também sentiram que não fizemos o suficiente. Continuamos a ouvir e aprender e estamos empenhados em encontrar um caminho positivo a seguir”, disse, sem apontar nenhuma medida concreta.

OS JUDEUS DEVEM EXIGIR O CESSAR-FOGO

Em outro exemplo recente, a atriz anglo-australiana Miriam Margolyes, de 83 anos, que atuou em vários dos filmes da série de Harry Potter, condenou veementemente os crimes de guerra de Israel.

Num vídeo nas redes sociais, Margolyes, que é judia, afirmou: “Nunca tive tanta vergonha de Israel como tenho neste momento. Para mim parece que Hitler venceu. Netanyahu transformou nós, judeus, de sermos compassivos e atenciosos e de não fazermos aos outros o que você gostaria que fizessem a vocês, para esta nação cruel, genocida e nacionalista, que persegue e mata mulheres e crianças”.

 “Em nome da humanidade, apelo a todos os judeus para exigirem, implorarem, gritarem por um cessar-fogo. Não é antissemita ter agora uma opinião diferente sobre as ações durante a guerra. Temos que fazer agora como minha mãe que costumava defender ‘a coisa certa’. A coisa certa é um cessar-fogo para parar a matança”.

O vídeo alcançou 2,4 milhões de pessoas no X/Twitter, onde foi curtido milhares de vezes. Foi divulgado pelo Conselho Judaico da Austrália, formado no início deste ano, para fornecer representação ao crescente número de judeus que se opõem aos crimes de guerra israelenses.

Fonte: Papiro